segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Sinestesias


O compositor Alexander Scriabin era tido como um sinestésico. Assim como Olivier Messiaen, ou o pintor Kandinsky, também exemplos de artistas sinestésicos, encontravam equivalências entre som, cor e sentimento.
Em 1997, Vilayanur S Ramachandran, neurocientista do Centro do Cérebro e da Cognição da Universidade da Califórnia, e Edward Hubbard, atualmente na Universidade de Wisconsin-Madison, iniciaram em 1997 uma investigação sobre a sinestesia. A dificuldade estava em encontrar pessoas assim, dada a sua baixa incidência, na melhor estatística 1/ 2.000. 
No início desse ano letivo, com uma turma de 300 alunos tentaram a sorte. Estando o anfiteatro cheio, Ramachandran disse: “Certas pessoas que se consideram normais afirmam poder ver sons ou números coloridos. Por exemplo, uma diz que quando vê o “sete” escrito a preto numa folha de papel branco vê o vermelho; e com o “cinco” vê o azul. Outra pode dizer que é para o “três” que vê vermelho e para o “dois” que vê o azul. Se alguma de vocês experimenta isso, por favor levante o braço”. 
Ninguém levantou o braço. Ramachandran ficou dececionado. Quando ele e Hubbard já estavam a conversar no seu gabinete depois da aula, bateram à porta. Eram duas estudantes. Uma delas disse: “Sou uma dessas pessoas que falou no anfiteatro, doutor Ramachandran. Não levantei o braço porque tive vergonha. Tive medo que os meus colegas pensassem que eu era maluca. Eu não sabia que havia outras pessoas assim como eu, ou que essa condição tinha um nome.” Este é um, entre muitos, dos problemas que os cientistas do cérebro têm pela frente quando se propõem estudar certas extravagâncias humanas. Com muitos a dizer por aí que têm visões de Elvis, ou dobram colheres com a mente, não estão para arriscar o ridículo, preferindo varrer para debaixo do tapete as bizarrias em que o nosso cérebro é fértil.
Ramachandran descreve que, entre as muitas bizarrias sensório-percetivas, as sinestesias mais frequentes são as que associam a visão de cores com sons musicais. As sinestesias consistem em experiências sensoriais raras que certos indivíduos experienciam associando sensações de um sentido à de outro. Apesar de haver aqui um traço genético, isso deve-se ao facto de anatomicamente os centros da audição nos lobos temporais estarem próximos das áreas da cor no lobo occipital e centros da cor mais elevados. Antes de nascermos o cérebro “tem tudo misturado”, passo a expressão. E após o nascimento começa o processo de poda ao nível de muitas ligações neuronais, a fim de estruturarmos as nossas receções sensoriais nos seus devidos lugares. Mas há uma mutação genética em que essa poda não se faz com eficiência. E por isso os sinestésicos conservam muitas das ligações intrauterinas, com ativações cruzadas entre áreas que deviam funcionar sem interferência mútua. 

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