De férias – entre a sarça ardente e a escuridão
Chegados a Dakar, passámos lá três dias antes de tomarmos a carreira até à sua aldeia natal. Metade dos habitantes das cidades africanas não tem uma ocupação definida. O que é que já fizeram? Quase tudo. No dia marcado dirigi-me à estação. Ele já lá estava à minha espera. Não tardaram aparecer os vendedores ambulantes, que não me largavam. Só desandaram quando apareceram mais passageiros. Um pequeno autocarro de 12 lugares sentados. Quando o autocarro arrancou éramos trinta passageiros. Dentro do autocarro um ar abafado e malcheiroso. A estrada, junto ao Atlântico, percorria ao longo de uma floresta de embondeiros.
Na aldeia não havia vedações, ou sebes. Todo o espaço é livre. Os campos ficam longe, onde parte da população trabalha. O seu único utensilio é a enxada. Cultivam mandioca e milho. Antes de lá chegarem já o calor aperta. A vida aqui é uma luta constante, entre a sobrevivência e a malária. A mulher ocupa grande parte do seu tempo a preparar a comida. À noite ouvem-se vozes, histórias cada vez mais raras, porque a aldeia aproveita o pequeno arrefecimento da noite para dormir.
No caminho de regresso, já no final da viagem, fizemos uma pequena paragem de descanso à sombra de uma árvore. Um tipo de árvore que existe por estas paragens, quase sempre isolada. Uma copa abundante, sempre verde. Quem percorrer os planaltos africanos, na imensidão do Sahel e da savana, terá oportunidade de ver uma imagem surpreendente que se repete muitas vezes. Superfícies imensas cobertas de areia e queimadas pelo sol em planuras sem fim de erva seca, sarças ressequidas dispersas por aqui e por ali. De repente, surge uma árvore solitária com ramos muito salientes, o seu verde exuberante e fresco tão intenso. Já ao longe se vê a sua mancha clara e viva sobre a linha do horizonte, embora não corra nenhuma brisa, as suas folhas movem-se e vibram levemente. Como é que surge aqui esta árvore no meio de uma paisagem verdadeiramente lunar? Para encontrar outra temos de percorrer por vezes muitos e muitos quilómetros.
Quando chega o meio-dia, e o ar começa a ficar incandescente, quem pode refugia-se à sombra da árvore – crianças e velhos, e se houver gado na aldeia, ele também. É melhor passar o calor do meio-dia à sombra da árvore. Nas barracas de argila é tudo apertado e abafado. Debaixo da árvore é mais arejado, podendo até acontecer que corra uma ligeira brisa. África significa milhares de situações variadas e diversificadas, mas completamente opostas. Alguém afirma: reina a guerra. E tem razão. Outra pessoa declara: reina a paz. Também tem razão, pois tudo depende. Onde? Quando?
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