Em 1948 apaixonou-se pelo pintor polaco David Tasma, que estava a morrer de cancro. Tasma deixou-lhe em testamento dois mil dólares para a criação de um centro de cuidados paliativos. Cicely Saunders estudou medicina mais tarde, aos 39 anos, porque queria descobrir a melhor maneira de controlar a dor terminal. Licenciou-se em 1957 e investigou o controlo da dor no St. Joseph Hospice, em Londres, onde se prestavam cuidados de enfermagem a doentes em fase terminal.
Em 1967, finalmente é inaugurado o St. Christopher’s Hospice, em Londres, que cumpre o projeto a que se havia devotado com a herança de Tasma. O seu trabalho assentava em três pilares contra a dor: física, emocional e moral. Sendo uma mulher profundamente religiosa, é natural que não aceitasse a eutanásia.
Ainda voltou a casar, em 1980, com o artista Marian Bohusz-Szyszko. Outra experiência pungente, dado que Marian foi acometido por uma doença prolongada. Esteve muito tempo internando no St. Christopher’s, onde acabou os seus dias em 1995. Cicely Saunders também esteve internada no St. Christopher’s, onde morreu com 87 anos de idade.
O aumento da esperança de vida durante o século XX levou a uma atitude de negação em relação aos processos naturais do envelhecimento e da morte. Os avanços em medicina criaram a falsa expectativa da cura para tudo. Não podemos negar as grandes conquistas civilizacionais contra as doenças infeciosas, e mais algumas, mas poucas. Mas tal deve-se não apenas à medicina. Deve-se ao maior conhecimento científico em geral, e a melhores condições de vida que passa pela alimentação e infraestruturas ligadas à habitação. Mas como não há almoços grátis, conquistas civilizacionais também proporcionaram o surgimento de outros males, sobretudo ao que hoje se classifica por doenças crónicas, doenças da abundância onde se incluem os acidentes, e obviamente o famigerado cancro.
Por conseguinte, ainda há muito mal de saúde para o qual não dispomos de cura na velha aceção da palavra. Por isso, quando falamos de cuidados paliativos, pressupõe-se que já está posta de parte qualquer hipótese de cura. O controlo da dor no seu sentido mais abrangente - físico, psíquico e moral - é o objetivo principal dos cuidados paliativos. E é confortar e sossegar. Que passa também pelos familiares e amigos.
Como a falta de cuidados paliativos pode levar alguns doentes terminais a optar pela eutanásia, ou suicídio assistido, é bom que estejamos cientes da razão por que poderá ser exagerado o número de pedidos de ajuda de alguém em penoso sofrimento, geralmente a um médico, para que lhe ponha termo à vida. É pois necessário que primeiro: sejam envidados todos os esforços para que cada doente terminal tenha acesso a cuidados paliativos; segundo: que não se esconda ao doente tudo o que sabemos acerca do seu estado. Embora, o diagnóstico e demais esclarecimentos acerca do seu estado de saúde, devam ser dados gradualmente e com grande sensibilidade afetiva.
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