Houve um tempo que os médicos davam como exemplo flagrante de uma pessoa com Perturbação Obsessiva Compulsiva – POC – andar constantemente a lavar as mãos e ter a obsessão das limpezas. Os médicos pensavam que essas pessoas tinham muito medo de contrair uma doença terrível. Mas não era o caso. Assim, quando alguém me contava uma história sugestiva, delicadamente dizia-lhe que consultasse um psiquiatra.
Hoje, contudo, a maioria das pessoas que sofrem de POC preferem ser tratadas por psicólogos e não por psiquiatras. Mas também é verdade que o quadro clínico se tornou muito mais complexo, para começar, que a POC não é uma doença mental mas sim uma perturbação, ou transtorno, conforme as escolas ou os países. Os estudos encontraram dois padrões bem distintos: Perturbação Obsessiva-Compulsiva da Personalidade (POCP) – pessoa sistemática e extremamente metódica, que presta muita atenção aos pormenores, e apenas sente uma forte aversão pela sujidade; Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC) – uma pessoa cuja vida diária é perturbada pela intrusão de pensamentos indesejados, e é compelida a fazer coisas que sabe perfeitamente serem indesejadas, mas que ainda assim não consegue controlar.
Os pensamentos intrusivos e obsessivos parecem não vir de lado nenhum, são irracionais. Nem todos vivem a POC da mesma maneira. Há casos em que é apenas um único pensamento intrusivo de cada vez. Alguns pensamentos intrusivos permanecem na mente durante dias ou semanas. Enquanto outros duram apenas uns minutos. Para a maioria das pessoas, os pensamentos intrusivos são aquilo que as incomoda, enquanto as compulsões são um alívio, ainda que temporário.
Há quem sofra de POC e descreva aquilo que parece uma inversão da relação causa-efeito – pensamento-compulsão. A compulsão assemelha-se mais a um tique, aparece primeiro. Apenas sentem a necessidade de o fazer, como por exemplo dar toques com a mão. Se resistem para o não fazer é que ficam ansiosos. É a situação perturbadora que essas pessoas sentem em locais elevados, como por exemplo, em pontes. O pensamento intrusivo é pensar que querem saltar, mas verdadeiramente não querem. Chamam a este fenómeno “atração pelo abismo”.
As duas perturbações não são totalmente distintas, e os traços e os sintomas de uma delas podem aparecer em alguém que sofre da outra. Mas enquanto a POC se define por ideias egodistónicas angustiantes que colidem com a noção do tipo de pessoa que somos, a POCP tende a ser egossintónica, em que as pessoas estão de acordo com os seus desejos e necessidades, e por isso são bem aceites. Enquanto a POC torna a vida do próprio um inferno, a POCP torna infernal a vida dos outros. A POC pode obrigar a lavar as mãos duzentas vezes por dia a uma pessoa, e, todavia, pode não mudar de roupa interior durante semanas. Ou então pode ter apenas um determinado compartimento num brinco, e o resto da casa um pandemónio.
Ora, como os casos graves de POC podem ser confundidos com a POCP, ou podem coabitar com outros problemas mentais no mesmo paciente, acontece que há uma percentagem de pessoas sem o diagnóstico ou com o diagnóstico errado.
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