sexta-feira, 17 de abril de 2020

Chile - mundo do fim do mundo



A morte de Luís Sepúlveda, ontem, levou-me de novo a revisitar as minhas memórias do ano de 1973, quando a minha monitora das práticas de Anatomia Descritiva me narrou as atrocidades que se estavam a passar no Chile depois do golpe militar sangrento que derrubou Salvador Allende. Luís Sepúlveda, que havia aderido ao Partido Socialista Chileno depois de ter sido expulso da Juventude Comunista, encontrava-se no Palácio de La Moneda, a fazer guarda ao Presidente Allende, aquando dos trágicos acontecimentos que levaram à morte Allende, que segundo dizem, ter-se-á suicidado com uma metralhadora que lhe havia sido oferecida por Fidel Castro. Portanto, membro ativo da Unidade Popular chilena nos anos 70, teve de abandonar o país após o golpe militar que levou ao poder Augusto Pinochet, que havia de durar 17 anos.

Tudo isso obriga-nos a pensar como pôde um país, até então democrático, chegar ao ponto a que chegou. Refiro-me à crueldade e sadismo de muitas pessoas que assassinaram muitos dos seus compatriotas após tortura, sem que se encontre uma explicação para isso. É certo que os desígnios marxistas, e as ligações cubanas de Allende, haviam deixado as Forças Armadas num estado de paranoia incomensurável, marcada pelos acontecimentos dos mísseis com ogivas nucleares soviéticos a servir de ameaça ao poder americano, tendo na altura como presidente John Kennedy, no início dos anos 60.

Seja como for, é muito surpreendente como foi possível, ainda para mais Pinochet tudo fez para fazer passar uma imagem de pessoa de bem, católico e pai de família. Pinochet é o protótipo dos líderes políticos maléficos que marcaram a diferença no rumo da História, sem que muito boa gente se tenha apercebido. Ou, ainda mais do que isso, nunca tenham acreditado que tenha sido o principal ordenador das torturas e mortes, em suma da grande carnificina que vitimou muitos chilenos no início da sua ditadura.

Infelizmente, e a propósito, estou a lembrar-me do recente caso do cidadão Ucraniano que foi assassinado após tortura numa dependência do Aeroporto de Lisboa às mãos dos agentes do SEF português. Isto é para estarmos cientes de que todos os países têm milhares de sociopatas que cometem atos tão tenebrosos, ao ponto de nem sequer termos coragem de os descrever, e sem que esses atos lhes tenham sido ordenados por um qualquer princípio patriótico como aqueles que nos são narrados em cenários de guerra bárbaros. Quem já esteve detido, mesmo em países como o Reino Unido e os Estados Unidos, e não é preciso invocar Guantanamo, pode muitas vezes testemunhar o infortúnio que teve com as experiências de sadismo dos guardas prisionais e dos agentes da Lei, sem que tenham recebido ordens específicas para serem sádicos. Imagine-se com seria o comportamento desses agentes caso recebessem ordens explícitas para serem sádicos. Que foi o que se passou no Chile às ordens de Pinochet. 

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