domingo, 12 de abril de 2020

Angelus Novus


Angelus Novus de Paul Klee, 1920. Desenho em papel a nanquim, aguarela e giz pastel, atualmente fazendo parte da coleção do Museu de Israel em Jerusalém. 
Walter Benjamin (1892-1940) adquiriu o quadro em 1921. Após a morte de Benjamin, que se suicidou em setembro de 1940, Gershom Scholem (1897-1982), um notável estudioso do misticismo judaico, e grande amigo de Benjamin, herdou o desenho. Segundo Scholem, Benjamin tinha uma espécie de identificação mística com o Angelus Novus e incorporou isso em seus escritos sobre o Anjo da História, numa melancólica visão do processo histórico como um incessante ciclo de desespero. Segundo a tradição hebraica, um "Anjo Novo" é criado para executar uma ordem de Deus ou cantar um cântico novo e se extinguir em seguida. Walter Benjamin explica isso na apresentação da revista Angelus Novus: "Uma lenda talmúdica nos diz que uma legião de anjos novos é criada a cada instante para, depois de entoar o seu hino diante de Deus, terminar e dissolver-se no nada. Otto Karl Werckmeister observa que a interpretação de Benjamin sobre o Anjo Novo de Klee fez com que a imagem se tornasse "um ícone da esquerda". O nome e o conceito do Anjo também inspiraram artistas e músicos.

Walter Benjamin
IX - Sobre o Conceito da História
em O Anjo da História
da Assírio & Alvim

A minha asa está pronta para o voo altivo:
se pudesse, voltaria;
pois ainda que ficasse tempo vivo
pouca sorte teria.
(G. Scholem, Grus von Angelus)

Há um quadro de Klee intitulado Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Tem os olhos esbugalhados, a boca escancarada e as asas abertas. O anjo da história deve ter este aspecto. Voltou o rosto para o passado. A cadeia de factos que aparece diante dos nossos olhos é para ele uma catástrofe sem fim, que incessantemente acumula ruínas sobre ruínas e lhas lança aos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e reconstituir, a partir dos seus fragmentos, aquilo que foi destruído. Mas do paraíso sopra um vendaval que se retém nas suas asas, e que é tão forte que o anjo já as não consegue fechar. Essa tempestade impele-o irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o monte de ruínas à sua frente cresce até ao céu. Este vendaval é o que chamamos progresso.

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