quinta-feira, 16 de abril de 2020

Da astúcia eufemística


Se a astúcia eufemística não fosse a arte da política, não sei o que seria … o Senhor Presidente sabe do que estou a falar e como as paredes têm ouvidos... falo-lhe, até para me certificar do seu modo de pensar.

Bem me queria parecer que havia alguém por detrás ... diga lá a esse amigo, sem nome, que gostaria de o ver antes de morrer. No ocaso da vida, uma réstia de esperança por estes dias: sair e dar uns passeios de carro. Não expressemos preferência por itinerários, a não ser que nos proponham o mar. E assim foi hoje, com uma diferença: estava extremamente mal disposto, por causa dos cortes à OMS. Brinquei com o motorista, inventei um trocadilho a partir de uma palavra ouvida a uma enfermeira. Quis saber que era feito da primeira dama, que não aparecia há mais de uma semana. Bem, sentia-me lúcido, como há muito não me sentia.

A tosse obrigou-me a fazer uma pausa, quando ia falar da sua astúcia política, quer para os assuntos da política interna, quer da ordem internacional. Ele comentou que da missa eu nem sabia a metade. Teria havido conivência de alguém? Talvez. Estas coisas são sempre um tanto obscuras. Neste caso, se bem me lembro, comprovou-se a conivência de um elemento das forças que tinham a segurança a seu cargo.

Ele ia mexendo num paninho de crochet, pousado sobre o braço da poltrona em que estava sentado. Como eu também nada dissesse, pareceu-me que era altura de atacar e perguntar, quer dizer, queria saber o que lhe havia dito o seu amigo, o ilustre Lampeduza. A resposta foi seca. E o brilho do olhar flamejante deu para entender que estava comprometido.

Um amigo meu também me contou que um dia o Senhor Presidente teria feito uma observação, que muito o intrigou. Ao seu amigo, de facto, não escapa nada. Se a política não fosse a arte da astúcia, eu diria que esse homem, às vezes, parecia movido por forças sobrenaturais. Demoníacas, divinas. A cada um, a sua interpretação, claro.

Quando eu quis saber se me autorizava a reproduzir o essencial da nossa conversa, sob a forma de texto, a sua reação foi vaga, algo como um gesto de indiferença. Por isso, aqui estou eu, no silêncio da noite que envolve a casa, a escrever estas frases malucas, numa tentativa esforçada de recriar um outro mundo, para que conste lá no fundo das brumas da memoria. A escrever em desconforto, certamente, pois não poderei deixar de lamentar o desinteresse que o seu gesto implicava. A todas as críticas tem ele conseguido resistir, a todos os ataques que lhe têm sido movidos por toda a oposição do mundo, incluindo o Secretário-geral das Nações Unidas.

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