sábado, 30 de novembro de 2019

A carícia do vento



Através da saúde, apercebemo-nos de que tocamos cada vez mais em toda uma série de questões escaldantes que constituem o problema de fundo da nossa época.

Não podemos viver de boa saúde num planeta doente. É aqui que a saúde se confunde com a ecologia global. É desanimador saber que por mais dinheiro que atiremos para cima do Serviço Nacional de Saúde, nunca vamos conseguir estancar a hemorragia, se ao mesmo tempo não mudarmos de vida. É no sorvedouro de recursos que a nossa vida de consumo descontrolada de coisas que não são de todo essenciais à vida, que está a dar cabo da pouca saúde que ainda nos resta. O maior problema de saúde com que nos confrontamos é um problema de saúde pública, que tem a ver com o nosso estilo de vida desregrado. Só a partir do questionamento da vida que queremos ter é que faz sentido depois falar na água potável, na indústria agroalimentar, nas radiações, nos pesticidas ou fertilizantes. A indústria agroalimentar vai muito rapidamente ver-se obrigada a alterar o seu sistema destruidor do ambiente, e ao mesmo tempo da saúde pública.

No século XXI, as plantas continuam a ser uma arca de tesouro para a química médica. Existem milhares de espécies cujas propriedades terapêuticas ainda não foram exploradas. Atualmente, são cada vez mais as alternativas à medicina convencional ocidental, em que a utilização de “remédios” à base de plantas, que existe há milhares de anos, tem recebido por parte da gente comum uma grande simpatia. Os seres humanos sempre usaram as plantas para fins medicinais. E ao fim e ao cabo, as substâncias que no século XX foram consideradas revolucionárias, como a aspirina, morfina e até fármacos para a “cura” do cancro, eram extraídos de plantas. Hoje prevalecem as suas versões sintéticas, e um outro paradigma que resultou da revolução molecular e engenharia genética.

Independentemente dos grandes avanços científicos na medicina, a verdade é que a humanidade, em relação ao problema da saúde, parece que não saiu do sítio em que estava há 5.000 anos, quando já usava extratos da papoila dormideira para fins analgésicos. Ainda hoje, a codeína e a morfina, os seus dois princípios ativos, são substâncias que em grande escala proporcionam ao ser humano o melhor – tratar a dor crónica em doentes de cancro terminal; e o pior – no âmbito do tráfico da droga e da toxicodependência. As plantas e os micróbios sintetizam muitos compostos, conhecidos por metabolitos secundários, que utilizam para se defenderem. Ora, esses compostos têm frequentemente uma atividade biológica que pode ser explorada para fins medicinais.
Aqui no Ocidente, quando se fala em médicos da Antiguidade, vem-nos logo o nome de Hipócrates. Não lhe tirando mérito, a verdade é que há mais médicos notáveis e ainda mais antigos. Falemos, por exemplo de Imhotep, ou de Hua Tuo.

Imhotep é a primeira figura médica a destacar-se nas brumas da Antiguidade. Vejam bem, nasceu em Mênfis, Egito, em 2650 a.C., e morreu em 2600 a.C. O que se sabe sobre a vida deste médico foi retirado de textos de vários autores e de inscrições em estátuas que o representam. Viveu durante a III dinastia, e era filho de um arquiteto. É claro que nesses tempos, em que o conhecimento era escasso, quando surgia alguém extraordinário no campo do conhecimento, era um polímato. Sabia de tudo, era um sábio. Por isso foi também arquiteto e construtor da pirâmide em degraus de Sakkara. E também lhe é atribuído o primeiro texto de medicina conhecido, ou o mais antigo de que há memória. É o papiro de Edwin Smith. Bom, ainda que não passe de lenda, é obra. De resto, não pode haver provas consistentes de que tenha praticado medicina. Qualquer que tenha sido o seu percurso, uma coisa é certa: era tão respeitado que se tornou deus. Estátuas, muitas das quais chegaram aos nossos dias, mostram-no como um homem vulgar e depois como deus, usando uma barba e símbolos da divindade. Mais tarde, os governantes gregos do Egito identificaram Imhotep com o seu próprio deus da medicina - Asclépio.

Hua Tuo, nasceu em Quão, na China, em 110. É tido como o primeiro cirurgião do mundo. Morreu em 207, em Luoyang, China. Consta que foi o primeiro a utilizar anestesia. Anestesiava os seus pacientes com um pó de nome "mafai san". Proficiente em acupuntura, praticou também ginecologia e obstetrícia. Terá sido o primeiro médico a tratar uma apendicite através da cirurgia abdominal. Viveu durante a dinastia Han, um dos grandes períodos da História da China. Abria o abdómen, removia a parte atingida, limpava a cavidade abdominal, cosia a incisão e aplicava um unguento à base de ervas para ajudar a cicatrizar a ferida. Hua Tuo era tauista e não procurava fortuna nem fama. História ou lenda, foi executado quando o governador do estado de Wei desconfiou que o queria assassinar quando lhe propôs uma cirurgia devido a suspeita de tumor cerebral. Seja como for, a morte de Hua Tuo assinalou o fim de uma era na medicina chinesa. A cirurgia deixou de ser praticada na China até tempos recentes, teve que ser introduzida por médicos ocidentais. A ladainha era que ia contra os ensinamentos de Confúcio


A anestesia geral só foi introduzida no Ocidente, e de novo no mundo conhecido, em 1846, quando William Morton começou a utilizar o éter no Massachusetts General Hospital, em Boston.

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