sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Estar ou não preso no tempo



Enquanto sonhamos a dormir, todas as noites, perdemos a noção que temos do tempo. Aquele tempo quando fazemos as nossas atividades rotineiras do dia-a-dia. Como quando dizemos: "Agora não tenho tempo"; "Ainda bem que chegaste a tempo do programa"; Despacha-te, que já estou atrasada". Mas não é apenas no nosso cérebro que acontece quando perdemos a noção do tempo na fase do sonho. A fuga à ordem do tempo também pode acontecer fora do nosso cérebro, seja em determinadas situações da vida humana, seja na natureza com outros animais.

No relato que se segue, no contexto de seis paraquedistas a saltarem em queda livre para formarem uma estrela antes de abrirem os paraquedas, não se percebe como foi possível o último paraquedista evitar o choque com outro paraquedista que o precedeu no salto. Não chocar com o seu colega quando ainda descia em queda livre. Há um procedimento fundamental depois de saírem do avião num mergulho vertical de cabeça para baixo, e de agarrarem as mãos uns dos outros para formar a figura de uma estrela: aos 3500 pés de altitude todos os saltadores devem separar-se, afastar-se o máximo possível da formação, e depois disso, cada um deve agitar os braços para dizer que vai abrir o paraquedas, ao mesmo tempo que olha para cima para se certificar de que não tem ninguém acima de si, e então puxa o cordão. 
Naquele dia, que podia ter sido fatal, as coisas não correram como de costume, quando o 6º paraquedista, em queda rápida em direção à formação dos primeiros quatro que saltaram, viu que o quinto saltador se estava a  aproximar dessa formação depressa demais. O sexto seria o último a juntar-se ao grupo para formarem a estrela de seis pontas. Portanto, o quinto saltador, aproximou-se de forma brusca e precipitada do limite exterior da formação, o que obrigou todos os outros a largarem-se inesperadamente caindo de modo descontrolado. 
Então o que se viu foi o 6º paraquedista inclinar o corpo para se afastar do grupo, e tratar de abrir o paraquedas para uma descida previamente calculada em dois minutos. Mas, para sua surpresa, o 5º saltador estava a vir na sua direção com o colorido paraquedas a sair da sua mochila. Esse paraquedas a abrir-se numa brisa de 190 km/h formada em volta do 5º paraquedista a descer, obviamente iria fazê-lo subir num esticão brusco em direção do 6º paraquedista. Ora, àquela velocidade, o 6º paraquedista não teria mais do que uma  mínima fração de segundo para reagir e não colidir com o 5º companheiro. Escusado será dizer o que aconteceria: braços e pernas arrancados, enfim, uma literal explosão. 
O mais impressionante é que, a uma velocidade daquelas em queda livre, o 6º paraquedista faz o relato de um instante de milésimos de segundo, como se os estivesse a ver em cama lenta. E então ele descreve que quando viu o paraquedas piloto do seu companheiro a abrir-se, ele instantaneamente e de forma instintiva estendeu os braços junto ao seu tronco, esticou o corpo, e mergulhou todo fletido de cabeça para baixo. Esses movimentos fizeram com que ele ganhasse velocidade e passasse à frente do seu companheiro a grande velocidade, mais de 220 pés por segundo. Tudo se passando em milésimos de segundo, dá para perceber que ele não podia ter feito aquilo com uma qualquer decisão pensada, pois não teria havido tempo para isso. Um salto de seis, cujo desfecho podia ter sido um desastre para dois paraquedistas, mas ambos acabaram por conseguir aterrar em segurança. 


Num cardume de peixes, que por exemplo no caso dos arenques pode agregar milhões de indivíduos a ocupar mais de 1 km de extensão, os biólogos especialistas em ictiologia, dizem que é uma forma de inteligência da Natureza a funcionar. Neste caso, é uma inteligência contra predadores. Os peixes, além de contarem com o sentido da visão e audição possuem um sentido extra que permite que eles nadem sincronizados em cardume sem chocarem uns nos outros. Este sentido extra consiste num sistema de canais sob as escamas que se estende da cabeça até à cauda de ambos os lados. Esses canais, com dezenas de pequenos orifícios, por onde a água entra e percorre todo o canal antes de sair, permitem a sinalização de células nervosas que captam a variação da pressão da água, que depois chega ao cérebro por fibras nervosas. Por um sistema de algoritmos naturais, suspeita-se, o cérebro do peixe processa toda essa informação e manda de retorno um estímulo que faz com que o peixe vire, suba, desça e por aí, tudo isso em milésimos de segundo. 

Por outro lado, os peixes segregam um líquido viscoso que reduz o atrito da água no seu corpo, que em grupo o efeito é potencializado de modo a que os que estão no centro do cardume se movam com menor esforço. A forma e disposição lateral dos olhos dos peixes, e sabe-se lá que mais, também deve contribuir para completar esse prodígio dos peixes navegarem em grandes cardumes sem se atropelarem uns aos outros. Sem que haja um líder a comandar as tropas, qual maestro invisível, é o efeito em cadeia que começa nas margens do cardume. Tudo indica que o grupo também gera uma espécie de algoritmo de gestão de energia, de modo a que os peixes do lado de fora do cardume se revezem com os peixes do miolo, de uma forma automática, para que os peixes do exterior, cujo esforço é maior, possam descansar.


Nesta imagem veem-se, numa dança encantatória, que nos hipnotiza, milhares de estorninhos em pleno voo. Uma dança sincronizada que mostra como é a natureza no seu estado puro. Para realizarem estes voos sincronizados, cada estorninho imita a velocidade e movimentos dos sete pássaros mais próximos e reage dez vezes mais rápido do que o milésimo do segundo. Veem-se principalmente no inverno, e pouco antes de anoitecer, quando os pássaros procuram um lugar para dormir. Aqui de novo a mesma teoria científica dos cardumes: esta dança serve também para proteger os estorninhos de outras aves predadoras. 

Há alguns anos, ao estudarem em conjunto os bandos de milhares de estorninhos que sobrevoavam os céus de Roma, um grupo de investigadores de diferentes países chegou a uma explicação surpreendente. Com a ajuda de máquinas de filmar, descobriram que, quando um estorninho muda de direção, os sete estorninhos mais próximos copiam o seu movimento; cada um desses sete afeta mais sete e assim sucessivamente. Como os pássaros vão assumindo a posição do pássaro anterior, nasce uma espécie de onda. A mensagem é propagada a uma velocidade tão constante e rápida (aproximadamente 20 a 40 metros por segundo) que o bando nunca se desfaz.

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