Na obra de Ohran Pamuk avulta o passado otomano como cenário dos seus livros, o que demonstra a popularidade que a temática otomana tem granjeado. Hoje existe um interesse bastante assinalável no passado otomano, tanto por parte do público como dos estudiosos: os monumentos da arquitetura otomana, agora restaurados, readquirem o seu esplendor; os artefactos otomanos são muito procurados pela classe média turca para a decoração das suas casas.
As fronteiras administrativas otomanas foram mais ou menos irrelevantes no processo de constituição de Estados árabes após a I Guerra Mundial. Contudo, nos Balcãs, as atuais fronteiras políticas correspondem às antigas delimitações administrativas das províncias otomanas. Porém, poucas foram as práticas administrativas, ou as estruturas, que se transferiram do Império Otomano para os seus substitutos nos Balcãs. Quase todas as classes administrativas muçulmanas puseram-se em fuga, ou foram escorraçadas, após a independência.
Os fluxos migratórios impostos pelo sistema imperial otomano obrigaram à movimentação dos povos dentro do império; os seus efeitos fazem sentir-se ainda hoje. Os Turcos da ilha de Chipre descendem dos povos que colonizaram a Anatólia no século XVI; os Circassianos, por sua vez, chegaram à Jordânia no século XIX. Os Sérvios e os Croatas partiram dos seus anteriores territórios rumo ao Norte, a fim de fugir aos invasores; ou emigraram mais tarde, quando tomaram o partido dos Habsburgo. Estes legados permanecem por toda a parte, apesar de a sua importância se estar a diluir mercê das migrações posteriores ao período da guerra fria.
Os revezes políticos otomanos ecoam até aos nossos dias. Primeiro, a incapacidade de afastar a Grã-Bretanha do golfo Pérsico. De modo idêntico, os Otomanos tentaram, em vão, impedir que os judeus imigrassem para a Palestina e dessem ao sionismo um ponto de apoio demográfico nesse local; esse acontecimento ainda tem ressonâncias no presente. Tal como é sabido, também as hostilidades crónicas entre Gregos e Turcos decorrem, em linha direta, da libertação dos povos gregos subjugados.
A Palestina, a Síria e o Egito foram conquistadas pelo Império Otomano durante o reinado do sultão Selim I [1512-1520]. E continuaria sob administração deste império até ao mandato britânico depois da Primeira Guerra Mundial. O período de dominação otomana correspondeu, de uma forma geral, a uma era de decadência económica e cultural da Palestina. Antes do Império Otomano a Palestina, desde que havia passado para as mãos árabes de 636 a 640, nunca mais esteve em paz se nos recordarmos dos tempos das Cruzadas. Mas nos tempos árabes, a Palestina (Filastin) era a região a sul do planalto de Esdraelon, que a partir de 716 teve como capital Ramallah. A Galileia e Acre ficou sob a administração de Al-Urdunn, que corresponde ao que hoje é a Jordânia.
O Império Otomano, nos primeiros anos do século XVIII, recebeu a primeira grande revolta popular na Palestina. O governador de Damasco, Maomé Paxá Curde Bairam (1701-1703) iniciou uma política de reorganização da província que administrava, tendo procedido ao aumento dos impostos em Nablus, Jerusalém e Gaza. Esta última medida levou a protestos da população beduína e camponesa. Em 1831, a Palestina foi ocupada por Mehmet Ali, vice-rei otomano do Egito, que junto com o seu filho Ibrahim procurou modernizar a região. Entre as medidas reformistas, destaca-se a abolição de certos impostos e as restrições que pesavam sobre cristãos e judeus (dhimmi). A política de centralização levada a cabo pelos egípcios provocou a queda da influência dos notáveis locais, que obviamente se ressentiram. Em 1839, no tempo do sultão Abdulmecide II, o Império Otomano levou a cabo uma série de reformas administrativas que ficou conhecido pela designação de "Tanzimat". Por exemplo, Beirute substituiu Acre como capital da província de Sídon. Jerusalém adquire uma maior importância a partir de 1840, quando os sanjacos de Gaza e Jafa foram incluídas no sanjaco (subdivisão administrativa) de Jerusalém; dois anos depois, o sanjaco de Nablus foi incluída no sanjaco de Jerusalém.
O sionismo foi um movimento político surgido no século XIX que defendeu o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado judaico no território onde historicamente existiram os antigos reinos de Israel e Judá. Dá-se que o sionismo desenvolveu-se num período histórico marcado pelas ideologias nacionalistas, bem como pelo crescimento do antissemitismo. Theodor Herzl notabilizou-se como uma das figuras mais importantes do movimento sionista. Era um intelectual judeu austro-húngaro que, marcado pelo caso Dreyfus, publica em 1896 - Der Judenstaat (O Estado Judeu) - na qual propõe a criação de um Estado para os judeus. O sionismo adquiriu um aspecto institucional em 1897, ano em que teve lugar, em Basileia o primeiro congresso sionista, do qual resultou a formação da Organização Mundial Sionista. Foi ainda neste congresso que se confirmou a opção da Palestina como local de fundação do estado judaico. Entretanto, os primeiros imigrantes judeus, ligados ao movimento russo Bilu, já tinham chegado à Palestina em 1882, onde fundaram colónias.A colonização judaica da Palestina deu-se a princípio pacificamente, mas foi vista com apreensão pela população nativa, dado o grande número de estrangeiros que chegava à região, e devido a ideologia predominante entre os árabes a favor da criação de uma "Grande Síria", correspondendo às regiões que hoje são os estados da Síria, Líbano, Israel, Jordânia e as regiões da "Faixa de Gaza" e Cisjordânia. Com a intensificação da migração de judeus para a Palestina houve uma escalada de violência na região, com a formação de grupos paramilitares judeus e palestinos. Em 1948, com a Declaração de Independência do Estado de Israel, principia o "conflito israeloárabe". Os episódios nacionalistas retiraram à multiplicidade étnica e religiosa o seu lugar na evolução histórica que vinha evoluindo enquanto Império Otomano.
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