sexta-feira, 20 de março de 2020

Por cada nova pandemia as pessoas sentem o mundo a desmoronar


A doença sempre fez parte da sociedade humana. Por exemplo, todos os anos a gripe (influenza) afeta entre 5 a 15 por cento da população mundial, e mata meio milhão de pessoas. O que agora é diferente com esta nova pandemia do vírus SARS-CoV-2 é ser mais rápida a alastrar e apanhar o ser humano desprevenido nas suas defesas imunitárias. Pouco depois do seu surto inicial já infectou todo o mundo. Ainda é cedo para fazermos as contas finais, mas tudo indica que desta vez, no fim, nada vai ficar como dantes. E, no entanto, já neste século XXI a humanidade se confrontou mais do que uma vez com uma ameaça parecida. Em 2003, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-1) foi a primeira, e apesar de ter representado uma ameaça grave à saúde pública de todo o mundo, e à estabilidade e crescimento das economias, já estava esquecida por todos nós. E no entanto essa tinha sido a propagação viral mais rápida da história humana. Ainda assim, medidas severas de quarentena travaram o que poderia ter sido uma catástrofe mundial. Retrospectivamente a SARS de 2003 foi a pandemia que não aconteceu. Dos que foram infectados, dez por cento morreram. E muitos sobreviventes ficaram com dificuldades respiratórias de longo prazo. O seu impacto na economia foi de pelo menos 40 mil milhões de dólares. A doença não foi completamente erradicada e, por enquanto, ainda não existe uma vacina segura para uso humano. E por agora deixemos de lado o Ébola, o H5N1, e o ZIKA.

Até agora, a humanidade tinha demonstrado estar à altura destes novos desafios globais de saúde pública. A OMS e as autoridades de saúde nacionais dos países-membros têm, na maior parte dos casos, contido as ameaças pandémicas desde a Segunda Guerra Mundial. Os peritos em epidemiologia e saúde pública têm sido praticamente unânimes na seguinte sentença: a humanidade, no seu conjunto, tem de mudar o seu padrão de vida, ditado de cima para baixo pela globalização. De outro modo, poderá comprometer a vida humana tal como a conhecemos hoje, com uma regressão aos tempos do Paleolítico. Mas será isso possível? Quer tenhamos nascido no seio da população rural pobre, numa favela ou bairro de lata; ou numa economia avançada - como podemos virar as costas às novas oportunidades, e negar a atração do progresso tecnológico? Já fomos testados muitas vezes e vencemos, é um facto, mas é também uma certeza da ciência biológica que os patógenos irão atacar implacavelmente as nossas populações cada vez com mais força, na medida em que é o nosso atual modo de vida que é uma oportunidade para estes novos coronavirus, e não o contrário.


Ao longo da sua história, Teodósia foi sucessivamente ocupada por gregos, tártaros, genoveses (sob o nome de Caffa ou Kaffa), pelos otomanos (sob o nome de Keve), polacos, cossacos, e enfim, pelos russos. Teodósia era um porto importante onde, no tempo dos genoveses (Caffa), podia acolher até 200 navios. Foi o centro de influência genovesa no norte do mar Negro. Os genoveses estabeleceram-se no local em 1281, mas logo tiveram que deixá-lo por causa dos ataques dos tártaros. Mas voltaram em 1312. No fim do século XV, a cidade tinha cerca de 70.000 habitantes - 80% genoveses - e havia-se tornado um centro comercial importante. Grande parte do comércio no mar Negro passava por Caffa, e os genoveses procuraram monopolizar esse comércio, com certo sucesso. 

É então em 1346 que um exército mongol, vindo de oriente, cerca a cidade. Trazem com eles vários cadáveres de soldados que haviam morrido de uma doença pestilenta. Os mongóis livram-se dos cadáveres de uma forma astuciosa. Sabendo o que estavam a fazer, atiraram-nos para dentro da cidade, ultrapassando os muros à força das catapultas. Irrompe assim uma epidemia em Caffa. Era a Peste Negra. O ar, rapidamente contaminado pelos cadáveres em decomposição, provocou uma grande mortandade na cidade. Os genoveses que ainda sobreviviam trataram de fugir da cidade. À medida que se deslocavam ao longo do Mediterrâneo, iam propagando a peste, e a morte. Entre 1347 e 1353, a Peste Negra dizimou 75 milhões de pessoas na Europa, reduzindo a sua população para cerca de metade. Nas ilhas Britânicas morreu 30 a 50 por cento da população. E a população de Florença decaiu em cerca de dois terços (de 120 mil antes da peste para 40 mil mais tarde).

Entre 1337 e 1453 os europeus passaram por uma série de conflitos travados entre a Casa Plantageneta que governava o Reino de Inglaterra, e a Casa de Valois, que governava o Reino de França, por causa da disputa da sucessão do trono francês. Foi a Guerra dos 100 anos. A tudo isto ainda se juntaram as conquistas otomanas desde 1352 e que culminaram na tomada de Constantinopla em 1453. Ora, todos estes acontecimentos fizeram regredir de tal forma a atividade económica em toda Europa, que levou os historiadores a considerar a data de 1453 como o marco da 2ª Queda do Império Romano: Império Romano do Oriente que afetou também por arrasto o Sacro Império Romano Germânico. A produção de bens alimentares decaiu por falta de camponeses para trabalharem os campos. E muitos dos que sobreviveram à peste acabaram por morrer de fome. As cortes europeias iam sucumbindo ao peso das dívidas internacionais que contraíam.

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