quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Falácias


O termo “falácia” aplica-se preferencialmente em contextos argumentativos. E é um assunto que tem merecido estudo aprofundado por filósofos, sobretudo aqueles que se dedicam especialmente à área da Lógica. E são estes autores que se referem à violação de regras quando explicam em que consiste uma determinada falácia, que geralmente tem um nome próprio.

Um dos nossos erros mais comuns é tirar conclusões a partir de dados insuficientes. Se o primeiro político profissional for encontrado a roubar, criamos a expectativa de que todos os políticos são corruptos. Esta é a falácia da generalização a partir de informação incompleta. Para além de ser uma das falácias mais frequente e mais fácil de cometer, acresce a sua peculiaridade de ser mais fácil de detetarmos quando são os outros a fazê-lo, do que quando somos nós.

Outra falácia comum consiste em ignorar alternativas. Há muito mais explicações alternativas para um acontecimento do que julgamos. O facto de dois acontecimentos estarem correlacionados não significa que um foi a causa do outro, ou vice-versa. Não nos devemos precipitar, e aceitar a primeira explicação que nos ocorre como causa. Em geral há muito mais explicações.

Post hoc ergo propter hoc - O nome em Latim significa: “depois disso, logo, por causa disso”. Isto descreve a falácia. Um autor comete a falácia quando pressupõe que, por uma coisa se seguir a outra, então aquela teve de ser causada por esta.

Petição de princípio (petitio principii) - A verdade da conclusão é pressuposta pelas premissas. Muitas vezes, a conclusão é apenas reafirmada nas premissas de uma forma ligeiramente diferente. Nos casos mais subtis, a premissa é uma consequência da conclusão: Sabemos que Deus existe, porque a Bíblia o diz. E o que a Bíblia diz deve ser verdadeiro, dado que foi escrita por Deus e Deus não mente. (Neste caso teríamos de concordar primeiro que Deus existe para aceitarmos que ele escreveu a Bíblia.)

Erro mereológico: Este tipo de falácia ocorre porque o autor pressupõe erroneamente que as partes e o todo devem ter propriedades semelhantes. No entanto, as coisas podem ter, como um todo, propriedades diferentes das que cada uma tinha em separado. 
Por as partes de um todo terem uma certa propriedade, argumenta-se que o todo tem essa mesma propriedade. Esse todo pode ser tanto um objecto composto de diferentes partes, como uma colecção ou conjunto de membros individuais:
Os neurónios não têm consciência. Portanto, o cérebro, que é feito de neurónios, não tem consciência. Logo, nós não temos consciência.

Falácias da explicação
Uma explicação é uma forma de raciocínio que tenta dar resposta à pergunta “Porquê?” Por exemplo: é com uma explicação que respondemos a uma pergunta como “Por que é que o céu é azul?” Uma boa explicação será baseada numa teoria científica ou empírica. Uma explicação pretende dizer-nos por que razão acontece certo fenómeno. A explicação é falaciosa se o fenómeno não ocorre ou se não houver prova de que possa ocorrer. A teoria que foi concebida para explicar a ocorrência de algum fenómeno não pode ser testada. Testamos uma teoria por meio das suas previsões. Por exemplo, uma teoria pode prever que a luz muda de trajectória em certas condições, ou que um líquido muda de cor com o ácido. Se o evento previsto não ocorrer, então a informação obtida contradiz a teoria. Uma teoria não pode ser testada se não faz previsões. Também não pode ser testada se prevê acontecimentos que podem ocorrer independentemente de a teoria ser verdadeira. Um avião desapareceu no meio do Atlântico devido ao efeito do Triângulo das Bermudas, uma força tão subtil que não pode ser medida por qualquer instrumento. (À “força” do Triângulo das Bermudas não se atribui mais nenhum efeito além do desaparecimento ocasional de um avião. Por isso, a única previsão que permite é que mais aviões se irão perder. Mas isto é o que pode muito bem acontecer independentemente de a teoria ser verdadeira ou falsa.

Usamos definições para tornar os nossos conceitos mais claros. O propósito da definição é enunciar com exactidão o significado de uma palavra. Uma boa definição deve permitir que o leitor a aplique a casos concretos sem ajuda exterior. Por exemplo, suponhamos que queremos definir a palavra “maçã”. Se a definição for bem-sucedida, então o leitor deve poder aplicá-la a cada maçã que existe e só a maçãs. Se o leitor falhar algumas maçãs ou incluir outros objectos (como pêras) ou não puder dizer se algo é maçã ou não, então a definição falha. As definições não são argumentos. Por isso, não se pode, com rigor, falar de “Falácias da Definição”. Mas as definições incorrectas, por vezes tendenciosas, são muitas vezes incluídas em argumentos tornando-os falaciosos. A definição inclui o termo definido como parte da definição. Uma definição circular é um caso especial da falta de clareza. 

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