quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Ludwig Wittgenstein





A obra filosófica de Wittgenstein é em parte gerada pelos problemas ligados à análise lógica para compreender como a linguagem e o pensamento se relacionam com o mundo. Após a publicação do Tratado, Wittgenstein acha que não tem mais nada a dizer em filosofia. É o tempo do realismo metafísico do Tratado. O suposto antirrealismo vem depois com as Investigações Filosóficas. O Tratado é uma obra extremamente peculiar sobre lógica e filosofia da lógica. Contudo, não é apenas isso, nem sobretudo isso que preocupa Wittgenstein. Numa carta mais tardia dirigida ao discípulo e amigo americano Norman Malcolm, Wittgenstein pergunta: «Qual é o interesse de estudar filosofia se ela não capacita para falar dos assuntos importantes da vida, mas apenas de assuntos abstrusos da lógica?»

Aquilo que pode ser dito pode ser dito claramente; acerca do que não podemos falar devemos calar. É assim que o Tratado termina com a Proposição 7, e última. Uma injunção ao silêncio. Isto quer dizer, entre outras coisas, que algumas não podem ser ditas, mas apenas mostradas. O mesmo acontece com a lógica, ela própria, como forma da representação. Não pode representar-se a si própria representando. Apenas pode mostrar-se.

Pensar é pensar sobre aquilo que acontece, sobre o conjunto dos factos. Como é isso possível? Responde com a chamada conceção pictórica da linguagem: nós fazemos para nós próprios, pela linguagem lógica, e linguagem comum, imagens ou modelos dos factos. Pensar é isso. A palavra fundamental de Wittgenstein: 'Bild' - Proposição. Uma proposição que não é como um instantâneo de uma imagem fotográfica, ou como uma maqueta de arquiteto, ou como uma imagem no espelho. Ela própria é mundo.

Wittgenstein ofereceu às irmãs a sua herança milionária e deixou a casa de família, o Palácio Wittgenstein em Viena, para ir ensinar crianças como professor primário em lugares perdidos da Áustria rural. Mas em 1926 desiste, e abandona a profissão de professor primário. Tem, contudo, ainda tempo de, com o amigo e arquiteto Paul Engelmann, discípulo do famoso arquiteto vienense Adolf Loos, desenhar uma casa para a irmã Margaret Stonborough-Wittgenstein (a mesma que foi retratada num célebre quadro do pintor Gustav Klimt).

Em 1929 volta a Cambridge para ocupar o lugar de um estranho professor, que em 1930 se torna fellow do Trinity College. Entre 1933 e 1935, dá cursos cujas notas darão origem a duas sebentas: O Livro Azul e O Livro Castanho, ambos publicados apenas postumamente. Trabalha em filosofia da matemática. Em 1935, dá um seminário sobre psicologia filosófica. Em 1938, dá conferências sobre estética, psicologia e religião (que foram publicadas postumamente). Em 1939, sucede a Moore, na cátedra. Em 1942–1943, envolve-se de novo no voluntariado da guerra (é porteiro num hospital, desta vez). Entre 1944 e 1947, ensina em Cambridge. Em 1949, está a trabalhar nas Investigações Filosóficas. Em 1951, acaba Da Certeza e morre nesse mesmo ano. Dos livros de leitura de Wittgenstein encontramos Espinosa, Tolstói, Schopenhauer, Kierkegaard , leituras que não deixaram de parecer muito estranhas aos olhos dos filósofos analíticos que lhe sucederam.


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