sábado, 14 de outubro de 2023

Ispaão - Império Safávida





Império Safávidaentre a Mesopotâmia e a Anatólia a Oeste, e um vasto interior tribal a Leste e a Sul, que se estendia até Herat e Kandahar, no atual Afeganistão - teve sempre grande dificuldade em consolidar uma autoridade num mundo sedentário sobre uma estepe de deserto. Ia recrutar tropas para o seu exército na Geórgia, uma região particularmente vulnerável à pressão otomana e russa. Politicamente, o sistema safávida era uma amálgama precária de uma aliança entre tribos turcomanas e literatos iranianos. Mas nunca ocorrera uma verdadeira fusão. Em 1700 esta coligação instável encontrava-se já sob crescente pressão interna e externa.

No início do século XVII o Império Safávida estendia-se da Geórgia ao Afeganistão no eixo Oeste-Leste; e do Mar Cáspio ao Golfo Pérsico no eixo Norte-Sul. Tal como na época seljúcida, é no tempo do Xá Abas I que a cidade de Ispaão se torna a capital e o centro geográfico, comercial e administrativo deste enorme território. A gestão do Império Safávida sob a chefia do Xá Abas I (1587-1629) era uma gestão centralizada num grande centro religioso xiita. Em Ispaão, no bairro de Julfa, era onde se tinham instalado uma comunidade arménia que controlava o comércio da seda. 

É só mais tarde, no tempo do sultão Hussein (1694-1722) que Ispaão começa a entrar numa decadência com redução do padrão de vida da cidade e do império. No século XVIII os afegãos liderados por Mamude Hotaqui derrotaram em 1722 os Safávidas na Batalha de Gulnabade. O assédio à cidade durou seis meses, durante o qual milhares de cidadãos de Ispaão morreram não apenas em batalha, mas também de fome e de doença.

Depois, no tempo da dinastia Cajar, a capital passou para a cidade de Teerão, que na segunda metade do século XIX chegou a perder essa posição para Tabriz. O período Cajar também é visto como um período decadente. Os impostos eram excessivos, e a cidade deixou de se desenvolver. Para além de terem de lutar contra os seus antigos inimigos – otomanos e uzbeques – os Safávidas durante o século XVII tiveram de lutar contra mais dois vizinhos em ascendência: a Rússia de Moscovo e o Império Mogol. No século XVII as rotas comerciais entre o Oriente e o Ocidente deslocaram-se para fora das terras iranianas. Em 1666 marca-se o início do fim da dinastia Safávida. Mas apesar disso, da queda das receitas e ameaças militares, os últimos xás não abdicaram da sua sumptuosidade. O xá Sultão Hussein, em particular, era conhecido pelo seu desinteresse na governação, e por uma vida dissoluta.




Os afegãos controlaram os territórios conquistados por doze anos. Foram contidos por Nadir Xá, um antigo escravo que tinha assumido a liderança militar dentro da tribo afexar no Khorasan, um Estado vassalo dos safávidas. Nadir Xá derrotou os afegãos na batalha de Dangã, em 1729 libertando-se dos afegãos em 1730. Em 1738, Nadir Xá reconquistou a Pérsia Oriental, começando por Kandahar; no mesmo ano ocupou Gázni, Cabul e Lahore, e prosseguiu em direção leste até chegar a Deli. Imediatamente após o assassinato de Nadir Xá, em 1747, os Safávidas foram renomeados como Xás do Irão, a fim de dar legitimidade à nascente dinastia Zande. No entanto, o breve regime fantoche de Ismail III terminou em 1760, quando Carim Cã sentiu-se suficientemente forte para assumir o controlo do país pondo oficialmente fim à dinastia Safávida.

O domínio sobre Khorasan, Herat e Kandahar nunca fora definitivo por parte dos Safávidas. Kandahar fora conquistada pelos Uzbeques em 1629, pelo Império Mogol em 1634, e recuperada pelo Xá Abas II em 1650. Em 1709-11 os Safávidas perderam-na novamente para os Ghilzai, a tribo dominante no Sul do Afeganistão. Em 1718-19, Herat e Khorasan voltaram a ser retiradas. Em 1722, o líder dos Ghilzai Mahmud esmagou o exército safávida em Gulnabad, conquistou Ispaão e apoderou-se do trono abandonado pelo Xá. Tanto os russos como os otomanos, que se guerreavam mutuamente, precipitaram-se para tirar partido do colapso do Império Safávida. Pedro, o Grande tomou Derbent, Resht e Baku, junto ao mar Cáspio. Em 1723 os otomanos tomaram TiflisHamadan, Erivan e Tabriz. Numa década, o legado imperial de Abbas I desintegrou-se num caos completo.

Nadir Kuli (1688-1747), um senhor da guerra de Khorasan de origens humildes, era um estratega cuidadoso, mas perito no uso de táticas de choque de cavalaria ligeira. Em 1730 já tinha reconquistado as cidades de Meshed e Herat, esmagando as tribos afegãs em Mehmandost. Recuperou Ispaão e Xiraz depois de ter infligido uma derrota devastadora aos Ghilzais. Em 1735 recuperou Tiflis e Erivan aos otomanos. E forçou os russos a abandonar Mazanderan, Astrabad, Gilan, Derbent e Baku. Em 1736 declarou-se . Em 1737 conquistou Kandahar e no ano seguinte conquistou Deli na posse do Império Mogol. Cabul e a margem direita do Indo foram anexados. Em 1740 Nadir voltou a sua atenção para os uzbeques em Bukhara e Khiva. Esta espantosa carreira foi prematuramente interrompida pelo assassinato em 1747.

Ahmad Xá Durrani sucede a Nadir Kuli, um dos seus tenentes afegãos. Construiu um legado a partir das conquistas indianas e afegãs de Nadir. No seu auge, o poder de Durrani estendia-se do Khorasan ao Ganges e do Amu-Darya ao mar de Omã. Mas entretanto aparecem os ingleses, perdendo Multan em 1818, Caxemira em1819, e Peshawar em 1834. E assim ficou acantonado nas terras altas do Afeganistão.

As brilhantes carreiras de Nadir Kuli e de Ahmad Xá Durrani coincidiram com o aumento expressivo do movimento comercial e económico no corredor entre o Norte da Índia e a Rússia. 
O Norte da Índia até à atual Karachi fazia parte de um sistema comercial revigorado pelo poder de compra da prata russa. Militarmente, tiravam proveito da antiga vantagem nómada da velocidade tática e mobilidade estratégica, adaptando as armas de fogo ao combate da cavalaria que no reinado de Nadir também foi a vantagem da artilharia e do poder naval. Foram construtores de Estados em busca de uma nova fórmula. Combinaram um estilo imperial com a disciplina feroz da política tribal. 

O projeto imperial fracassou talvez porque a sua base agrária fosse demasiado pequena para sustentar a sua dimensão; talvez por causa da instabilidade intrínseca das confederações tribais de que continuava a depender; talvez porque a pressão externa (sobretudo o avanço do poder britânico na Índia) não lhe tivesse deixado tempo suficiente para a transição vital para um governo mais sedentário. Apesar disso, ficou um legado: o Afeganistão. 


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