quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

As armadilhas da amígdala cerebral



O corpo amigdalino do cérebro é um conjunto de núcleos neuronais, uma amígdala de cada lado por baixo dos lobos temporais. Faz parte co complexo sistema límbico e o seu papel principal é processar as reações emocionais.

De um modo geral nós não temos qualquer controlo consciente da função das várias regiões do cérebro, mas a amígdala então seria impossível, porque a função da amígdala consiste em iniciar rapidamente respostas para nos proteger face a perigos súbitos. E esta atividade é do foro do inconsciente, isto é, mais rápida a atuar do que a nossa perceção consciente dos acontecimentos. Só depois de tomarmos consciência da situação, ou se o estímulo se mantiver durante u certo tempo, então o nosso comportamento tende a ficar sob o domínio dos processos do pensamento mais elevados, mediados pelo córtex.

Os tipos de resposta fornecidos pela amígdala são inatos, inscritos nos circuitos por memória da espécie. E é por isso que podem ser rápidos, porque são automáticos, executados de forma semelhante em todos os membros da espécie. Agora, para as decisões deliberadas, que podem levar alguns segundos a serem executadas, em comparação com os milissegundos da amígdala, já são outros circuitos que entram em ação. A amígdala poderá ainda influenciar ou modelar indiretamente as respostas mais complexas, mas no final é a parte do córtex que toma conta das situações.

Ora, como a amígdala controla o comportamento emocional de uma forma inconsciente, no limite uma pessoa pode cometer um crime sem que no ato de o cometer tenha tido consciência disso. A consciência ocupa-se do caso algum tempo mais tarde que varia muito de caso para caso. É claramente possível à amígdala controlar, em certas circunstâncias de forte tensão emocional, ou de grande perigo, de forma que o indivíduo pode executar um ato agressivo independente do controlo consciente. Ato esse que a pessoa consciente jamais perpetraria intencionalmente. Infelizmente os crimes passionais inscrevem-se neste tipo de atos em que é a amígdala a responsável. E esta possibilidade não escapou aos advogados, quando vão defender uma pessoa que até aí foi sempre uma pessoa balançada, respeitadora das leis d da boa conduta cívica, mas que durante um curto momento de irracionalidade, ou insanidade, comete um crime. Portanto, o advogado pode argumentar invocando a amígdala em defesa do seu constituinte.

É incontornável a modificação que se verifica na forma como olhamos para certos atos criminosos praticados por pessoas de que não estávamos à espera, isto é, por pessoas que não têm nada a ver com “serial killer”, à medida que vamos conhecendo cada vez mais como funciona o nosso cérebro por trás dos nossos comportamentos aberrantes. Provavelmente irá acontecer com mais frequência a convocação de neurologistas, ou neurocientistas, aos tribunais para dissiparem eventuais dívidas que possam ocorrer nos julgamentos de casos de crime passional.

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