segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Chartres


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Vale a pena fazer uma visita noturna à Catedral de Chartres. Por isso é aconselhável ir dormir a um hotel local. Recomendo o Best Western Premier Grand Monarque Hotel & Spa. Aterrar em Paris e depois: ou ir de comboio até Chartres por 10 €; ou ir de carro tomando a A10 e A11, 91 Km que se fazem numa hora e um quarto. 




É claro que não é uma visita prática de se fazer sozinho. É uma visita guiada a pensar em grupo e paga-se. Por isso, para nos integrarmos num grupo, temos várias hipóteses, para além de o hotel facilitar as coisas: através do Posto de Turismo de Chartres – Maison du Saumon – 8 rue de la Poissonnerie; ou entrar em contacto com a Catedral, através da internet ou por telefone, e reservar o hotel depois de saber se naquele dia é possível. O preço do bilhete da entrada que pode depender do número de pessoas, vai desde 3,20 € por 25 minutos; 45 minutos já custa 4,20 €, e um mais longo, cerca de 70 minutos, custa 6,20 €. 



O guia da noite, que é sempre um homem talhado para o efeito, misterioso, que durante o percurso vai contando histórias e segredos do que se passou por ali. Pelos caminhos subterrâneos da catedral, completamente às escuras, apenas com uma vela que cada um recebe para iluminar o caminho, entra-se na cripta. 

Depois no dia seguinte, de dia, pode visitar a catedral e apreciar os vitrais, que não se paga nada. Está aberta diariamente das 8:30 às 19:30. Ao nos dirigirmos em direção à fachada principal da catedral, para além de ficarmos impressionados com a verticalidade e majestade da arquitetura gótica, chama-nos a atenção o facto de as torres não serem iguais. E é assim porque uma representa o sol e a outra a lua.




O interior impressiona tanto pelos 37 metros de altura que alcança a nave central como pela harmonia de elegantes proporções, embora infelizmente já se tenha perdido a maioria da estatuária original. No piso da nave central, há um grande labirinto junto à entrada da fachada principal, do lado oeste, com 261,55 metros de extensão e quase 13 metros de diâmetro. É um caminho formado por 11 círculos concêntricos, representado no chão do edifício por exatamente 365 pedras brancas e 273 pedras negras fazendo uma alusão ao ano solar e lunar, com uma rosa no centro. Ao percorrê-lo, o indivíduo pode ter a impressão de que irá perder-se, mas sempre chegará ao centro. É uma representação do caminho simbólico que leva o homem a Deus. Como simbolismo da peregrinação a Jerusalém, muitos fiéis o percorriam de joelhos. Nessa caminhada, de aproximadamente 1 hora, o andar circular constante leva a pessoa a perder suas referências de espaço e tempo, entrando, no que se acredita ser um estado de meditação, aquietando sua mente e encontrando a paz. A chegada ao centro era o momento da conexão do peregrino, já purificado e preparado, com as energias celestes. 



Chartres é famosa pela miríade de figurinhas simbólicas na pedra, e também pelos seus vitrais, mais de 150, que narram passagens do Novo e do Velho Testamento. Ocupam uma superfície de 2.600 metros quadrados – considerada a maior superfície do mundo em vitrais. Alguns representam temática laica, e ilustram a construção da catedral. 80% dos vitrais ainda são os originais. O tom de azul utilizado é tão peculiar, e resistente ao tempo, que recebeu o nome de “bleu de Chartres”. Os seus vitrais se mantiveram intactos e a arquitetura sofreu pequenas alterações desde o século XIII. O interior da catedral, não sendo muito iluminado, faz com que os seus vitrais fiquem ainda mais nítidos para o visitante depois de ter estado longas horas na escuridão. 

Chartres está repleta de história e misticismo. A catedral, protótipo do estilo gótico da Europa, foi construída sobre uma antiga igreja românica. Começou a ser construída em 1020 e foi inaugurada em 1064. Em 1194, a catedral foi devastada por um incêndio. Foi feita uma reconstrução completa da sua nave e do coro. A maior parte da catedral atual foi construída entre 1194 e 1250. Durante a Revolução Francesa, a catedral foi quase destruída por uma multidão num ato contra a religiosidade e, neste mesmo período, as placas de bronze do labirinto foram retiradas, derretidas e usadas para fins militares. Em plena Baixa Idade Média, em disputa com Santiago de Compostela, era um dos lugares de excelência para os peregrinos da Europa que não tinham possibilidades de ir à Terra Santa. O peregrino não entrava na catedral pela porta principal, antes o fazia pela cripta, com o intuito de se purificar. Na cripta, ele rezava para a imagem da Virgem Negra e bebia a água do poço subterrâneo, que tinha a fama de realizar milagres. O peregrino ficava ali durante horas ou até dias em oração até se sentir harmonizado e purificado para então sim, subir até à catedral. Na realidade, a cripta faz parte da igreja românica anterior à construção da catedral, e, portanto, a sua arquitetura é diferente, sendo um local escuro propício à meditação introspetiva.



O poço – o Poço Druida – que segundo alguns autores já existia antes de os celtas ali se instalarem, assenta sobre um mound (termo celta) numa confluência de veios subterrâneos de água sob a forma de um leque aberto. Mound significa colina onde se concentram forças telúricas de grande potência, chamadas dewouivre (ou vril). Há aqui muitas semelhanças com os sítios equivalentes da Grécia Arcaica, como é o caso do templo de Delfos. Aqui, eram os “vapores” que emergiam, e que colocavam as pitonisas num diferente estado de consciência. Acreditava-se que as correntes de wouivre do mound de Chartres atuavam no ser humano como centelha inicial de um processo transformador de consciência.Na base deste poço está o quadrado mágico dos druidas, sacerdotes-sábios dos celtas que antigamente de reuniam por aqui.



Outra imagem de Madona Negra famosa na catedral de Chartres é a de Notre Dame-du-Pilier. Ela foi colocada em cima de uma coluna para substituir a imagem destruída num incêndio dentro da cripta (a imagem que existe hoje é uma antiga cópia dela). Na verdade, a imagem policromada de Notre-Dame-du-Pilier era originalmente branca (era conhecida como Notre Dame-la-Blanche) e talvez ela tenha sido colocada dentro da parte de cima da catedral para enfraquecer o culto à Madona Negra que se realizava abaixo na cripta. Mas, por ironia, com a passagem do tempo Notre Dame-la-Blanche também se tornou… negra, porque foi escurecida pela fumaça das velas dos fiéis. E assim eles continuaram a devoção à Madona Negra na figura dela. Notre Dame-sous-Pilier recebeu uma vestimenta feita de tecido, que deu à imagem uma aparência piramidal em forma de sino. 

Dos muitos mistérios ligados a Chartres, e à construção da catedral, reza a lenda que foram os Templários que transmitiram aos seus arquitectos os conhecimentos de matemática pitagórica que iam buscar ao oriente.Os cavaleiros templários, muito ligados à história da construção de Chartres, também abraçaram a veneração da Virgem Negra, mas por outros motivos. De acordo com alguns autores, a Madona Negra também representava a senhora que está oculta, ou Maria Madalena. Nesse oceano de especulações e teorias, é bem possível que esse sincretismo realmente tenha ocorrido em Chartres nos tempos iniciais da cristianização da Gália. Mas se associação da imagem com Maria Madalena é incerta, com certeza há um vínculo estreito entra a catedral e a Ordem dos Templários. Na cripta, vários vitrais em pequenas janelas ainda ostentam a cruz templária e Bernardo de Claraval, um dos inspiradores da Ordem, foi um dos grandes incentivadores da construção da catedral. Filósofos da tradição esotérica, e homens de ciência, reivindicavam a sua afiliação a Pitágoras (o grande iniciado), herdeiro da sabedoria egípcia, detentor de um conhecimento de cunho divino.

As comunidades pitagóricas espalharam-se depois da morte do mestre, perdendo-se assim a coesão original de Crotona. O esoterismo ocidental reportou-se muitas vezes à iniciação e ao segredo dos mistérios. O pitagorismo marcou profundamente o neoplatonismo em determinados domínios entre os quais a metafísica dos números, a crença na vida da alma depois da morte, e o recurso às mediações e à doutrina da analogia. Desta gnose mística resultam uma doutrina da salvação. Num tímpano da Catedral está representado um templário; e no Pórtico ocidental, que se vê na imagem a seguir, está representado Pitágoras.



Seja como for, parece ser verdade não só a ligação entre a Ordem do Templo e os mestres construtores, bem como era ela uma grande financiadora da construção dessas catedrais. Em Chartres, no século XII, havia uma escola que se interessava em primeiro lugar pelo esoterismo, e pela filosofia platónica, que integra elementos da astrologia. Entre as disciplinas ensinadas, conta-se o clássico quadrivium. Um filósofo dessa época que se liga à escola de Chartres, é Alain de Lille. Um verdadeiro esoterista da natureza, na medida em que se dedica a descodificar as assinaturas no seio de um mundo imaginário. A especulação estética e simbólica da escola de Chartres, e a mística da natureza, é o grande influenciador do Renascimento.



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