quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Como será o mundo em 2052?



Pouco mais de um ano após milhares de alemães se entusiasmarem a derrubar o Muro de Berlim à marretada, Tim Berners-Lee, um cientista de computação britânico da Organização Europeia de Pesquisa Nuclear, enviava do seu escritório na fronteira entre a França e a Suíça a primeira comunicação bem-sucedida entre um Protocolo de Transferência de Hipertexto e um servidor, criando assim a rede mais famosa do mundo, a World Wide Web. Tinha começado a era da Internet.

Como teria sido o dia da queda do Muro de Berlim, se já houvesse as redes sociais que há hoje, ninguém pode dizer. As redes sociais que sabemos passaram a ajudar e a coordenar manifestações políticas um pouco por todo o mundo. Mas ainda hoje, alguns regimes repressivos astutos, como os do Irão, China, Rússia - também têm usado essas ferramentas para vigiar e reprimir. Para entender porque é que as barreiras ao poder se tornaram mais frágeis e porosas, precisamos examinar transformações mais profundas – mudanças que começaram a se acumular e acelerar mesmo antes do fim da União Soviética que por sua vez datou o fim da Guerra Fria. Os maiores desafios ao poder na nossa época procedem de mudanças essenciais experimentadas pela grande maioria dos habitantes do planeta – em como vivemos, onde vivemos, e por quanto tempo e com que grau de bem-estar.

Se não aparecer, entretanto, mais nenhum grande "cisne negro" no caminho do "Aquecimento Global", em 2052 farei 100 anos, tanto faz, vivo ou morto. E a população mundial será quatro vezes mais do que era 100 anos antes. Esse aumento populacional – assim como a sua estrutura etária, distribuição geográfica, longevidade, saúde, bem como os seus maiores níveis de informação, educação e consumo – tem tantas implicações que nenhum indivíduo sozinho consegue vislumbrar se estiver demasiado apegado às notícias difundidas pelos órgãos de informação padronizados que se costumam designar apenas por “média” [Meios de Comunicação Social].

E o que é que as notícias têm passado nos últimos tempos: catástrofes naturais; recessão económica; Guerra na Ucrânia. Todo o tipo de ameaças, desde assaltos à mão armada, traficantes de droga e seres humanos, violência doméstica, terrorismo. E, todavia, a Terra se move. Uma coisa é o mundo que nos é dado pela matemática. Outra coisa é o mundo visto pelos olhos de cada um, o mundo que em vocabulário kantiano é o mundo dado pelos sentidos, mas que não é o mundo da realidade. Um facto surpreendente é que os dados estatísticos não coincidem com a perceção que temos da realidade através dos noticiários que nos entram nas nossas casas diariamente pelos órgãos de comunicação social, para simplificar, a televisão.

Na Ásia, em 1980, a percentagem da população a viver na extrema pobreza era estimada em 77%. Em 1998 tinha caído para 14%. E neste século XXI, para além de continuar a descer na China, também está a descer na Índia, no Brasil, e também em alguns países de África. Entre 1970 e 2006, a pobreza na África também declinou numa percentagem que ninguém estava à espera. Numa rigorosa análise estatística, a redução da pobreza é notavelmente generalizada: não pode ser explicada como algo que ocorreu apenas nos países grandes, ou num conjunto de países que possuam alguma característica geográfica ou histórica que os beneficie. Países de todo o tipo, incluindo aqueles com inconvenientes históricos e desvantagens geográficas, experimentaram reduções na pobreza. Na América Latina, em 2013, e pela primeira vez, o número de pessoas pertencentes à classe média ultrapassou a população pobre.

Segundo o Banco Mundial, entre 2005 e 2008, da África Subsaariana à América Latina e da Ásia à Europa de Leste, a proporção de pessoas que vivem em extrema pobreza (aquelas com renda inferior a 1,25 dólar por dia) caiu pela primeira vez desde que existem estatísticas sobre pobreza global. Considerando que a década incluiu a crise económica que começou em 2008, a mais profunda desde a Grande Depressão de 1929, esse avanço é ainda mais surpreendente. Apesar da crise, as economias dos países mais pobres continuaram a expandir-se criando mais emprego. Uma tendência já com mais de três décadas, em que 660 milhões de chineses saíram da pobreza. 

É claro que ainda há dois mil milhões de pessoas que vivem em condições intoleráveis. E ter uma renda de três ou cinco dólares por dia, em vez de 1,25 dólar que o Banco Mundial assume como a linha de extrema pobreza, ainda significa ter uma vida de luta e privação. Mas também é inegável que a qualidade de vida aumentou mesmo para os mais pobres e vulneráveis. Segundo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas, que combina indicadores de saúde, educação e renda para dar uma medida global do bem-estar, os padrões de vida têm aumentado desde 1970 por toda a parte no mundo.

Agora vejamos o que está a acontecer à classe média dos países desenvolvidos. Este é o outro lado da equação do desenvolvimento sustentável. O progresso dos países pobres contrasta claramente com a situação da classe média na Europa e nos Estados Unidos. Uma classe média que desfrutou durante décadas de crescimento e prosperidade, mas que está agora a perder. Há todo um oceano de trabalhadores e funcionários, que apesar de trabalharem e auferirem o seu salário já não conseguem cumprir todas as obrigações financeiras para sustentar todos os compromissos de acordo com a qualidade de vida que tinham alcançado desde os anos 1970, que para além disso passaram a viver mais anos. Foram as principais vítimas das crises financeiras deste sáculo XXI. 

Foi neste século que a Internet alcançou a sua maturidade com as redes sociais, quando aconteceu a chamada Primavera Árabe. Teve como ponto de partida a Tunísia, o país do norte de África com o melhor desempenho económico e o mais bem-sucedido em fazer ascender os pobres para a classe média. Na realidade, este é o motor que move muitas das transformações políticas destes tempos, como aquele que tem vindo a acontecer na Europa, onde mais uma vez é a França onde tal radicalização tem a maior expressão. A classe média francesa é uma classe média impaciente, porque também é a mais bem informada. Quer manter os diretos já adquiridos nem que seja a ferro e fogo. E não há governo que o consiga deter, tanto mais quando são os próprios governos que dão os piores exemplos pela via da grande corrupção. A intolerância popular em relação à corrupção é muito poderosa para derrubar governos, muito mais do que as oposições institucionalizadas. U
ma pessoa mais bem alimentada é uma pessoa mais saudável. Como mais bem informada também é mais instruída. E tudo isso faz com que tenha melhores relações. E uma pessoa bem relacionada tem mais poder, porque a união faz a força.

Sem comentários:

Enviar um comentário