quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O estado do esclarecimento da opinião pública


O estado de uma opinião pública esclarecida, com ciclos de ganhos e perdas, faz lembrar a fadiga dos metais. Vive-se atualmente o momento de fadiga, em que a opinião pública parece mais estúpida. Veja-se na América, o país vanguarda do mundo científico, em que há um número crescente de negacionistas das vacinas; os crentes da terra plana; criacionistas ... Assim como os metais, que passam por ciclos de tensão e relaxamento até atingirem um estado de fadiga, a opinião pública também parece passar por ciclos de esclarecimento e regressão.

Nos períodos de "fadiga” há uma espécie de esgotamento ou desgaste da racionalidade coletiva, onde crenças irracionais e teorias conspiratórias encontram terreno fértil para se espalhar. O caso dos Estados Unidos é ilustrativo: apesar de ser a vanguarda do avanço científico e tecnológico, também experimenta, paradoxalmente, um aumento de movimentos que rejeitam o conhecimento científico estabelecido. A democratização do acesso à informação trouxe consigo o paradoxo de maior acesso ao conhecimento e, ao mesmo tempo, à desinformação. As redes sociais e os algoritmos amplificam ideias radicais e polémicas. E a própria crise de confiança nas instituições e nos especialistas, acentuou-se nas últimas décadas devido a erros das elites entrando na polarização política. O resultado é uma opinião pública que, em certos momentos, parece mais fragmentada e menos disposta a adotar consensos baseados em evidências. Isso contribui para um ambiente onde ideias anticientíficas ganham força e minam a capacidade de uma sociedade manter-se informada de forma crítica e racional.

E é assim que metade dos americanos (mais um) ao elegerem Trump novamente, acolitado por Elon Musk, mandaram às urtigas a democracia para terem mais tirania e plutocracia. A eleição de Donald Trump em 2016, e agora em 2024, demonstra um desejo de uma parte significativa da população por mudanças que desafiem o establishment político tradicional. Essa tendência pode ser vista como uma resposta às percepções de descontentamento com a elite política, desigualdades económicas crescentes e a sensação de que as instituições não estão atendendo às necessidades do cidadão comum. O apoio de figuras como Elon Musk a ideias que minam a confiança na democracia também é revelador. Musk, com a sua influência e presença nas redes sociais, pode desempenhar um papel significativo ao amplificar narrativas que favorecem políticas autoritárias e uma abordagem de governação mais orientada para interesses privados e empresariais, que comportam elementos de uma plutocracia.

Por mais perturbador que seja, isso indica uma fadiga e um desencanto com a democracia tradicional, onde muitos veem a tirania e a plutocracia como alternativas, acreditando erradamente que isso trará soluções mais rápidas e eficientes para os problemas que enfrentam. Isso levanta questões fundamentais sobre como proteger e revitalizar a democracia em tempos de polarização e desinformação crescentes.

O retorno de Trump ao poder e o apoio de figuras como Musk levantam preocupações sobre a saúde da democracia americana e a concentração de poder económico em mãos de poucos. Especialistas em política cibernética destacam que Musk, com a propriedade de empresas cruciais como a SpaceX e a plataforma social X (ex-Twitter), possui uma influência desproporcional sobre a infraestrutura digital, o que pode ter implicações significativas nas democracias e na política global.

Sem comentários:

Enviar um comentário