“Os EUA vão assumir o controlo da Faixa de Gaza e faremos um trabalho com isso também”, anunciou Trump, revelando o que chamou de “propriedade a longo prazo” e plano de reconstrução para o território, grande parte do qual foi reduzido a escombros após 15 meses de guerra entre Israel e o Hamas. Os ataques aéreos israelitas danificaram ou destruíram cerca de 60% dos edifícios, incluindo escolas e hospitais, e cerca de 92% das casas, segundo as Nações Unidas.
“Nós seremos donos e seremos responsáveis por desmantelar todas as bombas perigosas não detonadas e outras armas no local, nivelar o local e nos livrar dos edifícios destruídos”, afirmou o presidente americano na terça-feira. Não está claro como exatamente a apropriação de terras proposta por Trump funcionaria, e analistas lançaram dúvidas sobre a viabilidade do seu plano. A maioria dos dois milhões de pessoas que vivem em Gaza não vai querer sair. E é proibido serem removidas à força pela lei internacional. Nenhum Exército árabe vai transportar pessoas contra sua vontade para fora de sua terra natal. Já existem cerca de 5,9 milhões de refugiados palestinos em todo o mundo, a maioria deles descendentes de pessoas que fugiram com a criação de Israel em 1948.
Metade da população de Gaza já era formada por refugiados de fora da faixa costeira. Aproximadamente 90% dos moradores de Gaza foram deslocados na última guerra, e muitos foram forçados a se mudar repetidamente, alguns mais de 10 vezes, segundo a ONU. Pode-se argumentar que a solução de Trump é pragmática, quando se pergunta se os palestinos serão masoquistas. Mas também é simplista demais. O apego de um povo que se identifica com um determinado pedaço de terra é atávico. É a Pátria. “Por que eles iriam querer retornar? O lugar tem sido um inferno”, disse Trump, enquanto um repórter gritava: “Porque é o lar deles”. Em vez de Gaza, Trump sugeriu que os palestinos recebessem um “bom, fresco e belo pedaço de terra” para viver.
A ocupação ou o bloqueio não podem ser usados para justificar completamente os erros internos, práticas autoritárias e discriminatórias de grupos palestinos, e o terrorismo do Hamas. O Hamas, que governa Gaza desde 2007, tem sido amplamente responsabilizado pela repressão política, corrupção, violações de direitos humanos e pela imposição de normas sociais obedientes à Sharia. Ora isso é tudo contrário à Carta das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Além disso, o uso de violência, incluindo ataques terroristas, prejudica a causa palestina e agrava o sofrimento da população.
A ocupação e o bloqueio criam um contexto que exacerba essas questões, mas não devem ser uma desculpa para evitar críticas legítimas aos erros internos das lideranças palestinas. Assim como é injusto desconsiderar os impactos estruturais da ocupação, também é necessário reconhecer que a responsabilidade pelas condições de vida dos palestinos não é apenas externa, mas também fruto de escolhas internas das lideranças e da fragmentação política entre grupos como o Fatah e o Hamas.
Por conseguinte, a piedade e discursos idealistas, por si só, não resolvem problemas estruturais profundos. No caso de Gaza, a situação atual é o resultado de décadas de conflitos, bloqueios, má gestão interna e a brutalidade dos ciclos de violência. As lideranças locais têm muita culpa, tanto por priorizarem esforços bélicos em vez de bem-estar civil quanto por falharem em construir instituições que promovam o desenvolvimento sustentável e a prosperidade da população. Por outro lado, as faltas de uma solução política para o conflito agravam enormemente a situação. Mesmo com ajuda humanitária e esforços internacionais, a destruição em Gaza é vasta, e a economia está em colapso. Uma infraestrutura incapaz de atender às necessidades básicas de milhões de pessoas.
Os "bem-pensantes" que defendem abordagens puramente idealistas, desconhecem a profunda realidade do conflito, limitando-se apenas a uma retórica típica de quem só olha para o ar do tempo. Sem mudanças estruturais concretas a realidade da população de Gaza dificilmente mudará. Ao mesmo tempo, estratégias unilaterais baseadas apenas na força ou repressão também não têm gerado soluções duradouras, como demonstra o estado atual da região. A verdadeira elevação de um povo exige paz, e políticas realistas que combinem investimento. Neste caso muito investimento para a habitação, saúde e educação. Mas quanto à questão económica, as oportunidades serão sempre muito escassas. Mas antes de tudo isso são necessários os líderes certos no momento certo. E onde estão eles?
O Hamas nunca fez isso em Gaza, antes pelo contrário. E a Autoridade Palestina tem-se revelado muito incompetente, fraca e corrupta. Ambos igualmente prejudiciais para o avanço do povo palestino. O Hamas, que controla Gaza, tem priorizado políticas militares e de confronto, enquanto negligencia o desenvolvimento social e económico da região. Além disso, sua repressão interna, autoritarismo e o uso de Gaza como base para ataques contra Israel resultaram em retaliações devastadoras, deixando a população civil numa situação desesperada. Já a Autoridade Palestina, liderada pelo Fatah em Ramallah, tem enfrentado grandes dificuldades para governar com eficiência. Corrupção endémica, fraqueza institucional e falta de legitimidade entre os próprios palestinos minaram a sua capacidade de implementar reformas significativas ou alcançar avanços políticos na busca de um Estado palestino viável. Essa liderança enfraquecida não conseguiu negociar uma solução com Israel nem oferecer uma alternativa convincente à resistência armada promovida pelo Hamas. Ambas as lideranças falharam em fornecer à população palestina uma visão unificada e uma estratégia viável para superar os desafios históricos e atuais. Isso deixou o povo palestino preso entre a repressão militar de Israel, a estagnação política e a falta de progresso económico, enquanto a devastação em Gaza se torna cada vez mais insuportável.
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