domingo, 18 de agosto de 2019

Um passeio pelo Românico




Bravães – Ponte da Barca, para ver um cordeiro místico esculpido na pedra, encimado por uma cruz orbicular, e muito mais imagens que podem contar diversas histórias. O templo de São Salvador de Bravães é uma joia do Românico Português, do século XII, passe as controvérsias acerca das datações.

 

Ali se terão instalado monges de São Bento, colocados já depois de D. Afonso Henriques, sob proteção direta da Ordem do Templo. Estes monges beneditinos estavam sujeitos à primitiva regra do Monte Cassino. Por volta do século XIII o cenóbio passou para as mãos dos monges de Santo Agostinho. Em meados do século XV o cenóbio foi secularizado pelo arcebispo de Braga.

Os colunelos e as respetivas arquivoltas do pórtico formam um conjunto absolutamente notável em termos artísticos, e não menos surpreendente nas suas conotações esotéricas de influência orientalizante.




Arnoso – Entrámos na estrada Braga/Famalicão, nº 14, perto da Cruz, para observar o tímpano sobre a porta principal do Mosteiro cujo primitivo templo havia sido mandado construir por Frutuoso, bispo de Dume, em Braga, em pleno período visigótico, século VII. A traça atual remonta à reconstrução do século XI, após ter sido destruído pelos mouros. Na foto acima vê-se a cruz orbicular, que há quem lhe chame cruz pátea (derivada do francês croix pattée significando cruz patada).



Rates – Póvoa de Varzim, Igreja Românica de São Pedro de Rates

Igreja Românica de Rates, constitui um dos mais importantes monumentos românicos medievais no então emergente reino de Portugal, dada a relevância das formas arquitetónicas e escultóricas, e um dos mais importantes mosteiros beneditinos clunicenses.



O edifício atual é resultado da refundação clunicense do século XIII, graças à doação do Mosteiro de Rates ao Priorado ligado à Ordem de Cluny, feita pelo Conde Dom Henrique de Borgonha, para que ali fosse implantada a Regra Beneditina.



Até 1552, a igreja guardava o Corpo de São Pedro de Rates antes de este ter sido transferido para a Sé de Braga. São Pedro de Rates seria um bispo ordenado por Santiago Mata-Mouros e decapitado quando celebrava uma missa. Um eremita chamado Félix deu sepultura ao corpo mutilado e decomposto do bispo.


O acesso ao templo faz-se pelo imponente portal axial de cinco arquivoltas e arcos de volta perfeita, inserido na fachada ligeiramente assimétrica e contrafortada.



Rio Mau – Vila do Conde, Igreja de São Cristóvão

Esta descrição é de José Saramago: "Realmente um templo muito simples com a força estética que de súbito sufoca e oprime o viajante. No tímpano do pórtico, vê-se ao centro a figura do báculo, que se diz ser Santo Agostinho; mais duas outras menores e uma ainda mais pequena que parece uma criança enfaixada segurando a Lua com os braços levantados; e a ave e o Sol por cima da cabeça."



Lembrando-me que na Idade Média Rio Mau e Rates estavam alinhados pelo Caminho de Santiago, voltámos a Rio Mau. A representação do ‘Agnus Dei’, que se vê na foto a seguir, com a cruz orbicular a sair da perna esquerda levantada do cordeiro, é estranha! E ainda mais a cabeça do cordeiro que mais parece a de uma serpente. Esta figura vê-se melhor quando se sai do templo e se olha para o tímpano pelo lado de dentro.




Na realidade a figuração da capela-mor é riquíssima, com uma variedade impressionante e desconcertante de símbolos. Por exemplo: numa coluna à direita temos um personagem com um escudo e uma espada em forma de ‘tau’. Noutro lado encontramos quatro figuras, uma delas tem a mão sobre o coração e não tem barba nem cabelo. E ao lado outra parecendo estar a tocar viola medieval. Noutro capitel uma ave está ladeada por duas figuras canídeas em posições inverosímeis, cujo simbolismo desafia a nossa mente racional.



Tudo isto deve estar relacionado com cultos esotéricos em plena Idade Média de tradições muito anteriores à entrada do cristianismo romano na Península. É preciso lembrar que de início a maior parte do cristianismo no ocidente peninsular era um cristianismo herético. Um deles era o priscilianismo, pregada por Prisciliano e derivado de doutrinas gnóstico/maniqueístas ensinadas por Marcus, um egípcio de Mênfis. Prisciliano, (340-385), oriundo da Galiza, teve grande influência aqui. Acabou por ser condenado pela Igreja oficial, romana, por heresia e a prática de rituais mágicos. Em 385 é decapitado em Tréveris após confissão sob tortura.

 



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