sábado, 17 de agosto de 2019

Algo mais sobre a Suástica

Da peregrinação do artigo anterior, resultou que demos conta que a cruz suástica é um símbolo universal, que se encontra praticamente em toda a parte do mundo, ainda que com algumas variações aqui e ali na orientação e curvatura dos braços. Como tinha dito, a palavra ‘suástica’ vem do sânscrito svtika, que significa “boa sorte” ou “bem-estar”. Talvez represente o movimento do Sol no céu. Até hoje, é um símbolo sagrado no hinduísmo, no budismo, e por aí fora. A ubiquidade deste símbolo pode ser explicada por ser um sinal muito simples, daí se encontrar em todos os tempos e lugares por onde tenha passado o espírito humano. Apesar dessa explicação simples, há teorias como a do entrelaçamento cultural, e a teoria da difusão cultural. A hipótese mais provável é a de que o desenho se tenha desenvolvido ao mesmo tempo em mais do que um lugar no Neolítico, sem necessidade de difusão. 

Quase todas as grandes sociedades através da história usaram este símbolo – maias, celtas, judeus, cristãos, os antigos gregos e romanos. Parece que as tribos nativas americanas, como os Navajo, usavam-na em rituais de cura. Na história europeia, o desenho foi associado a deuses nórdicos como Thor e Odin. Na Ásia, o sinal tinha fortes laços com o hinduísmo e o budismo. Na China assume o significado de número dez mil. No Japão a suástica (卍 manji =万字 é usada para representar templos e santuários em mapas, e continua a ser um dos importantes símbolos religiosos do budismo, orientada para a esquerda representa o amor e a misericórdia (o mais predominante no Japão), para a direita caracteriza a força e a inteligência. 

Devido ao crescente interesse europeu pelas antigas civilizações do Oriente, a partir do século XIX houve uma corrida às escavações arqueológicas. Durante as suas extensas escavações, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann encontrou esse símbolo no local da antiga Troia. A descoberta do grupo linguístico indo-europeu em 1790, bem como as descobertas de objetos contendo a suástica nas ruínas de Troia, tiveram um grande efeito na arqueologia, que pôde unir os povos pré-históricos da Europa com os antigos indo-arianos. O Museu do Vaticano contém várias amostras de cerâmica etrusca com a suástica representada. 

Não tardaram as especulações, desde ser um símbolo religioso de ancestrais remotos dos alemães; outros pesquisadores e estudiosos europeus ligaram o símbolo a uma possível cultura ariana, a qual haveria abarcado a Europa e a Ásia. Assim, no início do século vinte, a suástica estava em grande moda na Europa. Ela possuía inúmeros significados, mas o mais comum era como símbolo de boa sorte e bons auspícios. Mas não tardou que na Alemanha, grupos racistas se apropriassem da suástica como símbolo da identidade ariana, de que os alemães se orgulhavam serem descendentes. Assim os nazis se apropriaram da suástica – Hakenkreuz, i.e. Cruz Gamada – como seu símbolo, no ano de 1920. O símbolo era usado na bandeira, bem como em distintivos e braçadeiras do partido nazi na Alemanha. O conceito de pureza racial, ponto central na ideologia nazi, ultrapassou tudo o que a metodologia científica aceita. 

A seguir à derrota da Alemanha nazi em 1945, os governos dos países Aliados legislaram tornando ilegais as organizações nazis. Os seus símbolos e a sua propaganda foram removidos e a sua disseminação foi criminalizada. Os subsequentes governos alemães do pós-guerra continuaram a banir os símbolos nazis e a sua propaganda, incluindo a suástica. Hoje, na Alemanha e em outros países europeus, apesar de ter ressurgido a ideologia nazi – os chamados neonazis – exibir publicamente símbolos nazis, inclusive pelas redes sociais, é proibida por lei e os indivíduos que violem tais disposições legais estão sujeitos a ações judiciais. Nos Estados Unidos, a pretexto de ser protegida a expressão livre, não é ilegal exibir símbolos e propaganda nazi. Por conseguinte, a suástica nazi é mais um epifenómeno nesta galáxia simbólica.

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