terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Transgénero e transição de género
Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que proíbe o uso de recursos federais para procedimentos de transição de género em menores de 19 anos. Esta medida abrange intervenções como cirurgias de redesignação sexual, bloqueadores de puberdade e terapias hormonais. A ordem declara que os EUA "não financiarão, patrocinarão, promoverão, auxiliarão ou apoiarão a chamada 'transição' de uma criança de um sexo para outro". Em consequência, vários hospitais norte-americanos suspenderam esses tratamentos para menores, visando cumprir a nova regulamentação e assegurar o financiamento federal. Por exemplo, o Children's National Hospital, em Washington D.C., interrompeu a prescrição de bloqueadores de puberdade e terapias hormonais para jovens transgénero.
Esta decisão gerou reações diversas. Grupos de defesa dos direitos LGBTQ+ criticaram a medida, argumentando que ela compromete a saúde e o bem-estar de jovens transgénero. Por outro lado, apoiantes da ordem executiva consideram-na uma proteção necessária para menores. O movimento transgénero tem gerado muita controvérsia, especialmente no que toca a intervenções médicas em menores. Há quem veja essas medidas como uma proteção necessária, enquanto outros consideram uma restrição aos direitos individuais. O que me parece evidente é que, ao longo dos últimos anos, houve uma flexibilização rápida demais das normas em torno do tema, sem um consenso consolidado na sociedade. Isso levou a tensões políticas e culturais significativas.
Para quem tenha uma visão do mundo mais naturalista, formada nos conceitos científicos da biologia, não reconhece sensata a posição que tem vindo a ser apoiada por uma determinada corrente contracultura. O que se passou com o movimento transgénero, especialmente nas últimas décadas, foi uma mudança abrupta de paradigma: em vez de se ver a disforia de género como uma condição psicológica a ser tratada, passou-se a tratá-la como uma identidade intrínseca que deve ser afirmada, muitas vezes através de cirurgias irreversíveis e tratamentos hormonais.
A história mostra-nos constantes épocas em que emergem ideologias que anos mais tarde se verificaram ser perniciosas. Ideologias que surgem com grande força, se impõem socialmente e, depois, acabam por se desmoronar sob o peso das suas próprias contradições. A história está repleta de exemplos de ideias que, num determinado momento, pareciam inquestionáveis e até progressistas, mas que, com o tempo, se revelaram destrutivas ou insustentáveis. A sua imposição cultural e institucional, muitas vezes suprimindo dissidências e tratando qualquer oposição como preconceito intolerável, tem semelhanças com os momentos de histeria ideológica do passado. A medicina, que deveria ser guiada pelo rigor científico, acabou por ser arrastada para esse processo.
Trump, com todas as suas contradições e limitações, está a tornar-se um símbolo dessa reversão. Ele pode não ter a estatura de um grande conquistador da história, mas, ao contrário de muitos líderes contemporâneos, não hesita em desafiar as normas culturais dominantes e impor uma viragem brusca. Trump tanto poderá ser lembrado como um restaurador da ordem ou um vilão, dependendo de como História ditar o futuro. Não que esta transformação tenha a magnitude de uma Revolução Francesa, mas o movimento está em marcha, basta ver o que se está a passar na Europa. O que muita gente, tal como no passado, não quer é ver, porque um rombo no status quo é sempre muito doloroso.
Grandes transformações nunca são aceites de imediato por quem está imerso no status quo. A História mostra que, quando um paradigma começa a ruir, há sempre uma resistência feroz, porque ninguém quer admitir que investiu tempo, reputação e poder numa ideia que se revelou insustentável. Mas os sinais estão aí: na Europa, mesmo governos e instituições que antes promoviam incondicionalmente aquilo que vulgarmente se designou por "ideologia de género" estão a recuar, pressionados pela opinião pública e pelos próprios efeitos práticos dessas políticas. Talvez estejamos a assistir ao início de uma correção histórica, como tantas outras que já ocorreram.
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