domingo, 10 de setembro de 2023

Rédoine Faïd



Rédoine Faïd, hoje com 51 anos, a perícia psiquiátrica realizada para o julgamento de 2016 em Paris - pelo roubo abortado e pelo tiroteio de 2010 em Villiers-sur-Marne - descreve-o como um predador social dotado para a manipulação. Ele usa as qualidades da sua personalidade – charme, inteligência, coragem, capacidade de resposta – para controlar os outros e conseguir o que quer. O perito psiquiatra que intervém durante o julgamento de 2017, pela fuga da prisão em 2013, descreve-o como um viciado em adrenalina. Não é nem antissocial nem psicopata. 

Seu editor, Pierre Fournaud, que o encontrou muitas vezes para escrever a sua biografia, diz que Faïd não é motivado apenas por dinheiro, mas sobretudo por uma necessidade de reconhecimento, daí a sua procura em ser divulgado por ações espetaculares, e ter um livro escrito sobre ele. O jornalista Jérôme Pierrat, especialista em crime organizado e que também participou da escrita da biografia, fala dele nestes termos: «Ele estava tentando modelar seus planos em seus heróis de cinema e então ele era um rapaz bastante charmoso, a antítese do gângster sociopata como você pode imaginar. Não era de todo o perfil das pessoas que vamos encontrar em Marselha e que se matam com golpes de Kalashnikov por haxixe. É antes uma pessoa afável, educado, bem vestido como se diz e vestindo um fato bem cortado. Ele não tem de todo o perfil de mafioso suburbano como se poderia imaginar.»

Em meados da década de 1990, Faïd e Jean-Claude Bisel lideraram um gangue criminoso responsável por assaltos à mão armada. Em 1997 foram julgados. Faïd passou três anos foragido na Suíça e nos territórios da Palestina antes de ser preso em 1998. Disfarçado de judeu ortodoxo, aprendeu hebraico enquanto estava em Israel, e aprendeu a manusear armas de fogo com um soldado israelita. 

Foi condenado a 30 anos de prisão. É libertado, em liberdade condicional, depois de cumprir dez anos. No entanto, ele era o suspeito de ser o mentor de um assalto à mão armada que tirou a vida de um polícia em 2010. Por isso, em 2011, voltou a ser preso.

Desde a infância, era apaixonado por cinema, especialmente filmes de gângsteres. Aos 19 anos, quando a mãe morre de leucemia, Faïd é já um assaltante de alto gabarito. Idolatrava o Al Pacino, do Scarface de Brian de Palma. Inspirou-se em muitos outros cineastas, de Quentin Tarantino (Cães Danados) a Kathryn Bigelow (Caçadores de Emoção).

Explicou em 2010 numa entrevista ao LePoint: «Era um dependente do roubo. Apaixonamo-nos por este ‘jogo’ e as sensações que ele provoca. O medo aparece como gerador de adrenalina. (…) Tu procuras a adrenalina que o roubo te dá, de que o teu corpo tem necessidade como de uma droga. Ao fim de algum tempo, já não o fazes por dinheiro.»


Autobiografia, 2009

Em liberdade, permaneceu a paixão pelo cinema: «Quando saí da prisão, encontrei Michael Mann, vindo a Paris para apresentar o seu último filme, Inimigos Públicos. Disse-lhe: 'você foi o meu melhor professor, o melhor conselheiro técnico, mas também lixou a minha vida.'» Mann ficou perplexo. 

Por esta altura está e curso novo julgamento pela sua mediática e última fuga de uma penitenciária de alta segurança. Na manhã do dia 1 de julho de 2018, um irmão e outro sócio vão a um aeródromo a pretexto de uma aula de pilotagem de helicóptero. Apontam uma arma ao instrutor e avisam-no que se trata de um rapto. Metidos no helicóptero, fazem-no dirigir-se à prisão de Réau, de que tinham feito rigoroso reconhecimento com um drone. Depois de terem recolhido um terceiro assaltante, dirigem-se para o pátio da prisão. O helicóptero fica suspenso a um metro do solo. Faïd estava no parlatório numa visita de outro irmão que havia conseguido a visita para essa manhã. Dois cúmplices abrem em minutos as portas de aço com maçaricos, Faïd surge com uma arma e saem rapidamente. A operação, uma obra-prima de planeamento, durou dez minutos.

O helicóptero foi mais tarde encontrado não muito longe do Aeroporto Charles de Gaulle, onde acreditava-se que ele e os três homens escaparam de carro, e o instrutor de voo saiu ileso. A polícia francesa concentrou-se principalmente numa fuga doméstica, embora também considerasse a possibilidade de uma fuga para o exterior. A polícia alertava: «Além do seu carisma e aura, além do espetáculo, Faïd é um indivíduo perigoso.»

Três semanas após a fuga, Faïd evitou por pouco a recaptura depois de ser visto pela polícia perto de Paris. Em 24 de julho de 2018, a polícia identificou Faïd como uma das duas pessoas dentro de um carro observando um posto de serviço. Ao entrarem, os suspeitos fugiram em direção a Sarcelles e conseguiram fugir. O carro foi encontrado abandonado num parque de estacionamento com explosivos falsos, de plástico, no interior.

Antes de ser detido, Faïd usava uma burca para se movimentar em espaços públicos. Acabou por ser detido em Creil em 3 de outubro de 2018, juntamente com seu irmão e dois outros homens. Armas foram apreendidas durante a operação policial.

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