quinta-feira, 15 de abril de 2021

Oro incenso & birra




Incivilire la malavita - civilizar a delinquência
Castigare la carne - castigar a carne
Oro bianco - ouro branco
Bruciare l’incenso - bajular
Birra chiara - cerveja branca


Civilizar é subjugar as pulsões, ou por outras palavras: as maldades, que nem todas são crime da alçada do direito penal. As outras são do direito cível. São os tais pecados segundo a religião: os primeiros, os do crime, são mortais ou capitais; e os segundos, os cíveis, são veniais.

Tivemos que fazer trocas, ceder liberdade para receber segurança. Para não sofrermos castigo, há que civilizar. A título individual ninguém deve gostar de ser civilizado, porque para nos civilizarmos implica inexoravelmente sermos coagidos.

A Civilização foi necessária para que tivéssemos umas relações mais humanas, para o bem da sociedade. Mas é algo que teve sempre de ser imposto por uma minoria a uma maioria refratária. E será sempre assim em Civilização.

Os seres humanos não tiveram outro remédio senão viver em sociedade. Os seres humanos deram um passo mais além da barbaridade e da bestialidade. Mas a bestialidade ficou retida. Já Aristóteles o havia pensado ao falar da pólis. E Thomas Hobbes atualizou-o ao assegurar que, sem coação, exercida a partir de cima, a humanidade estaria condenada a uma vida horrível.




E assim os católicos, costumavam, antigamente, mandar os filhos à catequese, com um livrinho na mão chamado catecismo. Nós, as crianças, chamávamos “Doutrina”. E a primeira coisa que aprendíamos era que havia pecados. No catecismo líamos que tínhamos uma mácula na nossa alma por via de Adão e Eva.

E então a senhora catequista ensinava que havia sete pecados capitais, ou mortais, e sete virtudes correspondentes: à soberba opunha-se a humildade; à avareza a generosidade; à inveja a caridade; à ira a doçura; à luxúria a castidade; à gula a temperança; à preguiça a solicitude.

Se o estado e graça não fosse recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, éramos excluídos do Reino de Cristo e então teríamos a morte eterna no inferno, já que possuíamos livre-arbítrio. Mas, por outro lado, ainda havia outros pecados, mas mais leves, que não causavam a perda do estado de graça. No entanto, eram prejudiciais à vida espiritual da pessoa. Chamavam-se pecados veniais. Comete-se um pecado venial quando não se observa, em matéria leve, a lei moral, ou então, quando se desobedece à lei moral em matéria grave, mas sem pleno conhecimento ou sem pleno consentimento. Quando acontece uma falta, mas que não é contrário ao amor a Deus e ao próximo, tais pecados são veniais. O pecado venial enfraquece a caridade; mostra uma afeição desordenada pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e a prática do bem moral. O pecado venial, deliberado, e que fica sem arrependimento, dispõe-nos pouco a pouco a cometer o pecado mortal. Santo Agostinho disse que: “O homem não pode, enquanto está na carne, evitar todos os pecados, pelo menos os pecados leves". Mas esses pecados leves, não os devemos considerar insignificantes. Um grande número de objetos leves faz uma grande massa; um grande número de gotas enche um rio; um grande número de grãos faz um montão. Qual é então a nossa esperança? Antes de tudo, a confissão.




Onde há coação - onde as pessoas se veem obrigadas a manter um comportamento diferente daquele que as suas inclinações naturais ditam - há insatisfação e dissensão. Porque há um preço a pagar pela segurança e pelo conforto. Em vida civilizada não é pequena a quantidade de satisfação que temos de privar os nossos instintos, se quisermos nos habilitar a um maior resguardo dos perigos que provêm da natureza e dos outros seres humanos. É claro que nunca ficamos satisfeitos com a troca. Por isso, a Civilização foi sempre uma aquisição ambígua, portadora também de maldição. A felicidade padece devido ao atropelo da razão pela paz social.

É explorando a ganância, a carência afetiva, o desejo sexual, a fragilidade de um momento em família, e a vontade de ajudar alguém que os golpistas têm tido sucesso em ludibriar as suas vítimas. A inteligência e a experiência não protegem ninguém. No conto do vigário, na corrupção, a ganância da vítima acaba por lhe ser fatal. Por outro lado, deixar-se iludir por uma figura sedutora, é outra situação. E então, quando a vítima é possuída pelo fenómeno da caridade, é a cereja no bolo. Já o efeito manada é típico dos golpes conhecidos como pirâmides. Se todos estão a ganhar, vou ganhar também.

Apesar de ser notícia diária, as pessoas continuam a cair no engodo. A vítima acaba acreditando, sendo envolvida e se iludindo e, às vezes, perde as economias de uma vida. O golpista, conforme o tipo de golpe, aposta na ganância humana, ou na fragilidade e na carência. O golpista é rápido a agir. A vítima é lenta a pensar. Quando cai em si já é tarde demais.

No caso da sedução, é a vontade da vítima ser amada ou ser desejada que torna a vítima mais vulnerável ao sedutor. O golpista apresenta-se como o príncipe encantado, embora também haja princesas dos contos de fada, que capta a atenção da vítima. As pessoas ao serem seduzidas, sentem-se amadas, e isso é sempre bom. E também existe em algumas pessoas o sentido irresistível da caridade, que é o lado bom. Querer ajudar alguém quem precisa, ou alguém com quem nos importamos, é um fenómeno humano muito presente nas pessoas. E é assim que essas pessoas se expõem demais, tornando-se um alvo fácil dos malfeitores. Boa parte das pessoas é propensa a ajudar alguém. E isso é explorado por predadores, por parasitas, por oportunistas, psicopatas . . .

Sem comentários:

Enviar um comentário