quinta-feira, 7 de setembro de 2023

A Crimeia anexada pela Federação Russa em 2014





A península da Crimeia está localizada ao sul da região ucraniana de Kherson, a norte do mar Negro, e a oeste do mar de Azov e da região russa de Kubã separada pelo estreito de Kherche. Designada por península Táurica desde a Antiguidade, foi colonizada por gregos antigos, persas, bizantinos, tártaros e outros invasores nómadas das estepes, genoveses e otomanos.

A Crimeia e territórios adjacentes foram unidos no Canato da Crimeia entre os séculos XV e XVIII. Em 1783, a Crimeia foi anexada pelo Império Russo. Após a Revolução Russa de 1917, a península tornou-se uma república autónoma dentro da União Soviética.

Em 1954, o Oblast da Crimeia foi transferido para a Ucrânia por Khrushchev a fim de reforçar a "unidade entre russos e ucranianos" e a "grande e indissolúvel amizade" entre os dois povos. A região então transformou-se na República Autónoma da Crimeia dentro da Ucrânia independente em 1991, sendo que Sebastopol manteve a sua própria administração, dentro de Ucrânia, mas fora da república autónoma. Desde 1997, após o tratado de paz e amizade assinado pela Rússia e Ucrânia, a Crimeia abriga a base da Frota do Mar Negro da Rússia em Sebastopol.

A antiga frota soviética do mar Negro e suas instalações foram divididas entre a Frota Russa do Mar Negro e as Forças navais ucranianas. As duas marinhas compartilhavam alguns dos portos e cais da cidade, enquanto outros eram desmilitarizados ou usados ​​por qualquer um dos dois países. Sebastopol permaneceu como a sede da Frota Russa do Mar Negro, assim como a sede das Forças Navais da Ucrânia, também sediada na cidade. Em 27 de abril de 2010, a Rússia e a Ucrânia ratificaram a base naval ucraniana para o tratado de gás, estendendo o arrendamento à Marinha Russa de instalações da Crimeia por 25 anos após 2017 (até 2042) com uma opção para prolongar o contrato de arrendamento por cinco anos.



Os Homens Verdes, sem insígnias, no Aeroporto de Simferopol, 28 de fevereiro 2014

Algumas semanas antes dos acontecimentos – a entrada dos “homens verdes” na Crimeia – já estava tudo decidido por Putin. Decisão apenas partilhada a quatro pessoas de confiança – dois amigos do FSB; o ministro da defesa; o chefe de gabinete. 
Soldados encapuçados "pequenos homens verdes" da Federação Russa, mas sem identificação, ocuparam e bloquearam o Aeroporto Internacional de Simferopol e o parlamento, bem como a maioria das bases militares ucranianas na Crimeia. Tropas com uniforme idêntico ao usado pelos separatistas pró-russos do Donbas.

A Federação Russa inicialmente negou que fossem forças militares russas, mas em 17 de abril de 2014 Vladimir Putin finalmente confirmou a presença dos militares russos. Além disso, várias fontes, incluindo a televisão estatal russa, confirmaram que os "homenzinhos verdes" eram uma mistura de agentes das Forças de Operações Especiais e várias outras unidades. Provavelmente também incluiu paraquedistas da 45ª Brigada de Guardas Spetsnaz do VDV e mercenários do Grupo Wagner.

Inicialmente, Putin afirmou que os homens de verde não faziam parte das Forças Armadas russas, mas de grupos de milícias locais. O Comandante Supremo Aliado na Europa do Comando da NATO, General Philip Breedlove, disse que esses "homens verdes" eram de facto tropas russas. Em março de 2014, Putin continuou a sustentar que não havia intervenção planeada, mas que "os grupos fortemente armados e fortemente coordenados que assumiram os aeroportos e portos da Crimeia no início da incursão - eles eram meramente 'grupos de autodefesa' espontâneos que podem ter adquirido seus uniformes de aparência russa em lojas militares locais. De acordo com a Associação Ucraniana de Proprietários de Armas, a lei ucraniana não permite a venda ou o porte de armas de fogo, exceto para caça.

Em 17 de abril de 2014, o presidente Putin admitiu publicamente pela primeira vez que forças especiais russas estiveram envolvidas nos assaltos da Crimeia, com o objetivo de proteger a população local e criar condições para um referendo. Mais tarde, ele admitiu que as Forças Armadas russas bloquearam as Forças Armadas da Ucrânia na Crimeia durante esse período.

Ainda que a Rússia argumentasse que a ação visava proteger seus cidadãos em meio à crise, a forte ligação histórica da Rússia com a Crimeia, em adição à presença da frota russa no Mar Negro, na estratégica posição próxima ao Mar de Azov, motivou um rápido movimento para oficializar a anexação, o que ocorreu em 21 de março. Ainda antes, no dia 16, a população da Crimeia aprovou massivamente a adesão à Rússia por meio de um referendo. Entre o início da crise ucraniana e o seu fim havia-se passado somente cinco meses.

A Tomada da Crimeia pela Rússia colocou a região como um todo em um limbo geopolítico, uma vez que a anexação não é reconhecida por diversos países. A Rússia enfrenta um considerável isolamento internacional, sofrendo inclusive sanções económicas.

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