sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Relativismo Cultural


O relativismo cultural (RC) defende que o bem e o mal são relativos a cada cultura. O “bem” coincide com o que é “socialmente aprovado” numa dada cultura. Os princípios morais descrevem convenções sociais e devem ser baseados nas normas da nossa sociedade. Há um estereótipo bastante divulgado que afirma que todos os especialistas em ciências sociais são relativistas culturais.

Quando são muito novas, as crianças pensam na moral em termos de punições e obediência. Mais tarde, começam a pensar em termos de recompensa e, em seguida, em termos de aprovação familiar. Mais tarde ainda, na adolescência ou quando são adultos jovens, atingem a fase do relativismo cultural. Nesta fase, o “bem” coincide com o que é socialmente aprovado, o grupo de amigos em primeiro lugar, e depois a sociedade como um todo. O relativismo cultural combate a ideia de que existem valores objetivos.

A tomada de consciência de que existem sociedades em que o comportamento que acharíamos inaceitável é não apenas tolerado, mas até encorajado, pode ser muito perturbador, mas não leva necessariamente ao ceticismo moral. Se os conquistadores espanhóis ficaram horrorizados quando se depararam com a evidência da prática do sacrifício humano dos Incas, não se horrorizaram depois, no extermínio dos Incas. Uma repulsa similar foi sentida por aqueles que primeiro foram objeto de repulsa. E assim continuaria, como quando aqueles entraram em Belsen e Buchenwald.

É demasiadamente fácil condenar o que é estranho em outras culturas. Onde uma sociedade está em uma posição de dominar e conquistar outras, essa atitude pode levar à supressão intolerante do modo de vida de outros, onde ele difere de alguma forma do nosso. Poderia um europeu condenar a bigamia em sua própria sociedade, mas considerá-la aceitável entre os nativos da Polinésia? Esta posição é certamente ou bem francamente incoerente ou, na melhor das hipóteses condescendente, na medida em que implica que os polinésios seriam ignorantes e assim podem ser tolerados os seus hábitos matrimoniais que condenamos em nossa sociedade. 

Um tal julgamento não tem por que ser condenatório ou condescendente. Pois as estruturas sociais muito diferentes nas duas sociedades tornam a poligamia aceitável caso a caso. Em Portugal a relação polígama não tem expressão legal e não encontrará reconhecimento social. Mesmo onde nenhum engano está envolvido, um tal arranjo trará quase inevitavelmente considerável dor a pelo menos algumas das pessoas envolvidas. Numa sociedade onde tais práticas encontram o seu lugar próprio, tais consequências desagradáveis não se seguirão de um casamento polígamo, o qual parecerá bastante adequado a todos os envolvidos. É um erro pensar que o casamento numa sociedade é simplesmente como um casamento em alguma outra sociedade, de modo que qualquer julgamento feito num caso deva ser feito neles todos. Observações similares se aplicam em outros casos onde diferentes instituições sociais estão em jogo.

Durante a década de 1960, um quem é quem de pensadores, escritores e artistas franceses, estimulados pela Revolução Cultural da China, foram tomados por um fascínio pelo maoísmo: 
Michel Foucault, Jean-Paul Sartre, Julia Kristeva, Phillipe Sollers e Jean-Luc Godard. Combinaram com exposição impiedosa e loucura política um mal-entendido transcultural com uma defesa demasiado despropositada. Este lendário período conta a história da chegada de ventos vindos do Oriente. Mostra como estudantes e intelectuais franceses, inspirados por perceções utópicas sobre a Revolução Cultural, incitaram movimentos sociais populares de efeitos fascinantes, se que nada tivesse a ver com uma compreensão real da política chinesa. Em vez disso, paradoxalmente, serviu como um veículo para uma transformação de contornos imprevisíveis.

Quando falamos em pós-estruturalismo ou pós-modernismo, estamos a referir-nos a uma corrente intelectual ampla e heterogénea que se caracteriza, essencialmente, pela oposição aos ideais racionalistas, humanistas e universalistas do Iluminismo, pela crítica ao conhecimento científico considerado uma forma de poder e de opressão ao serviço da democracia liberal-capitalista, pela desvalorização da racionalidade, pela sustentação do relativismo cultural da verdade e pela defesa das políticas de identidade.



          «Olhámos para o terceiro piso e reparámos que não existiam portas, apenas uma cortina que se agitava, o que nos levou de imediato a pensar que estariam a vestir os coletes-bomba. Tínhamos de avançar. Quando abrimos a tal cortina, uma espécie de cortina de duche, o meu camarada atirou-se para cima de uns indivíduos posicionados à nossa esquerda, com o objetivo de me proteger de uma eventual explosão. Tal não se verificou. Ele queria ter a certeza de que eu sobreviveria para continuar a missão. À minha direita, a cerca de um metro de distância, lá estava Bin Laden, que tinha as duas mãos sobre o ombro direito da mulher mais nova, a Ahmal. Aparentemente, usou-a como escudo. Ele era mais magro do que imaginava e mais alto, daí a parte superior do corpo estar desprotegida. Sem tempo para pensar duas vezes, afastei a Ahmal e concentrei-me em Bin Laden.
          Apreendemos computadores repletos de informação preciosa. Havia tanto ópio que julguei que se tratava de bifes congelados, uma reserva alimentar para alguém que se teria mentalizado que viveria ali durante muito tempo. As caixas e caixas de Viagra também davam a entender isso mesmo. Existiam mensagens encriptadas nas gravações com planos de ataques terroristas. A ideia era traficá-las algures na fronteira e entregá-las a operacionais no Afeganistão. Ele era um muçulmano devoto, mais concentrado em agradar às três mulheres, daí todo aquele Viagra, mais do que em filmes pornos.
          Continuo a acreditar que os bons são a maioria, mas há uma minoria ruidosa com cada vez mais poder. As universidades têm muita culpa disso. O ensino da história tornou-se acessório e o que importa é a vitimização de todos. É necessário perceber que nunca conseguiremos impor regimes ou sistemas a outros países. São as suas populações que o terão de fazer.
          Durante a cerimónia de entrega daquele objeto pessoal, fui até lá e no final fiquei numa sala com quase 40 familiares e amigos de pessoas que morreram no 11 de Setembro. Foi a primeira vez que contei a minha história em público. Quase todos começaram a chorar. Disseram que ao ouvir-me sentiram o luto terminar. Recordo-me de um avô, acompanhado pelo neto, cujo pai morrera no atentado. Ele disse: “O meu neto pergunta-me sempre porque é que Deus fez isto com o seu pai? Respondo-lhe que não foi Deus, mas o diabo. Você matou esse diabo.” A partir daquele momento quis ajudar mais pessoas.
          Continuo a receber ameaças de morte, mas há várias maneiras de me proteger: câmaras, cães e armas. Prefiro ter a real noção de que o problema existe do que enfiar a cabeça na areia. As redes sociais amplificaram tudo. Os terroristas da Al-Qaeda tentarão sempre matar aqueles que não pensam como eles. Americanos ou qualquer outro ocidental.»
Além do impasse ético e do bloqueio da ação política a que este tipo de ideias tendencialmente leva (o que, só por si, já é negativo) é também óbvio que o mesmo procedimento corrosivo pode ser aplicado aos ideais verdadeiramente progressistas, como os Direitos Humanos. Vistos sob o prisma do pós-modernismo, chega-se à conclusão que se trata de uma expressão da cultura ocidental. Essa expressão traduz-se na vontade de poder do Ocidente, ao pretender impor a “hegemonia cultural” denunciada por Gramsci. Ora, isso leva a que ideólogos do islamismo radical, e a Organização da Conferência Islâmica, proclamem a sua Declaração dos Direitos Humanos no Islão, que não são os da Declaração Universal das Nações Unidas.

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