segunda-feira, 30 de março de 2020

A poluição e os limites do crescimento


A poluição do ar caiu drasticamente nas cidades do mundo, pelas restrições impostas para fazer face à  pandemia. A Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA na sigla original), admite que as condições de saúde causadas pela poluição crónica do ar das cidades podem ter influenciado na maior morbilidade das pessoas à infecção pela Covid-19. Mas, por outro lado, os resultados do confinamento já efetuado por cerca de metade da população mundial, já se nota através das imagens recolhidas por via satélite que as cidades estão hoje muito mais limpas. E à medida que as restrições e o confinamento imposto pelos governos continuar, com a drástica redução da circulação no tráfego aéreo e rodoviário, mais visível se tornarão os efeitos que a poluição estava a ter à volta do globo. 

A EPHA diz, num comunicado divulgado esta segunda-feira, que houve uma redução do dióxido de nitrogénio e de partículas finas que resultam do tráfego rodoviário, o que pode trazer algum alívio às pessoas infetadas pelo novo coronavírus, que provoca a doença covid-9. Mas nota que a poluição crónica do ar é um importante propiciador de doenças pulmonares e cardíacas, ligadas a taxas altas de mortalidade por Covid-19. A verdade é que a poluição é uma questão de "vida ou de morte". "O estrago já está feito. Anos a inspirar ar poluído do fumo dos carros e de outras fontes enfraqueceram a saúde de todos aqueles que estão agora envolvidos numa luta de vida ou de morte contra a Covid-19".


Estas notícias fizeram-me lembrar o famoso relatório publicado em 1972 , intitulado "Os Limites do Crescimento", e que foi apresentado pela primeira vez em Berlim, em outubro de 1972, na reunião anual do Clube de Roma. A crise do petróleo tinha sido discutida e cento e cinquenta personalidades de todo o mundo que estiveram presentes tomaram consciência que a vida na Terra estava em perigo. No entanto nada aconteceu. O mundo continuou indiferente e, passados poucos anos, ninguém sabia o que era o Clube de Roma e aquilo para que nos tinha alertado. Tudo continuou como dantes e a sociedade de consumo ia-se afirmando com todo o seu esplendor.


Todo o mundo estava contente com a evolução industrial e a sua deslocalização para oriente. Os baixos preços estavam a fornecer a um número cada vez maior de pessoas uma quantidade relativamente grande de coisas que até aí estivera reservadas a um pequeno número de privilegiados. Era evidente que se tinha formado uma nova sociedade sedenta de riquezas e de prazeres que a longo prazo iria provocar uma ainda mais chocante desigualdade entre classes e nações.

O relatório deu em livro "Limits of Grouth - The 30-Year Update", que mostrava as consequências da interação entre os sistemas do planeta Terra com os sistemas humanos. Cinco variáveis foram examinadas no modelo original, assumindo-se que o crescimento exponencial descreve os seus padrões de crescimento: população mundial, industrialização, poluição, produção de alimentos e esgotamento de recursos. Em 2008 Graham Turner, publicou um artigo intitulado "Uma comparação de 'Os Limites do Crescimento' com trinta anos de realidade". Nele examinou os últimos trinta anos de realidade com as previsões feitas em 1972 e descobriu que mudanças na industrialização, produção de alimentos e poluição estão todas coerentes com as previsões do livro de um colapso económico e social no século 21.

O relatório, que ficaria conhecido como Relatório do Clube de Roma ou Relatório Meadows, tratava de problemas cruciais para o futuro desenvolvimento da humanidade tais como energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional. A publicação vendeu mais de 30 milhões de cópias em 30 línguas, tornando-se o livro sobre ambiente mais vendido da história.

Utilizando modelos matemáticos, o MIT chegou à conclusão de que o Planeta Terra não suportaria o crescimento populacional devido à pressão gerada sobre os recursos naturais e energéticos pelo aumento da poluição, mesmo tendo em conta o avanço tecnológico.

Alguns críticos dizem que a análise e as projeções do cenário futuro apresentados no livro mostraram-se equivocadas, uma vez que nenhuma das previsões, tanto nos aspectos de esgotamento dos recurso naturais, como da evolução dos processos produtivos se confirmaram. Outros cientistas, como o Prof. Jorge Paes Rios, da UFRJ e da Université de Grenoble - França, concordam com a maioria das conclusões do Relatório sendo apenas questão de tempo, aliás como mostra o próprio relatório baseado em modelos matemáticos. Afirma Rios, na sua tese, que como todo modelo matemático global podem existir algumas imprecisões ou mesmo simplificações, o que não invalida as conclusões principais.


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