segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Os senhores da guerra



Um senhor da guerra é um antigo oficial, mas também pode ser uma pessoa qualquer obcecada pelo poder e pelo dinheiro, sem escrúpulos, que aproveita o desmoronamento do Estado para obter o miniestado informal, por si mesmo, no qual possa reinar como um ditador. Na maioria dos casos, o senhor da guerra tem o apoio de um clã, ou de uma tribo, aquela a que pertence. Os senhores da guerra semeiam o ódio tribal. Mas isso é coisa que não admitem. Anunciam sempre que lideram um movimento, que tem objetivos fundamentalmente nacionais. Ou então, um movimento para a libertação de qualquer coisa.

Os Pashtuns historicamente conhecidos como afegãos são um grupo étnico iraniano nativo da Ásia Central e do Sul, é o maior grupo étnico do Afeganistão. A língua nativa do grupo étnico é o Pashto, uma língua iraniana. Além disso, Pashtuns étnicos no Afeganistão falam o dialeto dari do persa como segunda língua. O número total de Pashtuns é estimado em cerca de 63 milhões; no entanto, esse número é contestado devido à falta de um censo oficial no Afeganistão desde 1979. E o segundo maior grupo étnico do Paquistão.
 



Na foto, Mullah Baradar Akhund, sentado com um grupo de homens, na declaração da tomada de Cabul, gravada a partir de um local não identificado, e transmitida ontem ao fim do dia pela Al-Jazeera.

O povo Pashtun é um intrincado sistema de tribos. Os Pashtuns continuam a ser um povo predominantemente tribal, mas a tendência da urbanização começou a alterar a sociedade à medida que cidades como Kandahar, Peshawar, Quetta e Cabul cresceram rapidamente devido ao fluxo de Pashtuns rurais. Apesar disso, muitas pessoas ainda se identificam com vários clãs. O sistema tribal tem vários níveis de organização: a tribo em que eles estão é de 4 grupos tribais maiores: Sarbani; Bettani; Garghashti. Então divididos em grupos de parentesco chamados khels, que por sua vez se dividem em grupos menores (pllarina ou plarganey), cada um composto por várias famílias estendidas chamadas kahols.

No Afeganistão, as décadas de guerra e a ascensão Taliban, para além de imensas dificuldades sociais, tornaram a vida das mulheres num inferno. Muitos de seus direitos foram reduzidos por uma interpretação rígida da sharia (a denominada lei islâmica). As vidas difíceis de mulheres refugiadas afegãs ganharam considerável notoriedade com a imagem icônica de Sharbat Gula, retratada na capa de junho de 1985 da revista National Geographic. 




Direitos legais restringidos em favor de seus maridos ou parentes do sexo masculino. Por exemplo, embora as mulheres possam oficialmente votar no Afeganistão e Paquistão, algumas foram mantidas longe das urnas por homens. Outra tradição que persiste é a swara, uma forma de casamento infantil que foi declarada ilegal no Paquistão em 2000, mas continua em algumas partes. As organizações de direitos humanos continuam a lutar por maiores direitos das mulheres, como a Rede de Mulheres Afegãs e a Fundação Aurat no Paquistão, que visa proteger as mulheres da violência doméstica. 

Em “O Livreiro de Cabul”, Asne Seierstad, descreve-nos como foi a execução da livraria de Sultan Khan. A queima de livros numa gélida tarde de novembro de 1999. Ao lado das crianças em volta da fogueira estava a polícia religiosa com chicotes, cassetetes e kalashnikovs. Eles consideravam todos os que cultuavam fotos, livros, escultura, música, dança, filmes e livres-pensadores como inimigos do povo. A rotunda de Charhai-e-Sadarat em Cabul ficou iluminada durante horas por uma fogueira de livros. Nesse dia, estavam apenas na lista de execução livros com imagens. Ignoravam os textos heréticos nas prateleiras bem diante de seus olhos. Os soldados não sabiam ler, e não sabiam distinguir entre a doutrina taliban e a herética. Mas sabiam diferenciar imagens de letras, e seres vivos de mortos.

Os soldados vinham frequentemente ameaçar o livreiro. Ele tinha recebido ameaças da mais alta autoridade Taliban, além de ter sido intimado a comparecer perante o ministro da Cultura, na tentativa das autoridades o seduzirem para o livreiro ceder à vontade dos talibans. Sultan Khan não se importava em vender as sombrias publicações dos talibans, desde que vendesse outras obras às escondidas como romances e poesia. Era um livre-pensador e achava que todas as vozes deviam ser ouvidas. Mas também queria vender livros de história, publicações científicas, obras ideológicas sobre o Islão. Os talibans consideravam os debates uma heresia, e a dúvida um pecado. Tudo, exceto decorar o Alcorão, era desnecessário, até perigoso.

Quando os talibans chegaram ao poder em Cabul, no outono de 1996, os profissionais de todos os ministérios foram afastados e os mulás assumiram a governação de tudo, do banco central às universidades. O seu objetivo era recriar a sociedade em que vivia o profeta Maomé. Mesmo quando os talibans negociavam com companhias de petróleo estrangeiras, mulás sem nenhuma especialização técnica sentavam-se à mesa das negociações.

Sem comentários:

Enviar um comentário