quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Edmund Husserl





A grande criação de Husserl foi a fenomenologia. Para a fenomenologia o que conta é o aparecimento das coisas à consciência, que depois lhes dá sentido. Descrição, rigor, intuição, evidência – são palavras chave na fenomenologia de Husserl. Tal rigor é um rigor de descrição das aparências, não um rigor de explicação, como aquele que as ciências naturais podem pretender atingir. A finalidade é pensar sobre a objetividade do pensamento humano — a «ciência» — tanto quanto este é expresso publicamente por meio da linguagem.

Em fenomenologia, analisar o pensamento não é, não deve ser, segundo Husserl, fazer psicologia empírica, mas sim fazer uma teoria da significação, saber a que corresponde tal prática. Pretende ser uma ciência da experiência da consciência que lida não com objetos, os atos da consciência em que as coisas se dão ou são experienciadas. É fenómeno o que aparece, sem ter de dizer. É a coisa mesma, ela própria, que aparece à consciência, e não uma representação. A doação originária da coisa é o sentido da consciência. Não que seja a consciência a fazer o mundo existir. Mas a consciência é o começo. O dar-se do mundo é o fundamento da fenomenologia.

A ideia de Husserl parece ser que as coisas elas próprias se dão à consciência e podem ser analisadas na consciência. Fenómeno e sentido são, assim, indissociáveis na fenomenologia. Não é como Kant, não se postula um em-si transcendente, além do fenómeno ou aparecimento. Também não se supõe uma síntese totalizadora racionalista como tinha postulado Hegel. Ao contrário de Kant, com a descrição rigorosa das aparências, Husserl afirma pretender um regresso às coisas mesmas, às coisas tal como estão presentes na consciência. Para Husserl, a consciência é um campo que é sempre acerca de qualquer coisa. Para Husserl não há consciência vazia. O mundo só é mundo dentro do campo da consciência. O conceito de preenchimento é um conceito fundamental da fenomenologia. Não há um vazio, mas uma coexistência em que de forma contínua se ajustam intuição e significação. Compreender a significação passa, por exemplo, de forma crucial, por compreender o que é expressão. Nem todos os sinais exprimem; alguns apenas indicam. Quando há expressão, há a considerar a faceta física e as vivências psíquicas.

Edmund Husserl nasce em 1859, na Morávia, atual Chéquia, então parte do Império dos Habsburgos. Estuda Matemática em Leipzig e Berlim. Doutora-se em Matemática em Viena, em 1883. Entre 1884 e 1886, frequenta os cursos de Filosofia do filósofo e psicólogo alemão Franz Brentano. Com a sua reintrodução do tema da 'intencionalidade', em conjunto com preocupações ontológicas, Brentano terá uma influência decisiva e duradoura no pensamento de Husserl. Exatamente como Brentano, Husserl sente muito pouca simpatia para com as obscuridades «místicas» da filosofia idealista então dominante na Alemanha. Por recomendação de Brentano, trabalha com Carl Stumpf na sua tese de Habilitation (sobre o conceito de número), que conclui em 1887. No mesmo ano, começa a trabalhar como Privatdozent em Halle, ensinando matemática. O seu primeiro livro (de 1891, sobre filosofia da aritmética) desperta a atenção de Frege e provoca uma reação deste: Frege retrata-o de psicologismo. Husserl discorda de Frege e reage. Ou talvez por influência de autores como Hermann Lotze, Bernard Bolzano e Kazimierz Twardowski. E então dedica-se a fundo na sua grande obra e substancial: Investigações Lógicas (1900–1901). Husserl avança uma influentíssima crítica ao psicologismo e a uma filosofia realista da lógica.

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