quarta-feira, 11 de março de 2020

A Obscuridade, e a questionabilidade da realidade



Byung-Chul Han, com o tópico “A Sociedade da Transparência”, afirma que a sociedade da transparência não é desprovida apenas de verdade, mas também de aparência.

Byung-Chul Han estudou metalurgia na Universidade da Coreia em Seul antes de se mudar para a Alemanha na década de 1980 para estudar Filosofia e Literatura Alemã em Friburgo e Munique. Obteve o seu doutoramento com uma dissertação sobre Martin Heidegger em 1994. Em 2000, ingressou no Departamento de Filosofia da Universidade de Basileia. Em 2010, tornou-se membro do corpo docente da Universidade de Artes e Design de Karlsruhe, dedicando-se a um vasto leque de temas filosóficos e culturais, Desde 2012 leciona filosofia e estudos culturais na Universidade der Künste Berlin, onde dirige o recém-criado programa de estudos gerais do Studium Generale . É autor de duas dezenas de livros, dos quais os mais recentes são tratados sobre o que chama de "sociedade do cansaço" ( Müdigkeitsgesellschaft ), "sociedade da transparência" ( Transparenzgesellschaft ), buscando identificar modos de desconstrução nas práticas contemporâneas do capitalismo chinês.
O trabalho atual de Han se concentra na Transparência como uma norma cultural criada pelas forças neoliberais do mercado, que ele entende como o insaciável impulso à divulgação voluntária na fronteira com o pornográfico. Segundo Byung-Chul Han, os ditames da transparência impõem um sistema totalitário de abertura à custa de outros valores sociais, como vergonha, sigilo e confiança.

“Nem a verdade, nem a aparência são tão aparentes. Só o vazio é completamente transparente. É para afastar este vazio que uma massa de informação é posta a circular. A massa de informação e de imagens é uma plenitude na qual se deixa ainda apreender o vazio. Um aumento de informação e de comunicação, por si só, não esclarece o mundo. A transparência tão pouco assegura clarividência. A massa de informação não gera qualquer verdade. Quanto maior é a informação que se mobiliza, mais intrincado se torna o mundo. A hiperinformação e a hipercomunicação não injetam luz na obscuridade.

O mundo não é hoje um teatro onde se representem e leiam ações e sentimentos, mas um mercado onde se expõem, vendem e consomem intimidades. O teatro é um lugar de representação, enquanto o mercado é um lugar de exposição. Hoje, a representação teatral cede o seu lugar à exposição pornográfica. A cultura da intimidade acompanha a queda de um mundo objetivo, público, que não é objeto de sensações e de vivências íntimas. A intimidade é a fórmula psicológica da transparência. Supõe-se alcançar a transparência da alma através da revelação dos sentimentos e das emoções íntimos, pondo assim a alma a nu. A esfera pública torna-se assim um lugar de exposição.

O equívoco dos positivistas foi darem toda a primazia à experiência, e relegarem para segundo plano a vivência. São os processos internos de expressão que entretecem o sentido da interação social numa dialética entre a aparência e a realidade.

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