quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Radicalismo. Nacionalismo. Populismo. E o viés mediático


Radicalismo é o que estamos a ver nos partidos laterais aos chamados partidos moderados do centro na grelha classificativa do espetro político, que adotam posições extremas em relação a questões políticas e sociais. Geralmente rejeitam compromissos procurando romper com o status quo, opondo-se às visões mais moderadas ou progressistas da sociedade. Esse radicalismo é sistematicamente direcionado contra as políticas de imigração, multiculturalismo e globalização, que são vistas como ameaças à identidade nacional e cultural.

O Nacionalismo é uma pedra angular de vários movimentos que estão hoje a atravessar toda a Europa de Este para Oeste e de Norte para Sul. Enfatizam a importância da identidade nacional e cultural, promovendo a ideia de que cada nação ou povo tem um direito inalienável de preservar e proteger as suas tradições, valores e território contra influências externas. Esse nacionalismo é muitas vezes etnocêntrico, focando-se numa ideia de pureza cultural e na proteção dos interesses do nativismo (povo nativo) contra a imigração e a integração cultural.

O Populismo é caracterizado por uma retórica que contrapõe "o povo"  - "a elite" e "os outros" (frequentemente imigrantes ou minorias). Procura mobilizar o descontentamento popular contra as elites políticas, mediáticas e intelectuais, acusando-as de serem cúmplices na destruição das tradições nacionais e na imposição de valores cosmopolitas. O populismo serve como uma ferramenta para ampliar o apelo ao patriotismo utilizando uma linguagem simples e direta para sensibilizar o sentimento de frustração e exclusão de muitos cidadãos.

Há percepções em relação ao viés de inclinação política nos órgãos de comunicação. Isso varia, se falarmos das direções, a inclinação pende para a direita; se falarmos da classe dos jornalistas a maioria pende para a esquerda. As direções dos meios de comunicação são frequentemente vistas como mais conservadoras ou alinhadas aos interesses económicos dos proprietários e investidores. Isto reflete-se, muitas vezes, em pressões por uma cobertura mais centrada ou moderada, especialmente em questões económicas e políticas que possam afetar grandes interesses financeiros. Os jornalistas, por outro lado, tendem a ser percebidos como mais inclinados à esquerda, particularmente em questões sociais e culturais. Pesquisas em vários países têm mostrado que muitos jornalistas pessoalmente se identificam com causas progressistas, especialmente em temas como direitos civis, igualdade de género e proteção ambiental. No entanto, essa inclinação pessoal nem sempre se reflete diretamente na cobertura, que pode ser filtrada pelas direções e linhas editoriais dos meios de comunicação. Em muitos casos, há uma tensão visível entre os jornalistas de base e os editores seniores ou executivos. A direção de grandes conglomerados mediáticos pode pressionar por coberturas que não prejudiquem os seus patrocinadores ou interesses comerciais. Isso pode levar os jornalistas a sentir que o seu trabalho é restringido ou modificado para se alinhar com uma narrativa mais "segura" ou favorável aos interesses corporativos.

O público muitas vezes percebe que a imprensa tem um viés, mas essa percepção varia conforme a afiliação política do observador. Leitores e espectadores de direita tendem a ver os grandes consórcios mediáticos como inclinados para a esquerda, especialmente em questões sociais e culturais. Por outro lado, muitos na esquerda sentem que a imprensa serve aos interesses das elites económicas e tende a ser complacente ou alinhada com o status quo capitalista. A ascensão de plataformas digitais também contribuiu para a polarização dessa percepção. Muitos desses meios alternativos posicionam-se explicitamente contra o mainstream, alegando que serve aos interesses do poder estabelecido. A propriedade dos meios de comunicação é outro fator nessa percepção. Grandes conglomerados controlam uma parte significativa da imprensa, levando a críticas de que esses meios refletem os interesses de seus acionistas e proprietários. A concentração em poucas mãos é, para muitos críticos, uma das razões pelas quais há uma percepção de viés alinhado com o poder económico.

As redes sociais criaram "bolhas" onde diferentes segmentos da população consomem conteúdos que reforçam as suas próprias visões políticas, contribuindo para uma percepção de que os média do sistema são parciais ou insuficientes na cobertura de certos tópicos. Em Portugal, o panorama da percepção entre as direções dos órgãos de comunicação e os jornalistas segue algumas tendências observadas internacionalmente, mas também apresenta especificidades próprias ao contexto político e mediático do país.

A percepção de viés político na imprensa portuguesa é amplamente polarizada. Como em muitos outros países, leitores de direita tendem a acusar a imprensa de inclinação para a esquerda, especialmente nas questões sociais e culturais. Já os setores de esquerda, por sua vez, frequentemente criticam a complacência perante os interesses capitalistas com a sua linha editorial pró-establishment. Por exemplo, há uma percepção de que determinados meios têm uma relação mais próxima com o Partido Socialista (PS) ou, em menor grau, com o Bloco de Esquerda (BE), enquanto outros são vistos como mais próximos do Partido Social Democrata (PSD) ou até do Partido Comunista Português (PCP).

As direções dos principais meios de comunicação tendem a ser vistas como mais conservadoras e pragmáticas, especialmente em relação a questões que envolvem interesses económicos. Empresas de comunicação em Portugal como a Impresa (proprietária do Expresso e SIC) entram em competição com a Cofina (Correio da Manhã e CMTV), dado interesses financeiros divergentes. Os jornalistas, por outro lado, tendem a ser vistos como mais inclinados à esquerda, sobretudo em questões sociais, como igualdade de género, direitos LGBT e justiça social. Alguns estudos sugerem que há uma maior identificação pessoal dos jornalistas com valores progressistas, embora essa inclinação seja muitas vezes limitada pelas direções e políticas editoriais.

Títulos como o Público e o Expresso são, por vezes, acusados de terem uma cobertura mais inclinada à esquerda em temas culturais e sociais, especialmente pelos críticos à direita. O Público, em particular, é frequentemente acusado de dar voz a intelectuais progressistas e ativistas. Por outro lado, estes mesmos meios são criticados pela esquerda mais radical, que os considera excessivamente centristas e alinhados aos interesses económicos dominantes. O Correio da Manhã, que é um dos jornais mais vendidos em Portugal, é frequentemente visto como populista e conservador, tanto nas suas reportagens sensacionalistas como na sua linha editorial, sendo amplamente criticado pela esquerda por fomentar um discurso punitivo e anti-imigração.

A RTP, sendo uma televisão estatal, enfrenta críticas de ambos os lados do espectro político. A direita muitas vezes acusa a RTP de ser inclinada ao PS, enquanto setores mais à esquerda veem a emissora como excessivamente alinhada ao poder económico e ao status quo político. As televisões privadas, como a SIC e a TVI, também são objeto de críticas regulares. A SIC, por exemplo, é frequentemente vista como mais próxima de uma linha centrista ou moderada, enquanto a TVI, dependendo da fase de direção, é vista como mais populista em determinados programas e debates. A CMTV é criticada pela sua abordagem sensacionalista e, tal como o seu jornal irmão, o Correio da Manhã, é vista como uma plataforma de direita populista.

O surgimento de plataformas digitais, como o Observador, trouxe novos atores ao cenário mediático. O Observador é frequentemente descrito como um meio de comunicação com uma clara inclinação liberal, referência para muitos leitores de direita. Por outro lado, meios como o Esquerda.net, ligado ao Bloco de Esquerda, dão voz à perspectiva da esquerda radical. Alguns meios independentes como o Setenta e Quatro ou o Fumaça são percebidos como mais inclinados à esquerda, com uma abordagem crítica e ativista em relação ao governo, à desigualdade e às questões ambientais.

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