segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Epistemologia da perceção do mundo exterior


Qual é exatamente a diferença entre o que penso ver e o que está de facto à minha frente? Poderei alguma vez ter a certeza acerca do que existe no mundo exterior? Estas são algumas questões que podemos levantar no âmbito da epistemologia da percepção. No nosso dia a dia, que não há tempo para filosofar, não temos dúvidas quanto à coerência dos nossos sentidos: o que vemos à nossa frente é o que está lá. Este é o realismo de senso comum.

Mas filosofar é outra coisa, porque com argumentos lógicos facilmente nos apercebemos que não podemos ter certezas depois de termos descoberto que os sentidos nos enganam em várias situações. Sabemos isso pelos sonhos, ou quando temos ilusões, alucinações, ou miragens.

Uma outra forma de realismo é o realismo representativo, em que estamos convencidos que aquilo a que temos acesso direto ou imediato, não são as coisas em si propriamente ditas, mas a sua representação nos nossos cérebros. O idealismo é uma posição filosófica que evita algumas das dificuldades que se levantam ao realismo representativo. Porque o realismo representativo fala em imagens mentais, ou mesmo num filme a correr dentro da nossa cabeça. Mas tem dificuldade em explicar como é que se formam essas imagens, com que conteúdos, e em que formatos. O que os idealistas defendem é que não existe justificação para afirmar que o mundo exterior existe realmente, uma vez que o mundo exterior para nós é incognoscível. Então, se o que eles dizem é o que querem mesmo dizer, então o que lhes podemos dizer é que isso é um absurdo. Porque a consequência dessa ideia é, para os idealistas, os objetos só existirem enquanto estiverem a ser percecionados.

O bispo Berkeley (1685-1753) é sempre citado como o mais famoso idealista, e Samuel Johnson (1709-1784) o seu grande crítico, que pensou tê-lo refutado quando deu um forte pontapé numa grande pedra, declarando: "refuto-o assim".

Na mesma linha do idealismo, a teoria da perceção baseada na ideia de que só temos acesso direto à nossa experiência sensorial e não ao mundo exterior, há uma outra corrente de pensamento conhecida por fenomenismo. Mas difere do idealismo na explicação dos objetos físicos. Os fenomenistas acreditam que todas as descrições dos objetos físicos podem ser traduzidas em termos de descrições de experiências sensoriais efetivas ou hipotéticas. Enquanto o idealista defende que os objetos deixam de existir quando não os estamos a observar, o fenomenista acredita que estes objetos continuam a existir. Tanto o idealismo como o fenomenismo acabam por cair naquilo que é classificado por solipsismo. Isto significa que apenas podemos conhecer a nossa representação. E como tal, não podemos saber se a representação dos outros é igual à nossa.

Até hoje, o realismo causal é a posição que se tem revelado mais satisfatória. O realismo causal defende que recolhemos do mundo exterior informação, que não tem que passar rigorosamente por representações mentais de qualquer tipo. O realismo causal pressupõe um mundo real que existe independente de as pessoas o estarem a percecionar ou não. Isto é conhecido como um pressuposto metafísico, porque está de acordo com as nossas intuições mais básicas, que são aquelas que se têm revelado as mais eficazes para enfrentarmos o mundo nas atividades da nossa vida quotidiana.


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