sábado, 17 de outubro de 2020

A ironia do poder quando “podemos”


“No momento em que nos parecermos minimamente com a casta que detém o poder, teremos desaparecido”
 
Dizia, em 2014, Pablo Iglesias [Secretário Geral do Podemos desde 15 de novembro de 2014; Vice-presidente do Governo de Espanha desde 13 de janeiro de 2020]. E criticava os políticos que viviam em chalés, não sabendo o que é apanhar um transporte público, ou ir fazer compras ao supermercado.

Presentemente Pablo Iglesias, casado com Irene Montero [Ministra da Igualdade no Governo de Espanha], vive numa moradia de 270 m2, com uma parcela de terreno de 2000 m2, em Galapagar, numa zona campestre situada a 45 quilómetros de Madrid. Foi adquirida em 2017, estando a propriedade avaliada em 700 mil euros. Subscreveram uma hipoteca a 30 anos, pela qual pagam 1750 euros mensais.

Esta mudança radical de vida tem provocado grande incómodo a muitos militantes do Unidas Podemos, dado o radical contraste entre o estilo de vida praticado e a retórica dos valores que o líder do partido tanto propagandeava, cuja liderança é exercida com mão de ferro e fogo. Pablo Iglesias chegou a ver-se obrigado a referendar a compra da sua casa através de um referendo telemático entre os militantes do Unidas Podemos. Conseguiu obter apoio nessa consulta, mas um terço dos militantes afastaram-se, indo pregar para outro lado.

Uma recente decisão do juiz que instrui o processo do caso Dina, um assunto intrincado em que Pablo Iglésias está envolvido, pedindo que o Supremo Tribunal investigue Pablo Iglesias como presumível autor dos delitos de exposição e revelação de segredos, danos informáticos, falsa denúncia e simulação de delito, põe a descoberto a cortina de fumo que a sua posição institucional no Governo de Espanha serve para ocultar os seus problemas judiciais. Se o Supremo vier a considerar fundadas as suspeitas do juiz, terá de solicitar ao Congresso a correspondente rogatória para poder imputar formalmente o atual vice-presidente do Governo.

O Tribunal de Contas constatou anomalias na contabilidade das eleições de 2019 e assegura que lhe apresentaram contas de despesas superiores a 400 mil euros sem a correspondente justificação. Há suspeitas sobre um possível financiamento irregular do Unidas Podemos. Obscuras contratações feitas através de uma consultora latino-americana, muito utilizada por regimes autoritários como os da Venezuela de Nicolás Maduro e da Bolívia de Evo Morales, para trabalhos de apoio e de assessoria. Nesta empresa, que é acusada de faturar ao Unidas Podemos elevadas quantias por trabalhos não realizados, aparece envolvida uma outra entidade de consultoria sediada em Portugal, que por sua vez é propriedade de uma empresa brasileira. 



O casal [Pablo Iglésias e Irene Montero] na sua casa de campo
em Galapagar, a 45 Km de Madrid

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