sábado, 24 de abril de 2021

A polarização da Esquerda





«Não é verdade que só a direita é corrupta. Não. A esquerda também. Nem é verdade que só a esquerda é corrupta. Não. A direita também. E a melhor corrupção é a que consegue uma espécie de apólice de seguro de vida que é a convergência entre esquerda e direita. É falso que a corrupção seja só da autoria dos políticos. Nem que só beneficie os políticos. A corrupção pode ser da autoria de muita gente e também beneficiar muita gente. Em todas as camadas sociais, profissionais e económicas. Mas podemos ter a certeza de que a corrupção beneficia poucos e prejudica muitos. É errado pensar que a corrupção começa e acaba sempre em dinheiro, nos bolsos e nas contas offshore. Muito do que é essencial na corrupção inclui círculos de poder, autorizações, nomeações, concursos, parcerias, vantagens, privilégios, posição social, poder de decisão… Importância! Há uma luta feroz em curso, que, a desenvolver-se, pode ser perigosa. É a que opõe dois campos antagónicos. De um lado, os que entendem que os políticos têm direitos especiais, que servem o povo e que devem como tal ser recompensados e respeitados. Do outro lado, os que pensam que os políticos são uns párias, vivem à custa dos outros e exercem o poder no seu exclusivo interesse. Estes dois campos estão bem presentes em Portugal, começam a dar sinais de vigor e envenenam o debate político. Evitá-los é urgente.» [António Barreto]


Em linhas muito gerais, a maioria dos arranjos políticos estão organizados numa distribuição cuja imagem é representada pelo hemiciclo em forma de leque do Parlamento ou Assembleia da República, onde os deputados de esquerda estão sentados à esquerda de quem os vê de frente; e os deputados de direita à direita de quem os vê. Este alinhamento remonta originariamente ao arranjo dos assentos no Parlamento Francês após a Revolução Francesa. Os radicais sentados à esquerda e os aristocratas sentados à direita. Depois disso vieram as Revoluções Liberais, com mais do que um tipo de liberalismo: liberalismo social, situado à esquerda, e liberalismo clássico situado à direita. Com a Revolução Russa Comunista, que deu lugar à União Soviética, o socialismo e o comunismo passaram a ser ideologias de esquerda, em confronto com o conservadorismo de direita, e o fascismo.

A ciência política e os cientistas políticos têm notado frequentemente que um único eixo [esquerda-direita] é simplista demais e insuficiente para descrever a variação existente nas crenças políticas, e por isso, surgiram outros eixos. Embora as palavras descritivas nos polos opostos possam variar, consideram-se mais úteis os espetros com um eixo horizontal e um eixo vertical: em que o eixo horizontal comporta as questões de ordem económica: e o eixo vertical as questões socioculturais.

O radicalismo, em filosofia política, pode ser definido como uma ideologia que se serve da ação revolucionária com o fito de transformar a sociedade segundo os valores dessa ideologia, geralmente utópica. 
O radicalismo tem as suas raízes no final do século XVIII e início do século XIX, ou seja, nos anos que se seguiram à Revolução Francesa. Em Portugal os radicais foram os Republicanos, que efetivaram o derrube da Monarquia com um programa muito semelhante aos radicais franceses à frente de um regime republicano. O radicalismo é politicamente inflexível, opondo-se a tudo e a todos os moderados cuja proposta de mudança é pela via de reformas constitucionais. Os radicais defendiam reformas e ações disruptivas e de luta social, que eram consideradas por outros grupos políticos como desestabilizadoras da ordem constitucional.

O extremismo, em política, refere-se a doutrinas ou modelos de ação política que preconizam soluções extremas, radicais e revolucionárias, para os problemas sociais. Frequentemente está associado ao dogmatismo, ao fanatismo e às tentativas de imposição de estilos e modos de vida, bem como à negação radical de valores vigentes. O extremismo indica a tendência a um comportamento ou a um modelo de ação política que rejeita as regras de uma comunidade política, não se identificando com as suas finalidades, valores e instituições. Na história política moderna e contemporânea, o extremismo foi adotado em diferentes ocasiões, por diversos movimentos sociais e políticos, de diferentes orientações ideológicas, principalmente em épocas críticas de intensa mobilização social e de profundas transformações económicas e institucionais.

Por terrorismo entendem-se as práticas políticas, individuais ou coletivas, amplificadas pela violência geradora de terror. Embora na França do final do século XVIII o vocábulo "terror" tenha sido apropriado para designar a violência revolucionária mobilizadora de sentimento nacional, a denotação contemporânea caracteriza ações criminosas contra inocentes e alvos simbólicos. O terrorismo não é guerra, porque enquanto que na guerra haveria uma declaração formal de hostilidades entre países e a provável isenção de inocentes e alvos não-militares nos conflitos bélicos, no terrorismo os inocentes e os alvos não-militares são os principais alvos das formas de ação.

Extrema-esquerda

Existem diferentes definições de extrema-esquerda. Existem algumas formas que se classificam de anarquismo e comunismo radical, e formas que se reclamam do anticapitalismo revolucionário e antiglobalização. A extrema-esquerda pode adotar atos violentos podendo atingir a forma de luta armada. Esta forma é hoje classificada como terrorismo de extrema-esquerda. 
Para distinguir a extrema-esquerda da esquerda, esta passa a ser considerada “moderada”, em contraponto com "radical" da extrema-esquerda. A extrema-esquerda rejeita a estrutura socioeconómica subjacente ao capitalismo contemporâneo; e defendem estruturas económicas e de poder alternativas que envolvam a redistribuição dos recursos das elites mais ricas para a população mais pobre. A maioria dos grupos terroristas de extrema-esquerda que operaram nas décadas de 1970 e 1980 na Europa, desapareceram em meados dos anos 1990.

Esquerda

Atualmente, o termo "esquerda" tem sido usado para descrever uma vasta gama de movimentos, incluindo os movimentos pelos direitos civis que pugnam pelo igualitarismo, e movimentos ambientalistas. A imprensa contemporânea, ocasionalmente, usa os termos "esquerda" e "direita" numa lógica de opostos no debate público. O conceito de igualitarismo teoriza que a igualdade social é possível através da redistribuição dos recursos na mão dos capitalistas. A partir da segunda metade do século XIX, a esquerda ideológica iria adotar as correntes do socialismo e do comunismo de matiz 'marxista'. Foi efetivamente de particular influência a publicação do Manifesto Comunista de Marx e Engels, 1848, com a teoria de que a história de todas as sociedades humanas existentes até então era a história da luta de classes. Ele previa que uma revolução proletária acabaria por derrubar a sociedade burguesa, através da abolição da propriedade privada. E assim seria criada uma sociedade sem classes, sem Estado, e pós-monetária. A Associação Internacional dos Trabalhadores (1864–76), às vezes chamada Primeira Internacional, reuniu representantes de diversos países, e de diferentes grupos de esquerda, e organizações sindicais. Alguns contemporâneos de Marx defendiam ideias semelhantes, mas não concordavam com a sua visão de como chegar a uma sociedade sem classes e sem Estado. Após a cisão entre grupos ligados a Marx, e grupos ligados a Bakunin na Primeira Internacional, os anarquistas formaram a Associação Internacional dos Trabalhadores. E assim se formou a Segunda Internacional, em 1888, que, por sua vez, se dividiu em 1916 devido a divergências quanto à questão da Primeira Guerra Mundial. Aqueles que se opuseram à guerra, como Lenine e Rosa Luxemburgo, eram mais à esquerda do que o resto do grupo. Foi daqui que resultou a divisão: de um lado os sociais-democratas; do outro os comunistas.

A partir daqui a esquerda te estado associada a distintos sistemas económicos. A esquerda ligada à Internacional Socialista, segue uma economia mista, combinando o Keynesianismo e o estado social, para limitar o que considera serem os problemas do capitalismo. No entanto, prefere manter grande parte da economia no sector privado. A esquerda comunista defende a nacionalização em larga escala, baseada numa economia cooperativista de empresas em autogestão, preferindo um controlo local, em que regiões descentralizadas são unidas numa confederação. Segundo os comunistas, o desenvolvimento humano floresce quando os indivíduos se envolvem em relações de cooperação e de respeito mútuo. Uma sociedade que não seja substancialmente igualitária,  é minada pela corrupção e pelos privilégios. 

Centro-esquerda

Centro-esquerda, entre a esquerda e o centro, centra-se mais na variação entre certas opções políticas, como por exemplo no âmbito das chamadas questões fraturantes e justiça social, dentro das organizações pertencentes à esquerda, do que haver propriamente partidos com essa classificação dentro da esquerda. O termo pode-se referir à esquerda do centro num país específico ou num hipotético espectro político global. As pessoas que se autodenominam ou se colocam como sendo do centro-esquerda geralmente utilizam expressões de 'socialismo democrático' ou 'social-democracia' que ganhou roupagem com o advento da chamada Terceira Via de Tony Blair. Linha de pensamento contemporânea da ascensão da globalização e economia de mercado. Associado com o centro-esquerda estão algumas bandeiras tais como o reformismo, o ambientalismo e outras políticas chamadas progressistas.

Ativismo e Movimentos Sociais

Nas últimas três décadas, os Movimentos Sociais têm sido compreendidos como uma forma de ação coletiva sustentada a partir da qual atores que compartilham identidades ou solidariedades enfrentam estruturas sociais ou práticas culturais dominantes. Nuns casos o Estado não é – e nem deve ser – relevante. Noutros casos é visto como um inimigo, frente ao qual os Movimentos Sociais ou a Sociedade Civil têm que medir forças. Mais recentemente, a forte disseminação do uso do conceito de “redes sociais” tem tido como resultado uma pulverização heterogénea de protagonistas e organizações menos hierarquizadas. Veja-se o exemplo dos protestos e ações coletivas de ecologistas e ambientalistas. Neste ativismo ambiental ou ambientalista, a noção de "ativismo" assume denotações particulares, caracterizando perspetivas ideológicas específicas.

Tradicionalmente, o conceito de "ativismo" referia-se à ideia de ações coletivas politicamente orientadas, principalmente as que envolvem formas de protesto. Entre as décadas de 1960 e 1980 muita energia ainda era direcionada para a discussão sobre a legitimidade dos movimentos. Hoje os movimentos são legitimamente relevantes na transformação das sociedades. Esse conceito refletia ainda a influência do Marxismo de modo relativamente explícito. Entretanto, a transição para o Pós-Marxismo e para os estudos multiculturais tem-se baseado, em boa medida, no reconhecimento dos perigos da exclusão de certos tipos de ação social. O caso clássico é o das feministas pelo trabalho igual salário igual, a partir dos movimentos socialistas, cuja causa era vista como um “epifenómeno”.

Os movimentos sociais, agora inseridos nas redes sociais e na comunicação mediada pela Internet, readaptam as suas estruturas de poder e de coordenação de ações. Hoje, o poder é mais difuso, diluído em rede. O indivíduo é capaz de melhor estabelecer as suas conexões, selecionar conteúdos, produzir as suas mensagens e transmiti-las a um grande público, sem que  para isso tenha de pagar. Os efeitos dessa promiscuidade são notáveis em termos de mobilização social. As constantes transformações das dinâmicas das ações coletivas estão associadas aos recursos comunicacionais disponíveis. É nesse ambiente virtual da Internet que se desfraldam hoje bandeiras diversas em confronto direto.

A noção de “ativismo político”, em grande parte restringe-se a ações orientadas ideologicamente à esquerda. Uma grande parte da literatura refere-se às ações coletivas e aos movimentos sociais alinhados à esquerda. O ativismo, por definição, é essencialmente político. Mas novos movimentos sociais deixaram de estar submetidos a um comando que tradicionalmente era exclusivo de sindicatos e partidos políticos. Atualmente o ativismo passa por um tipo de “protesto criativo”, “consciência social” e “solidariedade”. O que é ambivalente na medida em que combina “ações radicais” com propósitos solidários.

A doutrinação e ativismo político nas escolas e universidades constituem uma importante questão social contemporânea. 
O ativista atual é mais um militante do que um revolucionário. O ativista defende os seus ideais, mas as suas ações não apresentam um caráter impositivo – muito embora se proponha a transformação de uma determinada realidade social. Visa desafiar mentalidades a pequenos passos. Em anos recentes tem sido enfatizada nas universidades a diversidade étnica, cultural e de género em detrimento da diversidade político-religiosa. Apesar da sua importância, a diversidade político-religiosa na academia padece de uma restrição progressiva. A crítica ideológica da ciência como aparelho opressivo acarreta um relativismo epistemológico e desvio de foco da atividade académica da busca de conhecimento para o ativismo político. O partidarismo político resulta de emoções morais profundas, as quais ao mesmo tempo que congregam as pessoas, dificultam o debate com argumentação lógica. Moralismo e a hegemonia do politicamente correto por parte de alegados proprietários dos valores da Democracia, tem resultado em coerção e cerceamento à liberdade de opinião. 

A forma da doutrina politicamente correta, e a vitimização fraudulenta associada a pequenos ressentimentos, acarreta a uma deriva incriminatória em excesso injustificado. A cultura institucional académica está impregnada de ativistas em prol da justiça social com um duplo padrão moral face a violações de códigos de conduta. Ora, isto tem constituído uma ameaça ao modelo clássico de universidade focada na investigação. Esse fenómeno é mais saliente na área de humanidades e educação, do que na área das ciências matemáticas. Os mecanismos subjacentes a este progressivo enviesamento ideológico da academia tem naturalmente múltiplas causas, pelo que questões complexas dificilmente são resolvidas com respostas simplistas. Por isso, não é fácil deslindar quem estigmatiza quem.

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