Aquilo que pode ser dito pode ser dito claramente; acerca do que não podemos falar devemos calar. É assim que o Tratado termina com a Proposição 7, e última. Uma injunção ao silêncio. Isto quer dizer, entre outras coisas, que algumas não podem ser ditas, mas apenas mostradas. O mesmo acontece com a lógica, ela própria, como forma da representação. Não pode representar-se a si própria representando. Apenas pode mostrar-se.
Pensar é pensar sobre aquilo que acontece, sobre o conjunto dos factos. Como é isso possível? Responde com a chamada conceção pictórica da linguagem: nós fazemos para nós próprios, pela linguagem lógica, e linguagem comum, imagens ou modelos dos factos. Pensar é isso. A palavra fundamental de Wittgenstein: 'Bild' - Proposição. Uma proposição que não é como um instantâneo de uma imagem fotográfica, ou como uma maqueta de arquiteto, ou como uma imagem no espelho. Ela própria é mundo.
Wittgenstein ofereceu às irmãs a sua herança milionária e deixou a casa de família, o Palácio Wittgenstein em Viena, para ir ensinar crianças como professor primário em lugares perdidos da Áustria rural. Mas em 1926 desiste, e abandona a profissão de professor primário. Tem, contudo, ainda tempo de, com o amigo e arquiteto Paul Engelmann, discípulo do famoso arquiteto vienense Adolf Loos, desenhar uma casa para a irmã Margaret Stonborough-Wittgenstein (a mesma que foi retratada num célebre quadro do pintor Gustav Klimt).
Em 1929 volta a Cambridge para ocupar o lugar de um estranho professor, que em 1930 se torna fellow do Trinity College. Entre 1933 e 1935, dá cursos cujas notas darão origem a duas sebentas: O Livro Azul e O Livro Castanho, ambos publicados apenas postumamente. Trabalha em filosofia da matemática. Em 1935, dá um seminário sobre psicologia filosófica. Em 1938, dá conferências sobre estética, psicologia e religião (que foram publicadas postumamente). Em 1939, sucede a Moore, na cátedra. Em 1942–1943, envolve-se de novo no voluntariado da guerra (é porteiro num hospital, desta vez). Entre 1944 e 1947, ensina em Cambridge. Em 1949, está a trabalhar nas Investigações Filosóficas. Em 1951, acaba Da Certeza e morre nesse mesmo ano. Dos livros de leitura de Wittgenstein encontramos Espinosa, Tolstói, Schopenhauer, Kierkegaard , leituras que não deixaram de parecer muito estranhas aos olhos dos filósofos analíticos que lhe sucederam.
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