quarta-feira, 22 de abril de 2020

O fim da História não é o fim do Homem: em D. Quixote e Ivan Illitch



Nestes tempos de covid-19, como ele se sentia uma pessoa madura, admitia pensar que o seu fim podia estar próximo. As lágrimas tinham-lhe secado e o rosto apresentava-se desanuviado, quase alegre, preparado para o combate: “É preciso um Estado forte. O reino dos homens está a sobrepor-se ao reino de Deus. Está a gerar-se uma confusão de palavras e de poderes, que põem em causa o equilíbrio milenar que nos trouxe até aqui”. Alguém disse que se sentia um zombie. Primeiro foi o Tomás com um glioblastoma, do qual não viria a morrer deste, mas de um carcinoma pulmonar cinco anos depois. A seguir o pai. Depois o Eugénio. Mais tarde o Luís, todos por um carcinoma pulmonar de não pequenas células - Adenocarcinoma. O Nuno foi de causa cardíaca. 

Sentei-me à sua frente, e o meu coração batia tão forte que até parecia que era eu que ia ser informado de algo terrível. “Você está com um problema sério”, comecei, “mas é possível tratar dele. Está com um tumor. E”, acrescentei, “cada caso é um caso, e cada um reage de forma diferente." A luta de cada um é diferente, e a guerra nunca acaba. Ia ser uma provação, a cirurgia não era a melhor opção. Passado três meses lá estava eu sentado a seu lado, ele num sofá e eu noutro. Ele a contar-me histórias passadas no passado, e eu a dizer-lhe que não havia problema. Fez quimioterapia e radioterapia. Aguentou isto tudo como se nada fosse. Mantinha um apetite de leão. Cada um vive de forma diferente. A luta de cada um é diferente, e a guerra nunca acaba.

É um clássico, as várias fases de Kübler Ross. A quarta fase é a da depressão e do sentido de perda, da separação da terra e dos bens e do sentimento de que não se cumpriu a promessa, que a semente, afinal, caíra nas pedras. 
O quinto estado é o da aceitação e não se deve confundir com a serenidade de quem se prepara para uma felicidade divina, embora isso possa ocasionalmente suceder. Isto é magistralmente ilustrado em A Morte de Ivan Illitch: 

© Frédéric Bazille [1841-1870] - Ivan Illitch

“Antes do último suspiro acabou a morte. Já não existe mais”. Uma das obras primas de Tolstoi, para uns, uma obra sobre a morte, para outros uma obra que nega a morte. É certamente um retrato implacável da nossa condição. 

Alonso Quijano es el nombre del hidalgo don Quijote, protagonista de la novela Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, que ya al inicio de la obra explica que Alonso Quijano «quiso ponerse nombre a sí mismo, y en este pensamiento duró otros ocho días, y al cabo se vino a llamar don Quijote. [...] Quiso, como buen caballero, añadir al suyo el nombre de su patria y llamarse "don Quijote de la Mancha", con que a su parecer declaraba muy al vivo su linaje y patria, y la honraba». Otros nombres o apodos de Alonso Quijano que van apareciendo a lo largo de la narración son: el Caballero de la Triste Figura, que le pone su propio escudero Sancho Panza, o el Caballero de los Leones, con el que se autointitula don Quijote tras su hazaña con los leones (segunda parte, capítulo XVII). Finalmente, en su pueblo se le concede el apellido de Alonso Quijano, el Bueno.

Cervantes temia os pintores e os artistas em geral, e implorava: “Retratem-me como quiserem, mas não me maltratem." Em duas passagens diferentes fala do pintor Orbaneja, a quem, quando perguntam ao pintor o que pintava, respondia “o que sai”. Se por acaso pintava um galo, escrevia por baixo, em bela letra gótica, “isto é um galo”, para que não pensassem que era uma zorra! 

A jornada está recheada de encontros, despedidas, episódios pícaros, misteriosas personagens, uma extraordinária abundância de patología traumática, de feridas incisas e contusas, e um incontável número de ossos partidos, tudo rapidamente sarado por um miraculoso “bálsamo de Ferrabras”, que já teria sido usado para embalsamar Cristo. Uma panaceia composta de dezenas de substâncias, entre as quais a carne de víbora. É bom lembrar que Cervantes era filho de médico. Mas é curioso que todas essas curas milagrosas se operavam sem a intervenção de médico ou cirurgião barbeiro:
“É um bálsamo cuja receita trago na memoria […] Se alguma vez me vires cortado ao meio, como é frequente acontecer, só tens que apanhar a parte que cair ao chão e, com muita delicadeza, antes que o sangue gele, colocá-la cuidadosamente em cima da outra parte, encaixando-as correctamente; de seguida dar-me-ás a beber dois tragos do bálsamo de que te falei e verás como fico logo são como um pêro”.
A morte de Dom Quixote é admirável pela serena resignação do herói. Já não era mais Dom Quixote de la Mancha, mas Alonso Quijano, a quem os meus bons hábitos deram o cognome de ‘O Bom’. De facto, Dom Quixote orgulhava-se da sua figura como cavaleiro. A aventura de Dom Quixote é simplesmente a luta da virtude contra um inimigo, o 'Outro’ que ele era. Nessa luta, ele estava, como todos nós, desgraçadamente só. 



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