A luta feminista, apesar das conquistas alcançadas ao longo dos últimos cem anos — como o direito ao voto, o acesso à educação, a igualdade no mercado de trabalho e leis contra a discriminação, ainda enfrenta enormes desafios. A resistência a essas mudanças não se limita apenas a instituições ou práticas, mas está também profundamente entranhada nas mentalidades, valores culturais e normas sociais que levaram milénios para se consolidar. Transformar essa realidade não é uma tarefa rápida ou simples, pois envolve uma mudança profunda nos paradigmas culturais e sociais, que requer não apenas legislação e políticas públicas, mas também uma mudança de consciência coletiva e uma reconfiguração das relações de poder. Além disso, em muitas partes do mundo, o patriarcado ainda é sustentado por práticas religiosas e tradições culturais que resistem fortemente à mudança.
Portanto, embora o progresso tenha sido significativo, um século de luta ainda é um tempo curto em comparação com os cinco milénios de patriarcado que moldaram a civilização humana. Desmantelar estruturas de poder tão antigas e enraizadas exige um esforço contínuo e uma transformação geracional, que precisa ser sustentada por educação, políticas inclusivas e uma mudança na cultura global. Não é muito clara a evolução a partir da primitiva esquerda francesa em relação à esquerda atual. A evolução da esquerda, desde as origens na Revolução Francesa, até à forma que assume hoje, é complexa e nem sempre linear. A esquerda atual é bastante diferente daquela primitiva esquerda francesa que emergiu no final do século XVIII, tanto em seus objetivos quanto em suas estratégias e fundamentos ideológicos.
A esquerda primitiva, representada pelos jacobinos e outros revolucionários, surgiu num contexto de derrube da monarquia e de luta contra o privilégio aristocrático e clerical. O seu alcance residia numa mudança radical da estrutura social e política, guiada pelos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Esses ideais estavam profundamente ligados à oposição ao Antigo Regime e visava o estabelecimento de uma sociedade republicana que eliminasse os privilégios de nascimento e promovesse a soberania popular. Ao longo dos séculos XIX e XX, a esquerda passou por transformações significativas, influenciada por novos movimentos e ideologias, como o socialismo e o comunismo. A obra de pensadores como Karl Marx e Friedrich Engels reformulou a esquerda em torno da luta de classes e do fim da exploração capitalista, focando na emancipação do proletariado e na redistribuição equitativa da riqueza. A luta contra a desigualdade económica tornou-se o eixo central do pensamento e das políticas de esquerda.
Com o passar do tempo e com as mudanças no cenário global, como a queda do comunismo no final do século XX e a ascensão do neoliberalismo, a esquerda atual diversificou as bandeiras. Hoje, além de lutar por justiça económica, ela se preocupa com uma ampla gama de questões sociais, como direitos das minorias, igualdade de género, justiça climática, direitos LGBTQ+, e outras formas de igualdade e inclusão social. Em muitos casos, a esquerda contemporânea também adotou uma abordagem mais reformista e menos revolucionária, aceitando o jogo democrático e buscando influenciar políticas públicas dentro do sistema existente, em vez de tentar destruí-lo. Portanto, a transição da esquerda revolucionária francesa para a esquerda moderna não é uma linha reta, mas sim uma trajetória que se ramificou em várias direções. Há uma tensão constante entre as suas raízes radicais e revolucionárias e as abordagens mais pragmáticas e reformistas adotadas nos tempos atuais. Enquanto algumas correntes da esquerda ainda defendem mudanças estruturais profundas, outras estão mais focadas em promover avanços graduais e reformas dentro das democracias liberais. Essa evolução reflete, em parte, a adaptação da esquerda às novas realidades políticas, sociais e económicas, mas também levanta questões sobre a sua identidade e seus valores centrais, que nem sempre são claros ou coerentes ao longo dessa longa trajetória histórica.
A diferença crucial está no contexto histórico e nas lições aprendidas com os excessos do passado. A esquerda contemporânea aprendeu que o uso da violência e do terror pode minar os seus próprios princípios e objetivos, levando a resultados desastrosos que muitas vezes contradizem os ideais que defendem. Assim, embora haja uma conexão ideológica em termos de objetivos de igualdade e justiça, a abordagem e os métodos são hoje muito mais moderados e adaptados às normas das sociedades democráticas modernas. Portanto, enquanto os revolucionários do século XVIII eram mais propensos a usar medidas drásticas para alcançar seus fins, a esquerda atual se distancia dessas práticas, preferindo processos democráticos e reformas graduais, refletindo uma maturidade que reconhece os perigos do radicalismo e da violência política.
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