quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Cada vez mais altruístas em relação aos velhos




O Dia Internacional do Idoso é comemorado anualmente a 1 de outubro. Este dia foi instituído em 1991 pela ONU - Organização das Nações Unidas, e tem como objetivo sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e da necessidade de proteger e cuidar a população mais idosa. A mensagem do dia do idoso é passar mais carinho aos idosos, muitas vezes esquecidos pela sociedade e pela família.

Apesar dos contratempos, agora os combates por comida, ou pela posse das fêmeas, são raros. A alimentação vegetariana, os animais domésticos a crescerem na razão inversa das crianças, tirando um outro cachorro, abandonado na estrada, ofertado no último Natal, são a mostra de que cada vez há mais altruístas. Hoje é raro ver-se um cão atropelado nas estradas, ou juntarem-se matilhas de cães vadios nas planícies. Hoje existem partidos políticos amigos dos animais a demonstrar a existência de bondade, compaixão, fidelidade e altruísmo muito perto de nós no corpo de um cão. Muito mistério, portanto.

A luz acende-se quando se estuda a biografia dos altruístas. A maior parte dos altruístas é só da-boca-para-fora, ou em termos mais académicos – é mais retórica do que ação. É um meio cómodo de autojustificação da sua submissão à vontade do Senhor. Quanto à hipótese de um gene do altruísmo, uma deceção. Hoje-em-dia ninguém a subscreve. A única coisa que foi possível demonstrar foi a localização no córtex pré-frontal do centro da crueldade e do discernimento moral. E dos neurónios espelho como funcionários da empatia, logo, do altruísmo. As investigações não permitiram ir além desta observação puramente neurológica. As teorias de inspiração darwinista no aparecimento do altruísmo têm andado pelas ruas do descrédito. Múltiplos cálculos imprecisos e contraditórios.

Imaginemos agora uma manifestação, pelas ruas da cidade, de velhos com 70 anos de idade a reivindicar a idade da reforma aos 75. E isto depois de terem morrido em todo o país, só na semana anterior, 10.000 pessoas com mais de oitenta anos por covid-19. Umas tinham morrido sozinhas nos seus apartamentos. Outras no hospital ou em lares de idosos, mas todos, fosse como fosse, por falta de cuidados. Todos os canais informativos, quer audiovisual, quer por jornal em papel, mostraram uma série de reportagens atrozes, ilustradas por imagens dignas de campos de concentração, com os velhos amontoados uns ao lado dos outros em salas mais parecidas com hangares de aviação. Uns gemendo, outros nem tanto, sem que ninguém fosse ao menos estender-lhes um copo de água.

Os familiares em férias, não apareciam para levantar os cadáveres, que o pessoal de enfermagem os ia recolhendo regularmente e entregues aos maqueiros rumo às arcas frigoríficas da morgue do hospital. Não havia tempo a perder porque era preciso dar lugar a recém-chegados. “Cenas indignas de um país democrático em pleno primeiro quartel do século XXI”, escrevia o jornalista, sem se aperceber de que tudo o que estava a acontecer era justamente o retrato de um país moderno, tecnológico, em pleno boom das redes de informação digitais. Só um país autenticamente moderno era capaz de tratar os seus velhos como dejetos. O culto dos antepassados era uma tradição africana pré-histórica, mas só depois de mortos.

De tal modo as coisas eram como eram, que a enérgica indignação suscitada pelas imagens televisivas, apenas teve o fulgor de um dia, porque a eutanásia livremente consentida viria resolver o problema.

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