domingo, 11 de abril de 2021

Os viajantes





O Regresso de Williams B. Arrensberg – escultura em bronze de tamanho real, de Eduardo Urculo, situada na Plaza de Porlier, Oviedo, foi instalada em 6 de setembro de 1993, com uma orientação no sentido da Catedral de Oviedo. O viajante, de chapéu, sobretudo ou gabardine, guarda-chuva (
na Galiza, como em Bruxelas, está sempre a chover) e três malas. Talvez acabado de chegar de comboio, repousa um pouco enquanto contempla a cidade. 

José Saramago, ainda havia de vir a receber o Prémio Nobel de Literatura em 1998, em 15 de setembro de1993, quase com 71 anos de idade, viu adiada a operação às cataratas porque a enfermeira faltou por baixa médica. E isto já numa altura em que ele não tinha olhos a medir a tanto convite para viajar, fazer conferências, e sei lá mais um par de botas. Escreve no seu caderno de Lanzarote:
Depois de uma semana em Santiago de Compostela, que choveu sempre, na semana seguinte ia para Paris. Dali a um mês estaria em Estrasburgo. Depois Münster. A seguir Roma. E no dia 27 de novembro, depois de uma deslocação a Turim, partiria para Manchester, Edimburgo, Liverpool e Londres . . .
Então veio o desabafo:
Começa a parecer-me absurda esta maneira de viver.
Na Galiza acaba sempre por chover. Por isso, os de Santiago dizem aos caminhantes dos Caminhos de Santiago: "que não se esqueçam das botas".

A viagem faz parte da história da humanidade desde o seu começo. Exploradores de Grutas saíram do seu lugar e atravessaram o mar para o outro lado da noite, na busca de um outro lugar melhor que aquele. Condições de vida em outros lugares: resultou na criação de povoados; cidades; e a formação de culturas. Por um longo período, o ser humano deu-se bem como nómada, não fixando residência em nenhum lugar. Mesmo depois da criação de cidades, a viagem continuou a fazer parte da barganha com desconhecidos de outras regiões.

As civilizações vieram, e com elas veio a guerra. Depois vieram os Gregos, os homens do ócio, e veio Homero com a sua Odisseia. Depois vieram os Romanos, os homens do lazer, e os precursores do turismo. A vida das sociedades Greco-Romanas tinha valores e conceitos diferentes dos que temos hoje. O ócio e as viagens eram muito apreciados, ao contrário do trabalho, que era desprezado. Por isso havia escravos. Já me esquecia, Os Jogos Olímpicos, realizados na Grécia Antiga, são um exemplo de um evento turístico, que atraía multidões de diversas regiões.

Com a chegada da Idade Média, o homem fica preso à terra, e ao trabalho servil. As viagens por terra tornam-se perigosas, e de barco só para quem fosse rico, ou marinheiro da marinha mercante. Então a viagem passou a ter um outro sentido com a moda das peregrinações religiosas: Terra Santa, Meca, Santiago de Compostela. Os Caminhos de Santiago medievais, resultado da expansão do Cristianismo, foi um aproveitamento do que havia ficado dos tempos do Império Romano, com outros nomes. Um marco desse período foi a descoberta da tumba de Santiago, em Compostela, na Galiza. Os dogmas sempre foram bons nisso. Nesse período destacam-se a participação dos peregrinos, também denominados “palmeiros”, dentro do mundo das viagens, que cresciam de número com o aumento significativo das peregrinações a outros santuários espalhados pela Europa.

Constantinopla acabou por ser uma cidade decisiva, para o bem e para o mal. Para o bem, com as rotas de comércio para os Europeus. Para o mal, com a peste e outras epidemias. A partir da sua tomada pelos Turcos Otomanos, um povo muçulmano, Constantinopla passou a Istambul, e os Europeus foram forçados a encontrar novas rotas que os levassem ao Oriente, assim dando início ao período das Grandes Navegações, que impulsionou o mundo das viagens novamente. E foi nesta empreitada que entraram os Portugueses.

Com a Revolução Industrial, começada no século XVIII, veio o comboio. Thomas Cook, em 1841, freta um vagão e dá início à primeira excursão organizada do mundo, contando com um roteiro previamente estudado. E assim, empresas especializadas num turismo de novo tipo vão surgindo, assim como revistas e mapas. As viagens denominadas turísticas são voltadas para a satisfação dos povos, um investimento em nome do conhecimento, da cultura, e, está claro, do estatuto: O Expresso do Oriente; O Expresso Transiberiano; A Linha Ferroviária do Hejaz.

Depois vieram os aviões, e eu entretanto perdi-me, tudo foi tão rápido. Não sei como tudo aconteceu. . .

Eu não sei como tudo aconteceu
Tudo foi tão rápido
Um grupo de soldados cruzou o rio profundo e largo de madrugada
Todas as barganhas que havia para fazer foram feitas
A causa era nobre e o propósito era justo
É aquela velha história com um nome diferente
A seguir à noite veio a alvorada já nada os podia deter
Numa jangada com as bandeiras despregadas
Atravessaram o rio para a outra margem a cantar
Tudo foi tão rápido

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