quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O veneno: demagogia + hipocrisia



Concordo com a opinião de João Miguel Tavares quando diz: 
Vamos lá explicar o óbvio ululante: não é o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa quem se vacina – é o Presidente da República. Não é o cidadão António Costa – é o primeiro-ministro de Portugal. Se Marcelo ou Costa acham que não devem usufruir de privilégios que são vedados ao comum dos mortais, então ofereçam as chaves do Palácio de Belém ou do Palacete de São Bento ao primeiro cidadão que se atravessar nos seus caminhos, para ele poder ir lá passar um fim-de-semana com a família. E, já agora, coloquem também à sua disposição os Mercedes, os Falcon, os guarda-costas e as dezenas de funcionários que os servem – tudo privilégios de que eles usufruem, e o povo não.
Confesso que fiquei triste sexta-feira passada por Francisco Louçã no seu Tabu ter feito uma nota dizendo que o médico do São João não devia ter sido o escolhido pela simbologia, disse “Ora, escolher o Chefe do Serviço foi um erro. Devia-se começar por baixo e não por cima… criar uma espécie de enunciação de hierarquia é pouco inteligente”.

Olha, ali está um que não é hipócrita, disse alguém que pensa com a sabedoria popular. Uma frase dita por quem estava a ver o debate de todos ao molho, exceto um. É verdade, por muito que nos possa envergonhar, quanto mais educado se é com as boas maneiras civilizadas, mais inevitável se torna a pessoa ser obrigada a tornar-se num hipócrita. O indivíduo diz com toda a simplicidade o que o coração lhe dita. E a juíza diz: “o senhor é um mal-educado”. O indivíduo diz a verdade verdadinha, tal qual. E o juiz diz “a senhora sabe bem o que está a dizer ? Não se diz indivídua; não se diz sujeita; muito menos sujeitinha. 


Demagogia é um termo de origem grega que significa "arte ou poder de conduzir o povo". É uma forma de atuação política na qual existe um claro interesse em manipular ou agradar a massa popular, incluindo dizer que somos todos iguais, nem o presidente nem o primeiro-ministro devem estar acima de alguém. Exemplos que muito provavelmente quem o diz nunca realizaria. É uma estratégia político-ideológica que se vale da utilização de argumentos apelativos, emocionais ou irracionais para outros proveitos oportunísticos. Aparentes argumentos de senso comum para ficar bem na fotografia. 

Hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não possui, frequentemente exigindo que os outros se comportem dentro de certos parâmetros de conduta moral que a própria pessoa extrapola ou deixa de adotar. A palavra deriva do latim hypocrisis e do grego hupokrisis - ambos significando a representação de um ator, atuação, fingimento (no sentido artístico). Essa palavra passou mais tarde a ter uma conotação moral, visando os fingidores, aquelas pessoas que fazem da vida um palco de representação. Um exemplo clássico de ato hipócrita é uma pessoa denunciar alguém por uma conduta que essa pessoa se tem fartado de a praticar.

A hipocrisia não passa despercebida à sabedoria popular. E está retratada na literatura de todos tempos, desde o início da história humana. Por exemplo, os Evangelhos referem-se especificamente aos hipócritas em várias passagens, nomeadamente quando se referem à seita dos fariseus. Em Mateus, capítulo 23, versículos 13 a 15:
Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.”


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