quinta-feira, 29 de abril de 2021

Deepfakes


Um exemplo de Deepfake:



Deepfake é um neologismo em língua inglesa, uma amálgama de falso e profundo, para denotar o que agora a inteligência artificial faz quando coloca num vídeo ou numa fotografia a figura de uma pessoa, inclusivamente a falar com a a sua voz mas o que outro disse, com o objetivo de um embuste. Portanto, enganar-nos, umas vezes por diversão apenas, outras vezes com maldade com intenção de prejudicar alguém. Ou seja, a criação de vídeos falsos para nos convencer que uma certa pessoa disse uma coisa, sem que de facto o tenha dito. E geralmente diz coisas para o comprometer ou deixá-lo ficar mal perante a opinião pública.

Deepfakes e FakeNews são parentes. E o fenómeno em si não é recente. O que é recente é a utilização das novas tecnologias que utilizam os algoritmos da Inteligência Artificial. Não é de agora o apetite pela divulgação de notícias falsas como se fossem verdadeiras. Aliás, o termo FakeNews, já existe desde o final do século XIX, segundo o dicionário Merriam-Webstar. Mas a sua popularização só apareceu depois da Internet. As FakeNews na Internet espalham-se seis vezes mais rápido do que as notícias verdadeiras nas plataformas das redes sociais. Alguns jornalistas e canais de comunicação têm-se dedicado com afinco a desmentir textos falsos ou divulgações enganadoras acompanhadas de imagens manipuladas, tanto fotográficas como vídeos. Mas teria de ser ainda muito mais. São especificamente os vídeos manipulados por inteligência artificial que passam melhor porque pouca gente acredita ser possível uma manipulação tão perfeita. Mas é real essa possibilidade chamada Deeepfake, que é capaz de clonar a voz de uma pessoa.

A partir do desenvolvimento desta tecnologia, naturalmente, passou-se a utilizar essa inovação tecnológica para a prática de atentados moralmente reprováveis. Por ser uma recente inovação tecnológica, não existe legislação específica que nos proteja dela, quando é utilizada para criar falsos vídeos de caráter sexual ou pornográfico de celebridades, ou falsos inimigos. Deepfakes também podem ser utilizadas para gerar notícias falsas, com intuito político malicioso. Danielle Citron – professora de direito de Universidade de Boston – diz: “É frustrante saber que atualmente a lei não pode fazer nada para defender quem tenha a sua imagem adulterada. 
É necessária uma reposta internacional coordenada e rápida”. Para ela, seria necessário classificar o conteúdo e o contexto de cada Deepfake. Mas distinguir uma falsificação danosa - de uma sátira de um humorista, de um caricaturista ou qualquer outra forma de expressão artística, ou até uma ilustração pedagógica de âmbito educativo - não é fácil. Em suma, as leis ainda não estão bem definidas para os crimes cometidos com o Deepfake

Deep learning é uma área da inteligência artificial onde os algoritmos reconhecem padrões a partir de um extenso banco de dados. O computador “entende” como aquele rosto se comporta quando fala, pisca os olhos, e como reage à luz utilizando milhares de vídeos de fotos daquela pessoa. Depois, ele cria um protótipo, que será analisado pelo próprio sistema para verificar se a imagem criada está de acordo com o esperado. Em caso negativo, ele repete a operação até chegar o mais próximo daquilo a que nós chamamos a realidade, vá-se lá saber o que é a realidade da perceção humana, e não da perceção canina ou felina. E o mesmo pode ser feito com a voz.

Grandes empresas e políticos estão preocupados com o avanço desta tecnologia. O Facebook, em 2019, anunciou um gasto de dez milhões de dólares na luta conta o Deepfake em sua plataforma. Um enorme desafio, pois quando utilizamos uma Inteligência Artificial para verificar a veracidade de um vídeo, é possível que ela aprenda a criar falsificações ainda mais poderosas. E mais, há redes criminosas que estão a utilizar estas tecnologias criando indivíduos falsos sintetizados virtualmente. Ou seja, inclusivamente, vídeos de pessoas que nunca existiram. O problema, nesse caso, surge quando esses criminosos utilizam  essas identidades virtuais para cometerem crimes no mundo financeiro. Nestes casos a impunidade é total. 

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