quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Santo Graal




É uma expressão medieval que designa normalmente o cálice usado porJesus na última Ceia e onde, na literatura, José de Arimateia colheu o sangue de Jesus durante a crucificação. Mas este nome também aparece nas sagas celtas e nos mitos do Rei Artur e na busca dos cavaleiros da Távola Redonda. Na Idade Média a lenda cristianizou-se. Teria sido a própria Maria Madalena que guardou o cálice e o levou para França onde passou o resto de sua vida. A lenda tornou-se popular na Europa nos séculos XII e XIII, fixada nos romances de Chrétien de Troyes, particularmente através do livro "Le Conte du Graal" publicado por volta de 1190, e que conta a busca de Parsifal pelo cálice. Parsifal é descrito como o filho da Dama Viúva, designação que se tornou estimada pela Maçonaria. Robert de Boron, entre 1200 e 1210 escreve a versão mais popular da história, já com todos os elementos da lenda como é conhecida hoje: Roman de L'Histoire du Graal. 

Os romances do Graal eram originalmente provenientes da corte do conde de Champanhe, que estava intimamente associado com a fundação da Ordem do Templo. Mas na literatura o Graal entra numa diversidade de contextos de grande confusão e mistificação. Por exemplo, Godofredo de Bolonha descendia de Lohengrin, o Cavaleiro do Cisne. E Lohengrin era filho de Parsifal. Guilherme de Gellone, governante do principado medieval no sul de França durante o reinado de Carlos Magno, é o herói de um poema de Wolfram von Eschenbach, conhecido como Willehalm. Diz-se que Guilherme estava associado à família do Graal. Parece assim assim ser a única figura das obras de Wolfram cuja identidade histórica pode efetivamente ser determinada. Parece que Wolfram se está a referir a uma família real. 

Na literatura medieval, a procura do Graal representava a tentativa por parte do cavaleiro de alcançar a perfeição. Em torno dele criou-se um complexo conjunto de lendas relacionadas com o rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda para obtê-lo e devolver a paz ao reino. Misturam-se elementos pagãos e cristãos relacionados com a cultura celta. 

O Graal não passa de literatura medieval, apesar de se reconhecer que alguns personagens possam realmente haver existido. Uma grande coincidência foi as lendas do Graal terem vindo à superfície no auge das Cruzadas. Uma mistura de acontecimentos que envolvem o reino franco em Jerusalém; os templários estavam no pico d seu poder; e a heresia cátara estava a ganhar u impulso que ameaçava verdadeiramente o monopólio do cristianismo em Roma. Em 1209, um exército de cerca de trinta mil cavaleiros e soldados a pé, da Europa do Norte, desceu como um furacão sobre o Languedoque, a zona montanhosa que faz parte hoje do sul de frança. Na guerra que se seguiu, todo o território foi devastado. Quando a Cruzada acabou, o Languedoque tinha sido completamente transformado em barbárie, tal como era caracterizado o resto da Europa. Nessa altura o Languedoque não fazia parte do que oficialmente é a França. Era um principado independente, cuja língua e cultura tinham mais a ver com a Catalunha e Aragão do que com a França. O principado era governado por famílias nobres, sendo a casa dos condes de Toulouse e a poderosa casa de Trencavel as mais importantes. E dentro dos limites deste principado florescia uma cultura que, na época, era a mais avançada e sofisticada da Cristandade, excetuando naturalmente Bizâncio. A instrução era tida em elevada consideração, o que não acontecia na Europa do Norte. Floresciam a filosofia e outras atividades intelectuais como a poesia. Estudava-se o grego, o árabe e o hebraico. E em Lunel e Narbonne prosperavam escolas devotadas à cabala (a antiga tradição esotérica do judaísmo). 

Nas representações de José de Arimateia em vitrais de igrejas, ele aparece segurando não um cálice, mas dois frascos ou galheteiros". Independentemente da veneração popular, esta referência é fundamental para o entendimento do simbolismo do Santo Graal. No século XV esta tradição assumia claramente uma grande importância para indivíduos como o rei René d’Anjou, que colecionava “taças Graal”. 

Avalon é a mítica ilha das macieiras onde vivem os heróis e deuses celtas e onde teria sido forjada a primeira espada de Arthur - Excalibur. Na Cornualha, o nome Avalon - que em galês se refere à maçã - é relacionado com a festa das maçãs, celebrada durante o equinócio de outono. Acredita-se que Avalon é Glastonbury, onde tanto Arthur como Guinevere teriam sido enterrados. A abadia de Glastonbury, onde repousaria o casal, é tida também como o lugar de conservação do Graal. 

A primeira referência literária ao Graal é "O Conto do Graal", do francês Chrétien de Troyes, em 1190. Tratava-se de um poema inacabado de 9 mil versos que relata a busca do Graal, da qual Arthur nunca participou diretamente, e que acaba suspensa. Um mito por si só, "O Conto do Graal" é uma obra de ficção baseada em personagens e histórias reais que serve para fortalecer o espírito nacionalista do Reino Unido, unindo a figura de um governante invencível a um símbolo cristão. 

José de Arimateia foi, portanto, o primeiro custódio do Graal. O segundo teria sido seu genro Bran. No final da sua vida Bran terá sido decapitado e a sua cabeça levad apar aLondres como um talismã.Algumas seitas sustentam que o Ciclo do Graal não estará fechado enquanto não aparecer o terceiro custódio. Esta resposta parece vir com "A Demanda do Graal", de autor desconhecido, que coloca Galahad como único entre os cavaleiros merecedor de se tornar guardião do Graal. 

Toda a história é mudada quando contada pelo alemão Wolfram von Eschenbach, quase ao mesmo tempo que Boron. Em "Parsifal". Eschenbach coloca na mão dosTemplários a guarda do Graal que não é uma taça, mas sim uma pedra: "Sobre uma verde esmeralda. Ela trazia o desejo do Paraíso: era objeto que se chamava o Graal"! Para Eschenbach, o Graal era realmente uma pedra preciosa, pedra de luz trazida do céu pelos anjos. Ele imprime ao nome do Graal uma estreita dependência com as forças cósmicas. A pedra é chamada Exillis, Lapis exillis ou Lapis ex coelis, que significa "pedra caída do céu". 

É a referência à esmeralda na testa de Lúcifer que representava seu Terceiro Olho. Quando Lúcifer, o Anjo de Luz, se rebelou e desceu aos mundos inferiores, a esmeralda partiu-se e a sua visão passou a ser prejudicada. Um dos três pedaços ficou em sua testa, dando-lhe a visão deformada que foi a única coisa que lhe restou. Outro pedaço caiu ou foi trazido à Terra pelos anjos que permaneceram neutros durante a rebelião. Mais tarde, o Santo Graal teria sido escavado neste pedaço. Compare o Graal-Pedra de Eschenbach com a não menos mítica pedra Filosofal que transformava metais comuns em ouro, homens em reis, iniciados em adeptos. Matéria e transmutação, seres humanos e sua transformação. 

O Graal-Taça é tido como um episódio místico e o Graal-Pedra como a matéria do conhecimento cristalizado em uma substância. Já o Graal-Livro é a própria tradição primordial, a mensagem escrita. Em "José de Arimateia", Robert d Boron diz que "Jesus Cristo ensinou a José de Arimateia as palavras secretas que ninguém pode contar nem escrever sem ter lido o Grande Livro no qual elas estão consignadas, as palavras que são pronunciadas no momento da consagração do Graal". Em "O Livro da Tradição", no capítulo referente ao Graal, encontramos interessantes referências aos espetaculares fenómenos desencadeados pelas esmeraldas e por outras pedras verdes. 

É lógico que esta explicação física para o Graal não exclui a existência de um Graal espiritual e místico do qual o objeto material seria o reflexo. Ao final, pergunta-se: qual a natureza do Graal? Cálice, Pedra ou Livro? A base pagã foi exaustivamente explorada por James Frazer em “The Golden Bough”: um ritual relacionado com o ciclo das estações a morte e o renascimento do ano. Tanto na mitologia irlandesa como galesa, há repetidas referências à morte, renascimento e renovação, bem como um processo regenerativo semelhante em relação à terra.

Sem comentários:

Enviar um comentário