Não se deve confundir Despersonalização com Perturbação Dissociativa de Identidade, embora muitas das causas sejam comuns. A Despersonalização está intimamente relacionada com a ansiedade. Ambas podem ser desencadeadas pela vivência de uma situação traumática, seja por maus tratos individuais de natureza física ou psicológica, seja em situações de catástrofe ou guerra. A mente passa por um processo inconsciente de dissociação. A Despersonalização é uma perturbação ao nível do processo interpretativo que, todavia, não atinge o nível do delírio ou alucinação das psicoses. E não está relacionada com múltiplas personalidades, não alterando o nível da consciência do Si. A Despersonalização pode ser desencadeada por pânico/ansiedade/medo. A Despersonalização é a alteração do sentido que a pessoa tem a respeito de si própria; enquanto a Desrealização é a alteração da forma como a pessoa perceciona a realidade do mundo exterior, mas não tem afetada a sensação a respeito de si própria (do self). Contudo, as duas perturbações podem ocorrer em simultâneo na mesma pessoa. Entretanto, na classificação DSM-IV , Despersonalização e Desrealização estão fundidas na mesma entidade, encarando-as como o mesmo problema.
Na Despersonalização a pessoa geralmente afasta-se do seu círculo social; pode passar a identificar-se com outro nome; e as perturbações da memória são muito estranhas. Passado o conflito que deu origem à perturbação, que normalmente não ultrapassa no máximo cerca de um mês, a pessoa retorna à sua vida anterior. Há relatos de casos de sobreviventes de um acidente de aviação. Verifica-se geralmente uma amnésia para o acidente, em que são recordados apenas os instantes antes que antecederam o início da entrada em pânico. A memória, no entanto, retém os acontecimentos, podendo ser recuperados pelo psicólogo em sessões de psicoterapia, como se fossem arrancadas a ferros do inconsciente. A hipnose tem sido o método que tem dado melhores resultados. A pessoa pode sentir-se como um autómato ou como se estivesse a sonhar. Pode passar por aquele estado muito relatado nos casos rotulados "Near Death Experience", em que ele se vê como se estivesse fora do corpo. Pode sentir vários tipos de anestesia sensorial; ausência de resposta emocional a estímulos padronizados; ou uma sensação de não conseguir controlar as próprias ações, incluindo a fala. Uma vez que a despersonalização pode ocorrer associada a outras perturbações mentais, esta variante da Despersonalização pode passar despercebida aos profissionais, sejam psiquiatras ou psicólogos.
A pessoa tem perfeita noção do que se está a passar consigo. Algo de errado está a acontecer, podendo ver figuras liliputianas ou gigantones (micropsia ou macropsia), pode apresentar fotossensibilidade (sentir-se ofuscado e incomodado com a luz). Outras características associadas incluem uma perturbação do sentido do tempo. A pessoa sente-se desapegada dos seus amigos e familiares, começa a sentir o mundo de uma forma diferente e irreal, bem como um grande vazio no seu íntimo, como se a sua personalidade se lhe tivesse sido arrancada do corpo. Na fase inicial, instauram-se, por vezes, sintomas depressivos. Associado aos sintomas depressivos, muitas vezes estas pessoas passam por sintomas de personalidade obsessivo-compulsivo. As pessoas com determinado tipo de literacia, são elas a fazer o diagnóstico a si próprias. A forma como uma pessoa despersonalizada perceciona e sente a realidade é de tal modo extraordinária que muitas vezes só se consegue lá chegar através de metáforas.
O ponto central da Despersonalização é a sensação de se estar desligada do mundo como se, na verdade, estivesse sonhando. O indivíduo que experimenta a despersonalização tem a impressão de estar num mundo fictício, irreal, mas tem a noção disso. Por seu turno, com a desrealização há alterações da perceção mas não do pensamento, como acontece nas psicoses, em que o indivíduo não distingue a ficção da realidade. Na despersonalização o indivíduo tem preservado o sentido da realidade. Estudos neurofisiológicos têm apontado para uma ativação da região interna do córtex pré-frontal e de uma diminuição da atividade do sistema límbico e amígdalas. Os pacientes conseguem indicar a significância ou a emoção que normalmente teriam em relação a certa pessoa ou a certo objecto, contudo não conseguem senti-los. Esta discrepância entre o que se espera sentir e o que se sente provoca grande sofrimento nas pessoas despersonalizadas. Ao contrário de patologias orgânicas, as pessoas têm plena noção do que deveriam sentir e não sentem. Os casos com as duas perturbações presentes em simultâneo - despersonalização e desrealização - Não conseguem lidar bem com o mundo à sua volta. Sentem-se distanciadas daquilo que as rodeia, sendo difícil falarem e ligarem-se a outras pessoas. Podem sentir que já não nutrem sentimentos por outras pessoas que lhes são próximas. A pessoa parece que já não se sente como sendo uma pessoa normal e isso acarreta um grande sofrimento. Podem acordar a meio da noite, com um ataque de pânico. Ocorrem nas fases de transição de consciência, na mudança entre os diferentes estágios do sono.
O tratamento farmacológico para este tipo de perturbações é muito limitado. A psicoterapia ainda é a que resulta melhor, apesar de as respostas variarem bastante de paciente para paciente. De um modo geral, consegue-se algum grau de alívio. A recuperação completa é possível para muitas pessoas, especialmente para aquelas cujos sintomas ocorrem em ligação com qualquer stress identificado durante o tratamento. De resto, em geral, as melhoras espontâneas decorrem de forma gradual e progressiva.
Existencialistas usam o termo num contexto diferente.
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