Será que a ciência
nos dá um conhecimento da realidade nua e crua, ou acrescentará alguma coisa
dada pela mente humana, em particular através da abstração matemática? Que as
teorias sejam dedutivamente fechadas, ou que as teorias sejam sujeitas a
experiências controladas, isso não gera grande confusão, ou desacordo, entre os
cientistas. Contudo, confrontados com um par de teorias rivais (e, portanto,
incompatíveis), uma das quais é mais precisa e a outra mais geral, os cientistas
podem perfeitamente divergir no que respeita à teoria a aceitar.
O problema da
indução – um dos problemas a que Karl Popper se dedicou, e a quem se deve a famosa
metáfora do “cisne negro” – é o problema levantado pela pergunta: “Podem
as hipóteses científicas ser verificadas?”. Muitas pessoas atribuem o enorme
sucesso da ciência à sua capacidade para verificar as teorias que produz recorrendo
à observação ou a provas experimentais. Uma resposta tentadora é dizer que as
afirmações universais resultam da observação e do raciocínio indutivo. Mas como
poderemos saber que as afirmações universais da ciência são verdadeiras? O
problema desta resposta é que levanta outro problema: “como podemos justificar
o raciocínio indutivo?” Ao contrário do que acontece na dedução, não há na
indução regras simples que permitam distinguir os bons raciocínios dos maus.
Para Popper –
em “A Lógica da Pesquisa Científica” (1935), a obra que o celebrizou e
na qual apresentou uma forte crítica ao verificacionismo, defendido
pelos filósofos positivistas do Círculo de Viena – testar uma teoria é tentar
falsificar as suas conclusões. Uma teoria que não fosse suscetível de ser
testada e de poder ser falsificada, para Popper, não merecia o estatuto de uma
teoria científica. Era o caso da psicanálise, e das teorias de Freud, dado que
o seu tipo era de tal ordem fechada que não abria espaço à falsificabilidade.
A filosofia da
ciência é diferente de outras disciplinas que também estudam a ciência, como é
o caso da epistemologia e da metafísica. Por exemplo, levantam problemas de
natureza epistémica perguntas como: se a ciência é objetiva; de que modo se
obtém o conhecimento científico; como se distingue a ciência do que não é
ciência. Estas perguntas reportam-se direta ou indiretamente à questão da
justificação do conhecimento científico. Por outro lado, levantamos problemas
de natureza metafísica ao fazermos perguntas como: o que significa dizer que
uma coisa é causa de outra; o que é uma explicação científica; de que tipo de
objetos trata a ciência; o que é uma lei da natureza. Estas perguntas incidem
sobre a natureza última das coisas. A filosofia da ciência tem mais a ver com
os problemas de ordem empírica. Mas o filósofo da ciência, diferentemente do
cientista, não se dedica à investigação científica (a não ser que seja ao mesmo
tempo um filósofo e um cientista). Ele estuda sistematicamente os métodos
usados pelos cientistas, e a natureza dos seus postulados.
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