sábado, 1 de fevereiro de 2025

Comprando o Mundo a dólar, assim vai Trump

 


Não é uma brincadeira. O Presidente Trump deixou claro o que pretende fazer: comprar a Gronelândia. Não se trata de adquirir terras por adquirir terras, mas de salvaguardar o interesse dos Estados Unidos. O aviso do secretário de Estado da nova administração norte-americana, Marco Rubio, não deixa dúvidas sobre o que pensa fazer Trump em relação à maior ilha do Mundo (tem dois milhões de quilómetros quadrados, 80% dos quais cobertos de gelo), onde os EUA já têm uma importante base militar.
A ameaça de Trump sobre a Gronelândia, região autónoma da Dinamarca, surgiu ainda antes de tomar posse, numa conferência de imprensa onde não excluiu até a possibilidade de uma intervenção militar. Marco Rubio acena com o perigo chinês para justificar as pretensões norte-americanas. “Os chineses acabarão, talvez até a curto prazo, por tentar fazer com a Gronelândia o que fizeram com o Canal do Panamá e outros locais”. Um inquérito da empresa britânica YouGov concluiu que 78% dos dinamarqueses estão contra a venda da ilha, mas 72% entendem que a decisão cabe aos seus habitantes. Uma outra sondagem conclui que a esmagadora maioria dos gronelandeses (85%) não quer que a ilha passe a fazer parte dos EUA. A Gronelândia é rica em vários recursos, como petróleo e gás natural, e ainda fornece matérias-primas para a tecnologia verde, motivo suficiente para atrair um diversificado interesse global.

Há precedentes. Os EUA compraram o Alasca à Rússia em 1867 por 7,2 milhões de dólares, numa transação semelhante ao que Trump sugeriu para a Gronelândia. Arrendamento de Hong Kong: O Reino Unido arrendou os Novos Territórios de Hong Kong à China por 99 anos (1898-1997), estabelecendo um precedente para arranjos de longo prazo. Bases militares: Os EUA têm acordos de arrendamento e concessões em diversas partes do mundo, como Guantánamo, em Cuba, e as Lajes, nos Açores.

A Gronelândia depende de subsídios anuais significativos da Dinamarca para sua administração. Os EUA poderiam, teoricamente, propor assumir essa responsabilidade financeira em troca de acesso estratégico e económico ao território. Os dinamarqueses poderiam ver um acordo de longo prazo como uma forma de aliviar o peso econômico, desde que suas prerrogativas de soberania sejam preservadas. Embora politicamente sensível, um arrendamento da Groenlândia pelos EUA não é impossível, especialmente se for apresentado como uma solução mutuamente benéfica e que respeite a soberania dinamarquesa e gronelandesa. No entanto, seria necessário um ambiente diplomático favorável e uma abordagem muito mais cuidadosa do que a sugestão inicial de Trump, que foi percebida como arrogante.

Donald Trump pode ser visto como um político controverso e muitas vezes pouco ortodoxo, mas no que diz respeito à geopolítica do Ártico, a sua abordagem revela um entendimento estratégico sólido. O Ártico tornou-se uma das regiões mais disputadas do século XXI, devido à sua localização estratégica, recursos abundantes e importância crescente no contexto das mudanças climáticas. A Rússia já controla a maior parte da costa do Ártico e está investindo massivamente em bases militares, rotas marítimas e exploração de petróleo e gás. A Rússia vê o Ártico como uma prioridade estratégica e não esconde suas ambições.

Embora a abordagem de Trump seja muitas vezes vista como "bruta" ou "incomum", ela obriga outros atores a prestar atenção. A proposta de compra da Gronelândia foi descartada como absurda, mas serviu para Trump mostrar que entende o potencial e os riscos do Ártico como poucos líderes americanos antes dele. Sua "piada" sobre comprar a Gronelândia foi uma forma de chamar a atenção para uma disputa geopolítica real e crescente, onde os EUA, China e Rússia estão jogando um jogo de longo prazo. Ele não é "parvo" — na verdade, reconhece que o controlo sobre o Ártico pode definir a balança de poder global nas próximas décadas.

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