Até à queda do Muro de Berlim, 1989, muito para lá das fronteiras da Alemanha, e da auto-exaltação da Casa de Áustria, a Europa ficou presa na tenaz das novas potências mundiais: Washington a oeste e Moscovo a leste. Longe iam os tempos de Carlos V, sobre os ombros do qual assentava um globo abraçado por uma grinalda com a divisa: “quam grave ónus”. Onus orbis – outra expressão mais do que a grinalda retórica, exprimia a presunçosa expansão. Em 1493, o papa Alexandre VI concedia aos espanhóis e portugueses, na sua bula Inter cetera, o direito de soberania sobre os novos mundos descobertos a ocidente. Era o Tratado de Tordesilhas com a imprescindível bênção romana.
Nunca como nestes dias recentes, da ausência da Europa, o tempo de vida passado pareceu tão inútil e vazio. É o espírito da aniquilação do tempo. O europeu de hoje já não está condenado à liberdade, como dizia Sartre, mas à frivolidade. Na qualidade de consumidores, ao termos de escolher num menu a 27 paladares, desenraizamo-nos da nossa terra. A grande oportunidade agora é devorarmo-nos a nós próprios sem fundamento. Não é porque os mortos parecem ser a maioria, embrulhados em sacos de plástico preto. É porque os vivos vacilam, em vertigem, nas areias movediças.
Sem comentários:
Enviar um comentário