segunda-feira, 7 de abril de 2025

Haverá uma ideologia política que se possa considerar melhor do que outra em termos absolutos?



Não há uma ideologia política que se possa considerar objetivamente melhor do que outra em termos absolutos. Cada ideologia parte de pressupostos diferentes sobre a sociedade e o papel do Estado, e a sua eficácia depende do contexto histórico, económico e cultural em que é aplicada.

O que faz com que os eleitores oscilem entre mais liberalismo ou mais socialismo, em grande parte, são fatores conjunturais. Entre os principais fatores estão os ciclos económicos. Em tempos de crescimento económico, os eleitores tendem a preferir políticas liberais, que privilegiam o mercado e a redução do papel do Estado. Em tempos de crise, há uma maior inclinação para partidos socialistas que prometem proteção social e maior regulação.

Independentemente da ideologia, partidos que estão há muito tempo no poder acabam desgastados por escândalos, incompetência ou simplesmente pelo desejo de mudança. Novas gerações podem ter valores diferentes das anteriores. Por exemplo, uma geração que cresceu sob políticas de austeridade pode inclinar-se mais para o socialismo, enquanto outra, que experimentou um Estado muito intervencionista e burocrático, pode inclinar-se para o liberalismo. Guerras, pandemias, crises financeiras ou escândalos políticos podem mudar drasticamente a percepção pública sobre qual ideologia é mais adequada num dado momento. A forma como os partidos comunicam as suas propostas e a sua capacidade de mobilizar emoções e esperanças também influenciam muito as oscilações eleitorais. No fundo, a alternância política reflete o facto de que nenhuma ideologia tem soluções permanentes para os problemas de uma sociedade. O que funciona num determinado período pode não funcionar noutro, levando os eleitores a experimentar alternativas.

A convicção de um líder ou militante político na superioridade da sua ideologia geralmente decorre de uma combinação de fatores psicológicos, sociais e racionais. Desde cedo, as pessoas são influenciadas pelo ambiente familiar, pela educação e pelo meio social. Se um indivíduo cresce num meio onde determinada ideologia é predominante, há uma grande probabilidade de que ele a adote como verdade incontestável. As ideologias políticas funcionam como estruturas identitárias. Um militante pode ver a sua ideologia como parte essencial de quem ele é, e abandoná-la significaria perder parte da sua identidade e do seu grupo social.

Os seres humanos tendem a buscar e interpretar informações de maneira que confirmem as suas crenças prévias, ignorando ou minimizando evidências contrárias. Isso reforça a convicção de que sua ideologia é a melhor. A isto se chama “viés de confirmação”. Se um líder político experimenta ou testemunha o sucesso de políticas alinhadas à sua ideologia, ele pode reforçar a sua crença na sua eficácia. Por exemplo, um político socialista que vê programas sociais reduzirem a pobreza pode-se tornar ainda mais convicto de que o Estado deve intervir na economia. Muitas vezes, a adesão a uma ideologia está associada a benefícios materiais ou simbólicos. Um empresário pode defender o liberalismo porque suas propostas reduzem impostos e regulamentos, enquanto um sindicalista pode defender o socialismo porque ele fortalece os direitos dos trabalhadores. Líderes políticos frequentemente se formam em resposta a crises. Se alguém testemunha desigualdades extremas, pode inclinar-se ao socialismo; se vê o Estado sufocar a economia, pode tornar-se liberal. No fundo, a crença na superioridade de uma ideologia é mais um fenómeno humano do que um juízo puramente racional. Muitas vezes, as pessoas não escolhem abraçar uma ideologia com base num cálculo frio e objetivo, mas sim como resultado de um conjunto complexo de experiências, emoções e interesses.

A escolha de uma ideologia política não é meramente um "gosto", como preferir vinho tinto a vinho branco, mas também não é um cálculo puramente racional e objetivo. Está num território intermédio, onde fatores emocionais, sociais e intelectuais se misturam. Ao contrário de um simples gosto pessoal, a ideologia tem uma base argumentativa e tenta oferecer uma explicação para a realidade. Mas, tal como o gosto, ela também é influenciada por experiências subjetivas, pelo meio em que a pessoa cresceu e por fatores psicológicos, como o desejo de pertencer a um grupo ou de confirmar crenças já estabelecidas. No fundo, embora as ideologias pretendam ser racionais e científicas, a forma como cada indivíduo se apega a elas acaba por ter muito de instintivo e emocional, o que as aproxima, de certa forma, da esfera do gosto.

Na maioria dos casos, a inclinação do voto de um eleitor é fortemente influenciada pela sua situação socioeconómica, mas isso não significa que as considerações ideológicas e morais sejam irrelevantes. Na verdade, ambos os fatores se misturam e variam conforme o contexto. O eleitor tende a votar em quem ele acredita que melhor protegerá os seus interesses materiais. Por exemplo: Trabalhadores de baixo salário podem inclinar-se para partidos que defendem políticas sociais e redistributivas. Empresários e profissionais liberais muitas vezes preferem partidos que prometem menos impostos e menos regulação. Funcionários públicos tendem a votar em partidos que valorizam o setor estatal. Esse padrão, porém, não é absoluto.

Muitas pessoas votam com base em princípios que não se ligam diretamente à sua posição socioeconómica. Eleitores conservadores podem ser pobres, mas rejeitar partidos de esquerda devido a valores religiosos ou culturais. Eleitores ricos podem apoiar partidos socialistas por convicção moral sobre desigualdade. A classe média, que oscila entre estabilidade e insegurança, pode mudar de posição dependendo do contexto político e económico. Em momentos de crise económica severa, a lógica materialista tende a prevalecer, e os eleitores votam com o bolso. Em tempos mais estáveis, as questões morais e identitárias ganham mais peso. No fundo, o voto é uma mistura dessas forças. Para alguns eleitores, a ideologia e os valores são inegociáveis; para outros, o que importa é quem vai garantir maior segurança económica no momento.

Portanto, embora possa haver ideologias que sejam mais bondosas que outras ("dar tudo a todos e os ricos que paguem a crise") não significa que seja a mais certa ou sensata. Uma ideologia pode parecer mais bondosa ou mais moralmente atraente, mas isso não significa que seja a mais certa ou sensata em termos práticos. A política não é apenas uma questão de boas intenções, mas também de realismo e viabilidade. O exemplo de "dar tudo a todos e os ricos que paguem a crise" pode soar justo e solidário, mas levanta questões práticas: Se os impostos sobre os ricos forem altos demais, podem desincentivar o investimento e levar à fuga de capitais. A economia pode entrar em colapso se o Estado prometer mais do que pode entregar. A longo prazo, pode gerar dependência do Estado, minando a produtividade. Da mesma forma, uma ideologia radicalmente liberal, que defenda um mercado totalmente livre sem qualquer proteção social, pode ser eficiente em alguns aspetos económicos, mas levar a desigualdades extremas e instabilidade social. Ou seja, a sensatez de uma ideologia não depende apenas da sua bondade aparente, mas da sua capacidade de equilibrar princípios morais com consequências práticas. Muitas vezes, os sistemas políticos mais bem-sucedidos combinam elementos de diferentes ideologias, ajustando-se à realidade.

Aristóteles, com a sua noção de justo meio (mesotes), antecipou uma ideia fundamental da política: os extremos geralmente levam ao erro, e a melhor forma de governo encontra-se num equilíbrio entre diferentes forças. Na Política, ele analisa diferentes regimes e conclui que tanto a oligarquia extrema (onde poucos dominam e oprimem os demais) quanto a democracia extrema (onde a multidão governa sem restrições) são formas corrompidas de governo. Para ele, a melhor forma de governo seria uma "politeia", um sistema misto que combina elementos da democracia e da aristocracia, evitando os excessos de cada um. Liberalismo puro pode levar ao individualismo extremo e ao abandono dos mais fracos. Socialismo puro pode sufocar a iniciativa individual e resultar em regimes autoritários. A solução, como Aristóteles sugeriu, parece estar em encontrar um meio-termo dinâmico, ajustando-se às circunstâncias. A política, nesse sentido, não é uma ciência exata, mas uma arte de equilibrar forças, interesses e valores.

A política é muito mais arte do que ciência exata. Embora existam análises racionais, estatísticas e modelos económicos que ajudam a tomar decisões, a essência da política está profundamente ligada à emoção, ao interesse e até ao gosto pessoal. Os eleitores não votam com base apenas em cálculos racionais – Escolhas políticas envolvem identidade, valores e percepções subjetivas. Os líderes precisam de carisma e narrativa – Um político pode ter propostas tecnicamente sólidas, mas se não souber comunicar, emocionar e mobilizar, dificilmente terá sucesso. A política lida com incertezas e dinâmicas humanas – Ao contrário da matemática, onde as regras são fixas, a política lida com pessoas, cultura e mudanças imprevisíveis. Ou seja, a política não pode ser reduzida a uma equação lógica. No fundo, é um jogo de poder, interesses e emoções, onde a razão tem um papel, mas nunca é soberana.


Sem comentários:

Enviar um comentário