segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Os paradoxos da inteligência humana



Em vez de ter escrito o rascunho deste texto com um lápis de pau num caderno, escrevi-o num bloco de notas do telemóvel. E até ouve passagens, as mais simples, que experimentei ditar, e o telemóvel escreveu-as na perfeição. Pelo menos desde há 70.000 anos, que o sapiens passou a considerar-se sapiens sapiens, sabendo muito mais do que sabia. Mas parece que a inteligência de hoje não é melhor do que era quando começou a ser sapiens sapiens. Então como foi possível chegar onde chegou? A resposta está no facto de o homo sapiens ser uma criatura gregária que facilita a aprendizagem de uns com os outros. A agricultura foi inventada em sete sítios de forma independente, isto é, sem que em nenhum deles tenha sido por cópia de algum dos outras. Tudo se passou em diferentes partes do globo há mais ou menos 10.000 anos. E a escrita foi inventada há 5.000 anos, também de raiz em pelo menos quatro sítios diferentes, de forma independente. Mas já a máquina a vapor só foi inventada uma vez, e espalhou-se rapidamente por todo o mundo.
A primeira máquina a vapor relatada, foi a bola de vento criada por Heron de Alexandria há 2.000 anos. Em 1698, Thomas Savery, engenheiro militar inglês, criou um motor que poderia ser utilizado dentro das fábricas, sendo considerado uma das evoluções iniciais da revolução industrial. Em 1712, Thomas Newcomen projetou uma nova máquina que poderia ser utilizada dentro de minas de carvão, a qual, apesar de mais lenta que as anteriores, podia tanto elevar água quanto cargas mais pesadas, com a vantagem de dispensar os cavalos, animal que até aí era utilizado com custos elevados. Em 1769, Joseph Cugnot inventou um triciclo movido a vapor. Todavia, foi no ano de 1777 que o motor a vapor mais importante foi inventado por James Watt. 

Hoje ninguém seria capaz de fazer um telemóvel sozinho. A especialização significa que no geral os avanços já não têm muito a ver com a vida de cada um separadamente. Individualmente quase não temos controlo algum sobre nada. Estes telemóveis são, sem dúvida, o bom exemplo de máquinas acessíveis a qualquer pessoa, como eu, que pode despender de 180 euros para comprar uma máquina inteligente. Claro, artificialmente inteligente. Artificial quer dizer que não é natural. Artefacto é tudo aquilo que tem mão humana. Não há nada de natural na inteligência dos aparelhos que tornam a nossa vida tão eficiente e confortável. Nem há nada de natural na sua construção. Contudo, a Inteligência Artificial (IA) está ainda muito longe de emular a inteligência humana. É que não há inteligência humana sem o ser e o sentir, que tem a ver com aquilo que costumamos definir por sensações, sentimentos e afetos.

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