quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Os inimigos da democracia e seus cúmplices


Milhares de manifestantes apoiantes de Trump, invadindo o Capitólio e alguns deles conseguiram aceder ao interior, apesar de a segurança ter tentado impedir com gás lacrimogénio. Numa destas fotos vê-se que os seguranças armados se preparam para disparar caso manifestantes entrem mesmo na sala onde estão senadores. Inclusivamente, noutra foto, vê-se um apoiante de Trump numa atitude impensável após ter invadido o escritório de Nancy Pelosy. 
No mesmíssimo momento em que liguei o aparelho, um grupo de apoiantes de Trump invadia o Capitólio, acicatados por ele, o ainda presidente até ao dia 20 deste mês de um país democrático, mas que à vista desarmada mais parece uma ditadura governada a ferro e fogo. um homem que foi eleito há quatro anos, mas que politicamente nada o distingue de um dos mais infames ditadores. Independentemente do que o legitima, devemos perguntar onde estão os outros republicanos que respeitam a democracia? Sem dúvida um homem perigosíssimo,, não apenas para os Estados Unidos da América, mas também para todo o mundo, na medida em que figuras como esta, devíamos saber porquê, são dados a contagiar muitos imitadores. Estou a lembrar-me de André Ventura, que poucas horas mais tarde esteve em 'prime time' a debater com o atual Presidente da República, ambos candidatos presidenciais às próximas eleições no dia 24 deste mês. O caso da América não foi tema, mas não teria feito mal, uma oportunidade para confrontar Ventura com o comportamento inadmissível que o seu ídolo continua a ter. Podia ser confrontado com as repercussões do discurso de ódio que ele próprio alimenta aqui. Os grupos de fanáticos que aqui está a criar. 

Sou de opinião que, mal os EUA entrem novamente na normalidade democrática, Trump devia ser processado judicialmente por ter sido o principal instigador à rebelião e à invasão indevida, por parte de alguns arruaceiros, da Casa da Democracia Americana. Inclusivamente, para além de terem destruído portas e janelas do Capitólio, vimos nas imagens alguns dos manifestantes transportarem nas suas mãos objetos simbólicos do Parlamento, para além de quase todos serem portadores de volumosas mochilas às costas. O que tinham dentro essas mochilas? Nada de bom, presumo!

A América não pode ficar impávida e serena. As lideranças cúmplices do Partido Republicano também devem ser responsabilizadas e pedidas explicações quanto ao aproveitamento oportunista deste monstro para uso dos seus próprios interesses. U monstro populista que ameaçou a própria república. Esta é a última oportunidade para os republicanos honrarem Lincoln e fazerem a coisa certa, porque a democracia americana está sob ataque. Donald Trump não desiste de  boicotar o caminho de Joe Biden para a Casa Branca. Nem os mais pessimistas previam uma invasão ao Capitólio no exato momento em que o Congresso se preparava para validar o voto dos grandes eleitores de todos os Estados. Esta insurreição, promovida por Donald Trump, exige do Partido Republicano uma demarcação muito clara. 

O objetivo da turba 
era impedir à força a certificação da eleição de Joe Biden pelos congressistas. Partiram vidros, vandalizaram as instalações, tiraram fotos indecorosas e trouxeram para a Casa da Democracia americana a bandeira da Confederação, fação sulista e esclavagista derrotada na Guerra Civil do século XIX. Horas antes da sessão Trump anunciou na Casa Branca: “Vamos marchar até ao Capitólio!”. E ficou a assistir. Só após horas de violência, com a sessão parlamentar suspensa e os representantes do povo levados para local seguro, lançou um vídeo no Twiter a pedir aos sequazes que fossem para casa. Não deixando e lançar o mesmo tipo de provocações que há meses tem lançado incessantemente: “Amamos-vos, sois muito especiais”. “A eleição foi roubada”. 

Intermezzo: por cá prosseguem na televisão os debates entre candidatos às eleições Presidenciais. E também não deixa de preocupar o que se ouve sair da boca de um dos candidatos que se tem declarado fã de Trump. Até uma pivô moderadora não quis acreditar no que estava realmente a ouvir do candidato da extrema direita palavras com atrocidades de igual calibre trumpista. A dizer que se for presidente não será presidente de todos os portugueses. Não será presidente dos coitadinhos. Hipócrita, como se estivesse revoltado contra a condição humana, quando disse numa tirada à doutor Fausto, que o que queria era a alma dos portugueses. Não consigo imaginar o vapor de água retido na Regi, para que as coisas continuem a parecer o mais normal possível. E não, nada disto é normal. A imagem do homem fica-nos cravada como um espinho. É penoso, um espinho que nos dói. Nada é mais preocupante do que não podermos fazer nada. Não conseguimos fazer-nos ouvir sem as câmaras, para dizer que não somos todos da sua igualha. Mandá-lo voltar para trás, para o século XII. Para o século XII não, que ainda dá cabo das catedrais. Para a caverna do troglodita, lá estará em sua casa, no paraíso imaculado. O olho do cu, como disse Guillaume Apollinaire.

Disse: "vou dormir". E apaguei o televisor.

Sem comentários:

Enviar um comentário