terça-feira, 29 de abril de 2025

Ideias progressistas


O "privilégio branco"– é um conceito cujo argumento se centra na acusação sobre as sociedades europeias ocidentais de terem tirado vantagem sobre pessoas de outras etnias por via da colonização. A tese é a de que o racismo histórico deixou marcas que ainda beneficiam os brancos, mesmo que individualmente nem todos se sintam privilegiados. É o "mal branco". É um discurso radical, que associa a civilização ocidental e a população branca a uma suposta trajetória de opressão, exploração e dominação global. Em sua versão extrema, pode soar como uma culpabilização generalizada dos brancos pelo colonialismo, imperialismo e outras injustiças históricas.

Peggy McIntosh – Escreveu um ensaio famoso: White Privilege: Unpacking the Invisible Knapsack (1988), onde lista supostos privilégios que as pessoas brancas adquiriram sem terem consciência disso. Robin DiAngelo – autora de White Fragility (2018), argumenta que gente branca tende a reagir defensivamente quando confrontada com questões raciais. Ibram X. Kendi – autor de How to Be an Antiracist (2019), propõe que não basta não ser racista, mas é necessário ser ativamente "antirracista". Ora, tudo isto é muito discutido em círculos académicos principalmente por elementos engajados no ativismo político. Há a considerar que, em alguns casos, esses discursos se tornam dogmáticos, ou até mesmo discriminatórios, contra grupos específicos, como os "homens brancos" em geral. Ora, essas ideias levadas à letra e descontextualizadas, podem criar ressentimento e polarização, em vez de resolver problemas reais. Em todo o caso a ideia do "mal branco" do colonialismo não tem apoio unânime entre progressistas, muito menos na opinião pública em geral.

O que é certo é que este assunto é muito discutido e difundido no mundo digital, nas denominadas redes sociais, bem como por parte de organizações do ativismo puro e duro, mais dogmático e fanático do que sensato. Seja como for, a Teoria (com letra grande) tem tido uma influência cultural e política desproporcionada no mundo académico. Cada indivíduo tem a sua história, os seus valores e a sua dignidade, independentemente de rótulos ideológicos. E é por isso que o efeito é paradoxal, o conhecido efeito boomerang, porque em vez de diminuir o preconceito, reforça-o.

A "masculinidade tóxica" é outro conceito que parte da ideia de que os tradicionais comportamentos masculinos consolidados durante séculos na cultura ocidental tem prejudicado toda a sociedade com a discriminação de género. É caracterizada pela agressividade, dominação e repressão emocional que inclusivamente nem o género masculino é poupado. Mas em bom rigor não devia ser criticada a masculinidade em si, mas determinados comportamentos que cultivam a 
violência, o machismo, e a insensibilidade emocional. Raewyn Connell – sociólogo australiano que cunhou o termo hegemonic masculinity, tem argumentado que é a forma dominante e opressora de masculinidade que deve ser combatida. Judith Butler – filósofa que influenciou profundamente os estudos de género com Gender Trouble (1990), já vai mais longe, excedendo-se com o seu radicalismo, proferndo sentenças como: "o género é uma construção social". Michael Kimmel – autor de Angry White Men (2013), disserta sobre a crise de identidade de certos grupos masculinos na América. 

Todos esses autores são muito debatidos e criticados entre conservadores e liberais mais clássicos, que veem as suas ideias como excessivamente radicais e divisionistas. Também há teóricas feministas, de um feminismo mais antigo, que rejeitam essas teses, como Camille Paglia, criticando o feminismo contemporâneo. Por outro lado, Helen Pluckrose, escreveu, em parceria com James LindsayCynical Theories (2020) - analisando como certas ideias pós-modernas influenciaram o ativismo identitário.

Judith Butler não é cientista no sentido tradicional, como alguém das ciências naturais ou exatas. Ela é uma filósofa e teórica da literatura, com forte influência no pós-estruturalismo e no pensamento descendente de Michel Foucault. Seu trabalho está mais no campo da Teoria Crítica (a tal teoria com letra grande) no âmbito dos "estudos de género", que são áreas das humanidades, como disciplinas de ensino universitário, onde o método científico clássico (hipóteses testáveis, experimentação, falsificação) não se aplica da mesma forma. 

Onde estão os cientistas que poderiam contestar essas ideias com mais rigor? A resposta pode estar em alguns fatores que se prendem com o clima instalado na Academia. Em muitas universidades, especialmente nos EUA e na Europa Ocidental, as correntes progressistas dominaram certas áreas das humanidades e ciências sociais. Isso criou um ambiente onde contestar ideias como as de Judith Butler podia gerar represálias académicas e sociais. Muitos cientistas das áreas mais rigorosas (física, biologia, neurociência) preferem evitar discussões ideológicas para não se envolverem em controvérsias. Mas há exceções, como o biólogo Richard Dawkins, um crítico habitual das teses do pós-modernismo. E Camille Paglia (feminista dissidente), bem como Jordan Peterson (psicólogo), criticaram fortemente a noção de que género é uma construção social pura. Além disso filósofos da filosofia analítica, como John Searle, têm atacado as bases do pós-modernismo, classificando-o de irracional e destrutivo. Mas o discurso mais radical é o que tem tido maior penetração nos meios universitários das áreas dos estudos culturais e sociais. E, todavia, parecendo haver nessas teorias uma grande falta de senso, no entanto o consenso em relação às críticas que lhe têm sido feitas nunca chegou a acontecer. Até que, Donald Trump voltou.

O jornalismo, dito mediático, especialmente das cadeias televisivas dos países ocidentais, passou por uma transformação profunda na viragem do milénio. Um dos aspectos que deu nas vistas foi a maior presença feminina no pivô, não apenas no comentário político, mas nas demais rubricas a que até o futebol também foi contemplado. E assim, a sua influência haveria de ser assinalada. Não sendo um problema em si, na verdade é que a reação do "machismo" não se fez esperar, complexado com a perda de poder para o feminismo mais identitário e ideológico. 
Como os média televisivos ainda têm grande impacto na formação da opinião pública, instalaram-se nesse campo desavenças e dissensões insanáveis com a devassidão por parte de toda essa gente reacionária e misógina que estava escondida nos "armários".

Mas o pior veio da internet e das redes sociais, com os seus espaços paralelos, onde essas vozes conseguiram exponenciar o furo do bloqueio mediático. Isso explica o crescimento de comentadores independentes e intelectuais que desafiam essa visão predominante. A reação contra essa hegemonia cultural progressista deu nas mudanças políticas que os EUA estão agora a atravessar, e não só. Durante anos, grande parte da imprensa e da elite académica empurraram discursos identitários e progressistas como se fossem consenso absoluto, sem espaço para questionamento. Isso gerou um ressentimento crescente em segmentos da população que se sentem marginalizados ou demonizados por essas narrativas. O "assalto de sentido contrário" pode ser visto no fenómeno Trump e na ascensão de uma direita populista, que se alimenta do descontentamento com essa cultura dominante. Muitos eleitores não necessariamente concordam com tudo o que Trump representa, mas enxergam nele uma espécie de vingança contra elites que eles percebem como arrogantes e moralistas.

A Casa Branca de Biden tentou manter uma linha progressista, mas enfrentou resistência crescente, especialmente porque esse discurso ignorou problemas reais da classe trabalhadora e focou-se excessivamente em questões culturais e identitárias. Esse desalinhamento com as preocupações do americano médio explica a erosão do apoio ao Partido Democrata entre certos grupos, como trabalhadores de fato-macaco. No fundo, a batalha entre duas visões de mundo seria inevitável. Uma que busca transformar radicalmente as normas sociais e outra que reage tentando restaurar algo que considera perdido. O pêndulo não pára, e com a aceleração do tempo deixou de ser claro onde está exatamente. Quer dizer, durante as últimas décadas correram estes fenómenos sub-reptícios aos olhos de quem trabalhava no duro para pôr 
comida na mesa, para si e para os seus. Enquanto a maioria das pessoas estava focada em trabalhar, pagar contas e garantir o sustento da família, certas elites culturais, académicas e mediáticas estavam promovendo uma reconfiguração ideológica silenciosa. Isso não aconteceu de um dia para o outro, mas foi-se se acumulando ao longo de décadas, muitas vezes sem que a maioria percebesse o alcance dessas mudanças.

O cidadão comum, que está ocupado com as preocupações diárias, não tem tempo para acompanhar debates académicos sobre privilégio branco, género como construção social ou masculinidade tóxica. Mas, quando essas ideias começaram a influenciar leis, educação, políticas de nicho, e até a linguagem do dia a dia, o impacto ficou evidente. Muitos começaram a se perguntar: "Quando foi que decidimos que tudo isso era verdade?" O resultado foi um choque cultural. De um lado, as elites progressistas insistem que essas mudanças são um avanço inevitável. Do outro, uma parte significativa da população sente que está a ser arrastada para uma realidade que não reconhece, nem muito menos que terá escolhido.

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