quarta-feira, 28 de outubro de 2020

As Tês Faces de Eva



Foi o caso de Chris Costner Sizemore, tratada por dois psiquiatras – Corbett H. Thigpen e Hervey M. Cleckley – os quais verteram a história clínica publicada em livro, 1954, e que posteriormente deu origem a um filme, 1957, passado no cinema da época com as três personalidades diferentes: Eva White; Eva Black; e Jane – que foi representada pela atriz Joanne Woodward, tendo ganhado o óscar de melhor atriz. Os psiquiatras também participaram no roteiro do filme. Com o diagnóstico de Perturbação Dissociativa de Identidade, a pessoa real - Chris Costner Sizemore - só veio a ser revelada ao público em 1977. 



  • Eva White - Formal, reservada, tímida, reprimida, compulsiva, não sabia da existência de Eva Black nem de Jane. É uma esposa e mãe tímida e discreta, que sofre de enxaquecas, e apagões de memória ocasionais. Numa consulta com um psiquiatra, e enquanto conversam, uma "nova personalidade", emerge – Eva Black. 
  • Eva Black - Instável, irresponsável, estúpida, histérica, fútil, sabia da existência de Eva White, mas não tinha consciência de Jane. Sabe tudo sobre Eva White, mas Eva White não tem conhecimento algum de Eva Black e Jane.
  • Jane - Audaciosa, madura, interessante, habilidosa, compassiva. Quando despertou, ela sabia da existência das outras Evas
De repente, sem motivo algum, Eva White desatou a comprar roupas extravagantes e caras demais para as suas posses. Mas depois perdia a memória desses episódios, como o local e o momento das compras. Depois de ser levada aos psiquiatras, e à medida que ia sendo interrogada sobre esses factos, o seu comportamento começava a mudar. Apresentava certa confusão mental, que se acompanhava de alterações da expressão facial e verbal. Em vários momentos quem estava presente era Eva Black. Nessas situações os olhos flamejavam, em simultâneo com um sorriso sedutor e provocador. Falava animadamente, fumava, tudo diferente de Eva White.



A maior parte do filme mostra o psiquiatra às voltas com o diagnóstico clínico na tentativa de melhor saber lidar com essas duas faces de EvaUtilizando o teste de Rorschach - aquele teste em que a paciente descreve as coisas que vê nos borrões de tinta, revelando os aspetos inconscientes da personalidade - as diferenças entre Eva White e Eva Black ficaram ainda mais evidentes. Eva Black tinha uma tendência para a histeria, mas muito controladora e com grande capacidade adaptativa.  Enquanto Eva White se apresentava muito ansiosa e constrangida, traços obsessivo/compulsivos. Era incapaz de lidar com a sua própria agressividade.

Sob hipnose, numa sessão, revela-se uma terceira personalidade, Jane. O psiquiatra finalmente faz com que Eva se lembre de um evento traumático da sua infância. Quando ela tinha seis anos, aquando do funeral da sua avó, segundo uma tradição da família, os parentes deveriam beijar a pessoa morta no velório, para melhor assimilarem a despedida. Ora ali estava a pista do trauma da fragmentação da sua personalidade em três personagens completamente distintas. 



Eva Black, quando tenta matar Bonnie, a filha de Eva White, em consequência disso, é submetida a um internamento hospitalar psiquiátrico. quando teve alta do hospital o marido disse-lhe que tinha de ir trabalhar noutro Estado. Bonnie vai viver para casa dos pais de Eva White, e ela vai passar esses dias num hotel. Quando o marido regressa, diz-lhe que não acredita que ela sofra do tal Distúrbio de Personalidade Múltipla, que era como se chamava na altura à hoje chamada Perturbação Dissociativa de Identidade. Ele tenta levá-la de volta para casa, mas ela teme que Eva Black também volte, e recusa-se a ir. E, de facto, o stress da situação faz com que Eva Black volte. O marido percebe então que Eva Black é real. Eva Black sai para se divertir, acabando por se envolver com outro homem, inclusive indo "dançar" com ele. Ao retornar ao hotel confronta-se com o divórcio apresentado pelo marido. 



Assim, quando estava numa sessão de psicoterapia hipnótica, Jane foi aflorando gradualmente,  conseguindo finalmente lembrar-se de tudo o que acontecera. Já fora do transe hipnótico, quando o psiquiatra tentou falar com Eva White, eles descobrem que Eva White e Eva Black já não existem. Agora só existia Jane, todas as três personalidades se haviam fundido numa só - Jane. Jane acaba por  casar-se com um homem que só a conhece da sua relação enquanto Jane. E volta a juntar-se à filha, Bonnie. 

Chris Costner Sizemore [1927-2016] escreveu longamente sobre as suas experiências. Em seu livro de 1958 - "The Final Face of Eve", ela usou o pseudónimo Evelyn Lancaster. Em seu livro de 1977 - "I'm Eve", 
Chris Costner Sizemore revela finalmente a sua verdadeira identidade. Em 1989 escreve o terceiro livro, em continuação dos anteriores, com o título: "A Mind of My Own"


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